Com um discreto pano preto amarrado por baixo do capacete, Zahra e Masomah Alizada percorrem as sinuosas rodovias campestres da Bretanha francesa, felizes em voltar a treinar depois de um Ramadan particularmente caloroso.
Com 19 e 20 anos, as duas irm�s afeg�s, apelidadas de "pequenas rainhas de Cabul", s�o as l�deres da sele��o nacional de ciclismo feminino do Afeganist�o.
Refugiadas na Bretanha, no oeste da Fran�a, com os pais e mais tr�s irm�os, as duas fugiram dos insultos cotidianos, das amea�as e dos atentados para viver a paix�o pelo ciclismo. O pai, oper�rio do setor de constru��o, apoiou as filhas.
"No Afeganist�o, os homens acham que n�o � conveniente uma mulher montar numa bicicleta. Os talib�s nos proibiram de praticar esporte. Aqui � muito f�cil. Homens e mulheres praticam o ciclismo", conta Masomah.
Assim como as companheiras de equipe, as irm�s Alizada foram ousadas o bastante para subir em bicicletas em p�blico, em um pa�s onde nenhuma mulher deveria se atrever a isso. Em especial se fizerem parte da minoria xiita hazara, como elas, que costuma ser alvo de sequestros e de atentados.
"Nunca renunciei � bicicleta. Pelo contr�rio, quero estimular as mulheres a usarem e popularizar o ciclismo feminino no Afeganist�o", defendeu Masomah.
Depois de experimentarem o taekwondo, o v�lei e o basquete, as meninas se encantaram pelo ciclismo.
"Na bicicleta, voc� tem uma sensa��o de liberdade, de que ningu�m lhe diz que voc� n�o pode fazer isso, ou aquilo, porque � uma mulher. � extraordin�rio, voc� se sente como um p�ssaro", diz Masomah.
O pai nunca cedeu �s press�es: sempre quis "ser um bom exemplo para outros pais, mostrando que homens e mulheres t�m os mesmos direitos", acrescenta a jovem.
- Objetivo: Jogos Ol�mpicos
Exilada no Ir� sob o regime talib�, a fam�lia Alizada teve o pedido de asilo negado 20 vezes. A aventura francesa foi fruto do acaso. Em 2016, as irm�s acabaram participando de uma prova de ciclismo em Albi, no sul da Fran�a, que � qualificat�ria para os campeonatos mundiais.
� tamb�m a hist�ria de um encontro com outros grandes amantes do ciclismo, a fam�lia Communal, que conheceu o caso Alizada por um document�rio transmitido na televis�o.
O av�, o pai e o neto Communal receberam a fam�lia em sua casa de campo de Gu�henno, na Bretanha, e criaram uma associa��o para arrecadar fundos.
No povoado, seis aposentadas se organizaram para dar cursos de franc�s, enquanto a vizinha "fazia pequenos favores, dando carona, ou mostrando as verduras da regi�o".
Segundo Therry, filho de Communal, "o objetivo � mesclar ciclismo e estudos. Elas precisam ser inscritas na universidades, mas tamb�m � preciso integrar os pais" na sociedade. Em junho, apresentaram um pedido de asilo para a fam�lia.
Esse professor de Engenharia Civil se declarou surpreso com o n�vel das jovens ciclistas e espera poder inscrev�-las em um clube, onde poderiam treinar de duas a tr�s horas por dia.
Agora, Masomah e Zahra esperam acompanhar ver de perto uma etapa do Tour da Fran�a. No futuro pr�ximo, sonham com entrar no grupo classificado para as Olimp�adas de T�quio 2020 e, por que n�o, "conseguir a primeira medalha para o esporte feminino afeg�o".