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Estado de Minas INTERNACIONAL

Aos 82 anos, coreano que mora em SP tem o sonho de voltar a Pyongyang


postado em 15/10/2018 09:00

Em 14 de outubro de 1950, pouco mais de tr�s meses ap�s o in�cio da Guerra da Coreia, for�as das Na��es Unidas se preparavam para o que foi noticiado como "assalto final" contra Pyongyang, capital da Coreia do Norte. Nesse mesmo dia, Lee Jung-hoon, aos 14 anos, se preparava para fugir do pa�s com o irm�o, Lee Dong-baik, de 22 anos. A fuga foi realizada com sucesso e hoje, quase 70 anos depois, ele mora em S�o Paulo, no Bom Retiro.

Na �ltima semana, o l�der norte-coreano, Kim Jong-un, recebeu o secret�rio de Estado americano, Mike Pompeo, para discutir a realiza��o de uma segunda c�pula entre Coreia do Norte e Estados Unidos. Assistindo � reaproxima��o de Pyongyang com Seul e Washington, Lee revelou que ainda tem esperan�a de que a unifica��o aconte�a. "� o mesmo povo", disse.

Aos 82 anos, o senhor coreano fala pouco portugu�s, mora sozinho e diz que um dos poucos prazeres de sua vida � comer. Seu irm�o mais velho ficou na Coreia do Sul, os tr�s filhos est�o espalhados pelo Brasil e a mulher morreu h� dez anos. Ele relembra o dia em que fugiu de casa com o irm�o, mostrando um recorte de jornal daquela data. Os dois filhos de uma fam�lia rica de Pyongyang disseram aos pais que voltariam em quatro dias, mas nunca retornaram.

A Coreia do Norte havia completado dois anos de sua funda��o no m�s anterior, mas seus habitantes j� buscavam ref�gio do outro lado da fronteira. "Todos foram para o sul, sempre acompanhando algu�m. Fugiam com a m�e, com um irm�o, com uma irm� mais velha", relembra. "A gente se encontra em Seul. N�o se preocupe", disse o irm�o, que era como um segundo pai para ele. A ordem foi obedecida. Ele saiu de casa sozinho e caminhou at� o Rio Taedong, que divide Pyongyang. As pontes estavam fechadas por causa da guerra e quem quisesse atravessar precisaria entrar em algum tipo de embarca��o.

O coreano tentou entrar em um cargueiro, mas o porto estava lotado. For�as de seguran�a tentavam conter a multid�o. "Estavam disparando tiros", disse. Uma gr�vida caiu no rio em meio � confus�o. Ele tamb�m foi empurrado, mas conseguiu se segurar na lateral da embarca��o e subiu. Quando chegou do outro lado, o destino seguinte era a esta��o de Taedonggang, onde subiu no teto de um dos vag�es de um trem de carga, ajudado por um senhor. A viagem era perigosa. Lee conta que seu colega de viagem, sentado de costas para o trem, n�o viu a chegada de um t�nel e morreu esmagado. Neste momento, o coreano diz ter percebido que "tinha de viver de qualquer jeito".

A viagem de trem durou quatro dias, durante os quais se alimentou de arroz e pequenas refei��es que comprou com suas economias. Ao chegar em Seul, demorou outros quatro dias para achar o irm�o. Eles haviam combinado de se encontrar no escrit�rio de um conhecido. Mais tarde, descobriram que haviam feito a viagem no mesmo trem, mas tinha tanta gente que n�o se viram durante o trajeto.

Com a viagem feita, restava aos dois come�ar a vida em um novo pa�s. Foram para um campo de refugiados, onde recebiam arroz e sal. Depois, se mudaram para Daejeon. Lee trabalhou como vendedor de rua, engraxate, carregou mercadorias para restaurantes.

O irm�o mais velho era membro do Ex�rcito norte-coreano e entrou para o servi�o militar na Coreia do Sul. Ele voltou a estudar e, aos 22 anos, seguiu os passos do irm�o, entrando para o Ex�rcito, onde ficou por quase dez anos. Como militar, ele tinha onde dormir e o que comer. Na Coreia do Sul, formou-se em administra��o e viveu no pa�s pelos 42 anos seguintes, per�odo em que se casou e teve filhos.

Em 2000, Lee se mudou com a fam�lia para Assun��o, no Paraguai, onde ficou por tr�s anos antes de se mudar para S�o Paulo, onde estabeleceu um com�rcio de roupas no Bom Retiro.

Da sa�da de Pyongyang at� a chegada no Bom Retiro, quase 68 anos se passaram. Em 2018, quando a Coreia do Norte comemorou 70 anos desde sua funda��o, Lee viu pela televis�o as reuni�es entre fam�lias separadas pela guerra. Apesar de ter deixado os pais para tr�s, ele n�o se arrepende da decis�o, mas tem vontade de saber o que aconteceu com sua fam�lia e visitar o t�mulo dos pais.

Ele ainda guarda sua �rvore geneal�gica e aponta para os parentes do pai, que era o terceiro de quatro irm�os. No topo do papel, h� um endere�o - o local onde os antepassados moravam. Lee j� se inscreveu para participar das reuni�es familiares antes, mas n�o foi sorteado. Diz que tentar� novamente no ano que vem e, caso seja chamado, � o endere�o no topo do papel que o conduzir�.

As chances s�o dif�ceis. Neste ano, mais de 57 mil sul-coreanos se registraram para os encontros entre fam�lias e apenas 330 foram sorteados. Mas ele n�o se desanima diante das poucas chances de reencontrar sua fam�lia ou mesmo da rara probabilidade de que a reunifica��o aconte�a.

Apesar de reconhecer a dificuldade diplom�tica que envolve a situa��o dos dois pa�ses, Lee tem esperan�a de ver as Coreias unificadas.

"O povo coreano nunca foi consultado (sobre a separa��o)", disse. "Se vou para o Sul como soldado e me mandam entrar em guerra, n�o consigo atirar. Quem est� do outro lado pode ser um primo." As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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