Ao receberem o Pr�mio Nobel da Paz nesta segunda-feira (10), o congol�s Denis Mukwege e a yazidi Nadia Murad pediram o fim da indiferen�a e prote��o �s v�timas de viol�ncia sexual.
O ginecologista de 63 anos e a iraquiana de 25, uma ex-escrava do Estado Isl�mico (EI) que se tornou porta-bandeira de sua minoria, receberam o pr�mio das m�os da presidente do Comit� do Nobel, Berit Reiss-Andersen, que elogiou "duas das vozes mais poderosas do mundo atualmente" contra a opress�o das mulheres.
Durante uma cerim�nia pontuada por ova��es, l�grimas e gritos, no Hotel da Cidade de Oslo, os dois premiados se dirigiram � comunidade internacional e pediram o fim da impunidade para os autores de viol�ncia sexual em tempos de guerra.
"N�o s�o apenas os autores de viol�ncia que s�o respons�veis por seus crimes, mas tamb�m os que escolhem fechar os olhos", afirmou Denis Mukwege em seu discurso de agradecimento.
"Se for preciso fazer a guerra, fa�amos a guerra contra a indiferen�a que corr�i nossas sociedades", completou.
Conhecido como o "homem que conserta as mulheres", o ginecologista trata h� duas d�cadas das v�timas de viol�ncia sexual em seu hospital em Panzi, no leste da Rep�blica Democr�tica do Congo(RDC), regi�o atingida por uma viol�ncia cr�nica.
Em seu discurso com acentos pol�ticos, este cr�tico do regime do presidente Joseph Kabila disse ter visto "as consequ�ncias dolorosas da m� governan�a".
"Beb�s, meninas, jovens mulheres, m�es, av�s e tamb�m homens e meninos, cruelmente violentados, muitas vezes em p�blico e em grupos, inserindo pl�stico em chamas, ou introduzindo objetos contundentes, em seus genitais", relatou.
J� Nadia Murad pediu � comunidade internacional que proteja seu povo e trabalhe pela liberta��o de milhares de mulheres e crian�as que continuam nas m�os dos extremistas.
"Se a comunidade internacional deseja realmente ajudar as v�timas desse genoc�dio (...) deve lhes garantir uma prote��o internacional", declarou esta jovem de 25 anos em seu discurso de agradecimento, pronunciado em curdo na prefeitura de Oslo.
Assim como milhares de mulheres yazidis, Nadia Murad foi sequestrada, violentada e torturada pelos jihadistas ap�s a ofensiva do EI contra esta comunidade do norte do Iraque, em 2014.
Nadia conseguiu fugir de seus sequestradores e, hoje, luta pelas mulheres e crian�as - mais de tr�s mil, segundo ela - ainda mantidos em cativeiro.
"� inconceb�vel que a consci�ncia dos dirigentes de 195 pa�ses n�o tenha se mobilizado para libertar essas mulheres", frisou.
"Se tivesse se tratado de um acordo comercial, de uma jazida de petr�leo, ou de um carregamento de armas, aposto que n�o se teria poupado esfor�os para liber�-las", afirmou.
- "Oligarquia predadora" -
Mukwege tamb�m lamentou que o destino da popula��o congolesa esteja em segundo plano, atr�s da explora��o selvagem das mat�rias-primas.
"Meu pa�s � sistematicamente saqueado com a cumplicidade de pessoas que afirmam ser nossos l�deres", disse ele.
"Saqueado �s custas de milh�es de homens, mulheres e crian�as inocentes abandonados em extrema mis�ria, enquanto os lucros de nossos minerais acabam nos bolsos de uma oligarquia predat�ria", criticou.
Mukwege, de terno escuro, e Nadia, que usava um vestido azul e preto, pediram uma resposta da comunidade internacional.
Para o m�dico, os Estados devem acabar com a impunidade "de l�deres que toleraram, ou pior, usaram de viol�ncia sexual para obter poder", apoiar a cria��o de um Fundo Global de Compensa��o para V�timas de Viol�ncia Sexual e tirar da gaveta um relat�rio da ONU, mapeando crimes de guerra e viola��es de direitos na RDC.
Sob o olhar da advogada anglo-l�banesa e ativista de direitos humanos Amal Clooney, que se juntou � sua causa, Nadia Murad implorou ao mundo por prote��o para seu povo.
"A prote��o dos yazidis (...) � responsabilidade da comunidade mundial e das institui��es internacionais", disse ela.
"Sem essa prote��o internacional, n�o h� garantia de que n�o seremos mais expostos a novos massacres de outros grupos terroristas", insistiu.
O pr�mio consiste em uma medalha de ouro, um diploma e 9 milh�es de coroas suecas (871.000 euros).