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Estado de Minas

Quem s�o os paramilitares que atacam os manifestantes na Nicar�gua?


postado em 04/06/2018 16:24

Os manifestantes antigovernamentais entrincheirados na cidade nicaraguense de Masaya n�o sabem ao certo quem est� disparando contra eles, mas seja quem for, essas pessoas est�o bem treinadas e disparam para matar.

O terror dominou essa cidade durante todo o fim de semana. Os residentes, armados com morteiros caseiros, lutaram contra a pol�cia e os paramilitares, que acusam de saquear e incendiar a cidade.

Com paralelep�pedos, m�veis, chapas de metal e qualquer outra coisa ao alcance, constru�ram barricadas em quase todas as ruas dessa cidade de pouco mais de 100.000 habitantes.

At� agora tiveram sucesso nos combates contra as for�as de seguran�a do presidente Daniel Ortega desde que come�aram os protestos contra o governo, em 18 de abril. Mas n�o podem fazer muito em rela��o aos franco-atiradores que, segundo dizem, atacam de posi��es na �rea do centro da cidade.

"Atiraram em um vizinho meu no peito nessa manh�", disse no �ltimo s�bado Jonhatan Jos�, de 47 anos, em entrevista � AFP no mercado de artes�os, agora incendiado.

"Foi um franco-atirador, pelo tipo de buraco. Grande.", declarou.

- Caos em Man�gua -

Do outro lado do mercado, que os residentes acusam a pol�cia de choque de ter incendiado, Arm�n Garc�a, manifestante que usa um peda�o de tecido vermelho como m�scara, diz que "n�o h� nada o que fazer" se voc� v� um franco-atirador.

"S�o pessoas preparadas, especializadas, com tiros letais. S�o na cabe�a, abd�men, t�rax", diz Garc�a, de 37 anos.

Na capital, Man�gua, a 40 minutos de carro de Masaya, h� mais informa��es, respaldadas por v�deos, de franco-atiradores vestidos de civis que matam manifestantes.

S�o mostradas at� provas de que esses atiradores se posicionam no Est�dio Nacional de Beisebol, al�m de outros pr�dios. Teriam disparado dali contra a multid�o durante a manifesta��o da �ltima quarta-feira, liderada pelas m�es dos mortos pela viol�ncia, em que morreram 16 pessoas.

Desde que come�aram os protestos, em abril, pelo menos 110 pessoas morreram, segundo o Centro Nicaraguense de Direitos Humanos (Cenidh).

A Anistia Internacional (AI) denunciou que as autoridades nicaraguenses usam grupos paramilitares para reprimir os manifestantes.

O presidente Ortega negou que tanto a pol�cia quanto o ex�rcito tenham disparado contra civis.

M�dicos que trabalham na Nicar�gua denunciaram a grupos de Direitos Humanos que muitas feridas vistas nas v�timas coincidem com as causadas pelo rifle Dragunov do franco-atirador, segundo informa��o do jornal local La Prensa.

- Restos da Guerra Fria -

Desenvolvido na ex-Uni�o Sovi�tica, o Dragunov chegou � Nicar�gua em larga escala depois da guerrilha sandinista de Ortega instalar um governo comunista ap�s derrubar o ditador Anastasio Somoza em 1979.

Se transformou na arma das unidades irregulares do ex�rcito e das for�as contrainsurg�ncia que rapidamente se viram envolvidas em outra guerra contra os Contras, grupos rebeldes financiados pelos Estados Unidos visto como uma amea�a � chegada dos comunistas ao poder em uma zona que considerava seu quintal.

Durante a d�cada de 1980 muitas pessoas foram treinadas para utilizar o rifle Dragunov, segundo o comandante Roberto Samcam, ex-guerrilheiro sandinista que comandava unidades de contrainsurg�ncia.

Transformado hoje em cr�tico de Ortega, Samcam afirma que mesmo que o Dragunov seja um rifle de franco-atirador, quase qualquer soldado pode usar a arma.

"Requer uma per�cia especial se for utilizado para atingir um alvo ao longe e em um momento que esteja claramente definido. Mas se voc� vai atingir algu�m em uma manifesta��o de 100.000 pessoas, n�o precisa de tanta per�cia", disse em entrevista � AFP.

"A mira ajuda a localizar e apontar. A posi��o vantajosa que voc� tem, com uma arma que pode alcan�ar uma dist�ncia de at� 800 metros, para ter um alvo efetivo, permite ter a comodidade para poder fazer o disparo", acrescentou.

Quando Ortega perdeu o poder nas urnas em 1990, muitos de seus antigos camaradas guerrilheiros abandonaram o ex�rcito e levaram suas armas com eles, temerosos de receber ataques dos Contras, ainda que permanecessem leais ao presidente.

O presidente voltou ao poder nas elei��es de 2006 e cumpre o terceiro mandato consecutivo, acusado de manipular os tribunais e da autoridade eleitoral para se manter no poder poe tempo indefinido.

- "Exterminar as pragas" -

Na v�spera da marcha das m�es de quarta-feira passada, chamou esse ex-soldados a "defender a p�tria" e "exterminar as pragas" em v�rios v�deos difundidos nas redes sociais.

"Pragas" � o termo usado pela esposa de Ortega e vice-presidente do pa�s, Rosario Murillo, para se referir aos manifestantes.

As mensagens, segundo Samcam, foram uma chamada aos ex-soldados para que ajudem a reprimir os protestos.

"Essas for�as paramilitares tem sido organizadas e armadas pelo governo, e � responsabilidade de Daniel Ortega", afirmou.

Ironicamente, nessa luta h� um paralelo com a ditadura que Ortega derrubou: Somoza tamb�m foi acusado de usar franco-atiradores para assassinar sua popula��o, e os manifestantes chegaram a cantar: "Daniel, Somoza, s�o a mesma coisa".

Est�o "fazendo exatamente o mesmo que Somoza fazia, at� coisas piores que Somoza", disse uma manifestante de 25 anos, que pediu anonimato.

"Se transformou no ditador contra o qual tanto lutou", acrescentou sobre Ortega.


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