Um guerreiro contra a corrup��o end�mica no Brasil ou um moralista que criminaliza a pol�tica? Todas essas imagens s�o atribu�das ao juiz S�rgio Moro, que ganhou as manchetes de todo o mundo ao emitir o mandado de pris�o do ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva.
Em julho ele j� havia condenado o l�der da esquerda brasileira a nove anos e meio de pris�o por corrup��o passiva e lavagem de dinheiro. Uma condena��o confirmada em segunda inst�ncia e uma senten�a ampliada para 12 anos e um m�s em janeiro.
E na quinta-feira (5) apertou o cerco, ao intimar Lula a se entregar em um per�odo de 24 horas em Curitiba, ber�o da Opera��o 'Lava Jato', refer�ncia mundial da luta contra a corrup��o em suas diferentes frentes - falsificar licita��es, desviar dinheiro, esvaziar os cofres das companhias p�blicas e comprar apoio pol�tico.
O in�cio de tudo estava na Petrobras e a partir dela ca�ram imp�rios, como o da empreiteira Odebrecht.
Passaram por seu julgamento supostos intoc�veis das finan�as e da pol�tica, de esquerda, centro e direita, aqueles que n�o gozavam de foro privilegiado gra�as a seus cargos ministeriais ou legislativos.
E Lula se tornou sua maior presa.
- Lula: 'Moro estava condenado a me condenar' -
O interrogat�rio ao qual submeteu Lula em maio de 2017 foi um confronto entre dois universos que, no Brasil, parecem completamente distantes entre si: o que est� saturado pela corrup��o e o que est� indignado pela mis�ria.
"Senhor ex-presidente, eu queria deixar claro que, embora existam algumas alega��es nesse sentido, da minha parte n�o tem qualquer desaven�a pessoal em rela��o ao senhor ex-presidente. Quem vai definir o resultado [do julgamento] s�o as provas e a lei", afirmou Moro, antes de iniciar o interrogat�rio do fundador do Partido dos Trabalhadores.
Quando perguntado se se sentia respons�vel pelo esquema de propinas montado na Petrobras, Lula respondeu: "doutor Moro, o senhor se sente respons�vel de a Opera��o 'Lava Jato' ter destru�do a ind�stria da constru��o civil nesse pa�s? O senhor se sente respons�vel por 600 milh�es de pessoas (sic) que perderam emprego no setor de �leo e g�s e da constru��o civil? Eu tenho certeza que n�o".
Ap�s ser condenado como propriet�rio de um tr�plex oferecido pela construtora OAS para ganhar licita��es na petroleira, Lula afirmou: "o juiz S�rgio Moro, ref�m da m�dia, estava condenado a me condenar. Os procuradores, presas de uma megalomania, asseguram que o Partido dos Trabalhadores queria o poder para roubar".
O momento cara a cara entre essas duas figuras antag�nicas no Brasil come�ou em mar�o de 2016, quando Moro ordenou que a pol�cia revistasse a casa de Lula em S�o Bernardo do Campo e o levasse em condu��o coercitiva a depor.
Naquele mesmo m�s, o juiz divulgou uma conversa entre o ex-presidente e sua sucessora, Dilma Rousseff, que sugeria a sua nomea��o ao minist�rio para que pudesse contar com foro privilegiado, protegendo-se, assim da Justi�a comum.
Lula foi nomeado, mas nunca p�de assumir.
"Eu, sinceramente, estou assustado com a Rep�blica de Curitiba. Porque a partir de um juiz de primeira inst�ncia, tudo pode acontecer nesse pa�s", afirmou Lula em uma conversa por telefone grampeada e divulgada com a autoriza��o do pr�prio magistrado.
Em uma entrevista � AFP em mar�o, Lula criticou a "for�a-tarefa" dos investigadores da 'Lava Jato', afirmando que, "na verdade, querem criminalizar a pol�tica".
- 'M�os Limpas' -
Moro nasceu h� 45 anos na cidade paranaense de Maring�, e ali se formou em Direito, tornando-se juiz em 1996. Doutor e professor universit�rio, completou sua forma��o na respeitada Universidade de Harvard.
� admirado por muitos de seus pares, que o definem como um juiz preparado, r�pido e decidido. Seus detratores o consideram abusivo no uso das pris�es preventivas e das dela��es premiadas.
Fascinado por decifrar os caminhos do dinheiro sujo, o astro da Justi�a brasileira sempre foi encantado pela hist�rica Opera��o "Mani Pulite" ("M�os Limpas"), que desarticulou a complexa rede de corrup��o que dominava a It�lia nos anos 1990.
A imagem de um juiz preocupado com um mundo mais justo se viu manchada este ano, quando justificou o pol�mico aux�lio-moradia que todos os magistrados recebem, embora morem em casas que s�o suas nas cidades em que trabalham.
Esse subs�dio, declarou, "compensa a falta de reajuste dos vencimentos desde 1� de janeiro de 2015".
Moro � casado com Ros�ngela Wolff, fervorosa defensora de seu marido nas redes sociais, com quem tem dois filhos.