O valor de uma casa em um bairro negro dos EUA chega a ser US$ 48 mil menor do que uma propriedade em um bairro branco. A conta, feita em um estudo do Brookings Institution e do Gallup, compara apenas propriedades com caracter�sticas semelhantes e em bairros com mesma infraestrutura. A diferen�a �, portanto, o que os pesquisadores consideram como o "custo racial".
"Ao longo dos anos, a segrega��o afetou negativamente as condi��es dos bairros e a qualidade das casas. No entanto, as diferen�as n�o explicam totalmente os pre�os", argumentam Andre Perry, Jonathan Rothwell e David Harshbarger na pesquisa. Segundo Perry, a propriedade privada est� no centro do "sonho americano".
Partindo do pressuposto de que o im�vel � o maior patrim�nio de uma pessoa, os pesquisadores apontam para o risco de a diferen�a no valor das casas perpetuar a desigualdade social entre negros e brancos.
Somando o valor em cada casa, em m�dia, a perda "acumulada" nas propriedades em bairros predominantemente negros chega a US$ 156 bilh�es, segundo os pesquisadores.
O custo de uma casa em bairro majoritariamente negro, nas �reas metropolitanas, � ao redor de US$ 184 mil. J� a m�dia nos bairros em que os negros s�o menos de 1% dos moradores, � de US$ 341 mil - sem considerar as diferen�as de infraestrutura das regi�es. Nas �reas metropolitanas dos EUA, 10% dos bairros s�o predominantemente negros e nessas regi�es vivem 41% da popula��o negra.
Em Washington, o custo alto de propriedades em bairros predominantemente brancos tem alterado o perfil das �reas residenciais. A capital, que era conhecida como "cidade chocolate", por ter maioria negra, mudou seu perfil demogr�fico, mas manteve a segrega��o racial entre bairros.
Segundo o centro de estudo D.C. Policy Center, 71% da popula��o se definia como "negra" nos anos 70. Atualmente, a porcentagem fica abaixo da metade da popula��o. Desde a d�cada de 70, o "�ndice de segrega��o" entre os bairros oscilou entre 72 e 77 (numa escala at� 100), chegando a 70 nas medi��es mais recentes. A resposta para isso � a mudan�a da popula��o negra para os sub�rbios.
A capital tem ruas que mudam de perfil de acordo com o lado da cidade em que se est� - leste ou oeste. A gentrifica��o � puxada pelo lan�amento de pr�dios de luxo, que mudam o perfil dos servi�os e dos moradores.
Krista DeNovio trabalha em uma das corpora��es respons�veis por construir os complexos residenciais. Moradora de Washington desde 2004, ela diz ter visto uma s�rie de mudan�as. "Notei uma mudan�a nos �ltimos anos em grande parte resultado do desenvolvimento de grandes empresas residenciais, que acabam trazendo mais postos de trabalho, mais lojas e restaurantes para uma �rea", afirma.
Cerca de 25 anos atr�s, dois quarteir�es distante do pr�dio onde Krista trabalha, a rua que hoje abriga uma lanchonete da rede Shake Shack era considerada violenta e uma �rea de venda de v�deos pornogr�ficos. Agora, a regi�o abriga com�rcio, hot�is e turistas.
A rua "H", em Washington, � um dos corredores onde � poss�vel ver a transi��o. No lado sudeste, a rua mudou de cara a partir de 2016 com a inaugura��o de um dos pr�dios, conhecido como Apollo. Piscina no terra�o, mesa de sinuca e academia s�o algumas das amenidades. Quem se mudou para o Apollo diz que o pr�dio trouxe um perfil de com�rcio mais caro e expulsou moradores antigos para regi�es menos valorizadas.
Pre�os x pobres
Linda Lopes nasceu em Washington. A maior parte de sua vida passou na regi�o noroeste da capital americana, onde tinha uma casa. No entanto, em 2011, precisou se mudar. Com o lan�amento de im�veis de luxo, a �rea em que vivia deixou de ser acess�vel.
"Essa era a chamada 'Cidade Chocolate' e hoje n�o � mais. Gosto da diversidade, mas ela trouxe, ao mesmo tempo, casas e servi�os que n�o s�o mais acess�veis a uma parte da popula��o", diz. O apelido "Cidade Chocolate" � em refer�ncia � grande comunidade negra que vive na capital dos EUA. "Eu me mudei para a �ltima �rea a pre�os acess�veis, o sudeste. S� � acess�vel porque sempre teve a reputa��o de um lugar onde voc� n�o gostaria de morar."
A antiga casa onde Linda morou � pr�xima dali, poss�vel de chegar com uma caminhada, mas passou a ser um mundo distante. Hoje aposentada, ela diz ver novos empreendimentos imobili�rios lan�ados no sudeste e aposta que, em breve, precisar� procurar outra casa.
N�o � raro, em Washington, que as pessoas se refiram a uma rua ou bairro como uma regi�o que abrigou um antigo "gueto". S�o regi�es exploradas, nos �ltimos anos, por corpora��es imobili�rias, respons�veis pela mudan�a no perfil da regi�o e dos moradores. � o caso da Rua 14, onde os pr�dios com piscina e churrasqueira na cobertura se acumulam um ao lado do outro.
Howard Barrett � negro e cresceu entre Maryland e Washington. Atualmente, trabalha no noroeste - regi�o que Linda precisou abandonar e onde o aluguel de pequenos apartamentos chega a custar mais de US$ 2 mil ao m�s. "Muitas mudan�as aconteceram. Elas trouxeram mais diversidade, mas deixaram muitos sem teto e mudaram o sentimento de comunidade. � um ciclo de mudan�a pelo qual a cidade passa", afirma Barrett, que � capaz de dizer uma lista de ruas e bairros que mudaram de cara. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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