As metas globais que visam afastar o aquecimento planet�rio descontrolado poderiam ser ultrapassadas antes do esperado, conforme os gases liberados pelo derretimento do permafrost amea�am minar os esfor�os humanos para evitar o desastre clim�tico, alertaram especialistas nesta segunda-feira.
Sob o atual plano de resgate, delineado no tratado clim�tico de Paris de 2015, os pa�ses concordaram em limitar o aumento da temperatura global abaixo de dois graus Celsius e, se poss�vel, de 1,5�C.
Esse curso de a��o pressup�e que lidar com os gases de efeito estufa produzidos pelo homem - seja desacelerando suas emiss�es ou removendo-as da atmosfera - ser� suficiente para controlar o aquecimento global.
O que os modelos clim�ticos n�o permitem s�o cen�rios nos quais a Terra come�a a contribuir para o problema, mostra uma nova pesquisa.
Uma equipe de especialistas do Instituto Internacional para An�lise de Sistemas Aplicados na �ustria (Iiasa) disse nesta segunda-feira que incluiu pela primeira vez as emiss�es projetadas do derretimento do permafrost nos modelos globais de mudan�a clim�tica, e os resultados geraram preocupa��o.
"A libera��o de carbono do permafrost � causada pelo aquecimento global e certamente diminuir� o or�amento de CO2 que podemos emitir para permanecer abaixo de um certo n�vel de aquecimento global", disse o pesquisador do Iiasa e principal autor do estudo, Thomas Gasser.
Como a depend�ncia dos combust�veis f�sseis persiste, os cientistas calcularam que � prov�vel que "excedamos" as metas de temperatura do acordo de Paris no curto ou m�dio prazo.
Com apenas 1�C de aquecimento acima dos n�veis pr�-industriais at� agora, o permafrost do mundo j� est� descongelando, ainda que lentamente.
Mas a taxa desse derretimento certamente acelerar� � medida que a Terra continuar a aquecer.
Gasser advertiu que o cen�rio das metas excedidas deixaria o planeta ainda mais vulner�vel �s emiss�es do permafrost e, em um ciclo vicioso, ainda mais aquecido.
Efetivamente, sob alguns modelos considerados no estudo, publicado na revista Nature Geoscience, n�s j� ultrapassamos a meta de 1,5�C como resultado das emiss�es do permafrost.
A ultrapassagem do limite "� uma estrat�gia arriscada, e voltar aos n�veis mais baixos ap�s a ultrapassagem ser� extremamente dif�cil", disse Gasser � AFP.
"Temos que nos preparar para a possibilidade de nunca mais voltarmos a n�veis mais seguros de aquecimento".
- 'Temperaturas mais altas, maior risco' -
O metano e o CO2 retidos nos res�duos congelados da R�ssia, Canad� e norte da Europa s�o aproximadamente equivalentes a 15 anos de emiss�es produzidas pelo homem no n�vel atual.
O problema com os objetivos de Paris, segundo Gasser, � que eles estabelecem metas de emiss�es com base na suposi��o de que a temperatura global e os n�veis atmosf�ricos de CO2 mudam simultaneamente.
Eles, portanto, permitem que os pa�ses excedam as metas com a condi��o de que carbono suficiente possa ser capturado do ar para fazer as temperaturas descerem de novo at� o final do s�culo.
Mas o permafrost est� sujeito ao que os cientistas chamam de "tipping point" (ponto de ruptura), o que significa que al�m de um certo limite de temperatura, ele continuar� derretendo e liberando gases de efeito estufa, em um ciclo de feedback autoperpetuante, independente da queda dos n�veis de emiss�o.
Os modelos n�o responder�o por esses gases de efeito estufa adicionais, principalmente metano e di�xido de carbono.
"Sem nem mencionar o debate sobre se poder�amos ou n�o capturar CO2 em uma escala grande o suficiente, h� tamb�m o risco de que quanto mais alto formos, maior o risco de desencadear algo que n�o entendemos", disse Gasser.
Enquanto o mundo luta para frear a polui��o provocada pelo carbono que amplifica a probabilidade e intensidade de tempestades, ondas de calor e secas mortais, o estudo desta segunda-feira vai aumentar os temores de que a pr�pria Terra poderia sobrecarregar os esfor�os para limitar a mudan�a clim�tica.
Outros poss�veis "tipping points" clim�ticos incluem o derretimento do gelo marinho, que cria �gua do mar que absorve em vez de refletir a luz do sol, e o desaparecimento das florestas - que levaria � libera��o de bilh�es de toneladas de carbono quando a biomassa absorvente de CO2 fosse perdida.