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Estado de Minas INTERNACIONAL

Desertores denunciam Amea�as do chavismo


postado em 03/03/2019 13:00

O casal desceu com cautela um pequeno rochedo que marca a fronteira entre Brasil e Venezuela. Enquanto Adriana Balleri, de 20 anos, carregava no colo Adranelli, de apenas 1 m�s, sob o inclemente sol de Roraima, o policial Cesar Marcano levava nas costas Cesar Jesus, de 2 anos. A mais velha, Alexandra, caminhava logo � frente.

O oficial Marcano desertou da guarda municipal de Car�pano, a segunda maior cidade do Estado de Sucre - zona portu�ria no leste venezuelano. Subordinada a autoridades chavistas municipais, a pol�cia de Car�pano exige lealdade de seu corpo de oficiais e desconfia de qualquer pedido de baixa ou de f�rias.

Com um sal�rio mensal de 18 mil bol�vares soberanos, o equivalente a R$ 18,24, Marcano n�o conseguia mais alimentar a fam�lia, principalmente os filhos pequenos. Com o soldo, comprava apenas dois quilos de frango para um m�s inteiro. "J� n�o dava para sobreviver. Decidi desertar e tentar a vida no Brasil", conta.

Ele e a mulher deixaram o Estado de Sucre com as crian�as a tiracolo de madrugada, com medo de serem perseguidos. Levaram apenas a roupa do corpo. Na pequena mochila que servia de mala, Marcano carregava s� a roupa das crian�as.

�s vezes em �nibus, �s vezes pedindo carona, passaram pelas cidades de Matur�n, Ciudad Guayana e Eldorado at� chegar a Santa Elena de Uair�n, um trajeto de 944 quil�metros que levou uma semana. Ali, encontraram a fronteira fechada, por determina��o do presidente Nicol�s Maduro. Ent�o, decidiram caminhar pelas "trochas" - trilhas ao longo da fronteira seca cujo percurso varia entre 40 minutos e 5 horas - para chegar ao Brasil.

Marcano � um dos cerca de 600 desertores que abandonaram as for�as militares venezuelanas na �ltima semana, com dire��o ao Brasil e � Col�mbia, depois que a oposi��o tentou entrar com ajuda humanit�ria na Venezuela.

Em sua maioria, eles t�m baixa patente - em Roraima, todos eram sargentos - e est�o insatisfeitos com os baixos sal�rios, a crise, a falta de comida, de rem�dios e a orienta��o de seus superiores para reprimir civis. O maior medo de todos � que algo aconte�a � fam�lia. Ao contr�rio de Marcano, que era policial e servia na cidade onde morava, muitas vezes os militares e oficiais da Guarda Nacional Bolivariana (GNB) s�o deslocados para postos distantes de casa.

Superiores usam press�o psicol�gica contra as deser��es. Muitas vezes, dizem os soldados que romperam com o regime, grupos armados chavistas conhecidos como "coletivos" chegam a rodear as casas de parentes de soldados suspeitos de n�o serem leais ao regime. Amea�as de pris�o e de tortura tamb�m s�o frequentes.

"Eles nos amea�am de pris�o e de tortura, dizem que v�o nos levar ao Sebin (sede do servi�o secreto venezuelano). Isso j� aconteceu com v�rios amigos nossos", disse outro sargento, Jose Antonio Moreno Pe�aloza. "Os coletivos amea�am nossas fam�lias para que n�o desertemos. Al�m disso, eles exigem que a gente reprima os civis."

Para o primeiro sargento Carlos Eduardo Zapata, o moral da tropa est� no ch�o por falta de comida. "N�s, sargentos da Guarda Nacional Bolivariana, estamos dormindo no ch�o, porque n�o temos colch�o. O sal�rio n�o d� para nada. N�o estamos conseguindo pagar nossas necessidades b�sicas. J� n�o temos mais fardas e coturnos. N�o temos nem dinheiro para comprar leite para nossos filhos", afirma. "Temos medo por nossos parentes. Eles amea�am prender nossos filhos ou mat�-los. � assim que atua o governo."

Os desertores contam ainda que, quando o oficial ascende na carreira, geralmente suas promo��es est�o vinculadas � lealdade a Maduro. Quando um capit�o vira tenente-coronel, conta o sargento Jean Carlos Cesar Parra, � obrigado a fazer um curso de forma��o chavista. Dali em diante, o oficial s� progride com base na lealdade � revolu��o bolivariana.

Parra revela ainda que os superiores vasculham celulares e Facebook dos pra�as para ver se est�o contra o governo. "O alto comando militar n�o est� preocupado com os problemas dos venezuelanos, porque v�rios integrantes viraram ministros", disse. "Eles querem nos usar para trabalhar nas fazendas dos coron�is ou como guarda-costas de seus parentes."

A aposta da oposi��o para derrubar Maduro, desde o in�cio das movimenta��es do l�der opositor Juan Guaid�, ainda em janeiro, era provocar uma cis�o nas For�as Armadas Bolivarianas. Al�m do pequeno n�mero de deser��es - cerca de 600 em um universo de at� 365 mil oficiais -, o fato de a maioria ter patentes baixas dificulta uma press�o pol�tica sobre o regime chavista.

A dificuldade em obter deser��es de patente alta e m�dia se d� tamb�m pelo profundo envolvimento dos militares com a economia formal e informal venezuelana, dizem os desertores. "Eles est�o envolvidos com o petr�leo, a minera��o, a corrup��o e o narcotr�fico", afirma o sargento Jorge Luis Gonz�lez Romero, sobre os mais de 2 mil generais das For�as Armadas. "Sempre s�o nomeados para minist�rios e ficam mudando de cargos no governo para seguir ganhando dinheiro."

Analistas veem pouco resultado na estrat�gia opositora, que ofereceu anistia a militares que n�o tenham cometido crimes contra a humanidade. Deser��es de baixa patente n�o s�o novidade. S� no ano passado, 4,3 mil oficiais desertaram da GNB, segundo a ONG Control Ciudadano. Desde 2015, de acordo com a mesma institui��o, 10 mil oficiais pediram baixa das For�as Armadas.

"Ainda que um pequeno grupo de militares de baixa patente esteja desertando, a verdade � que n�o h� ind�cios de implos�o. Maduro ainda d� as cartas", diz Luis Vicente Le�n, do Instituto Datan�lisis. "Os militares t�m dois medos: perder o poder e os privil�gios sem qualquer garantia de prote��o e anistia, e levantar-se contra Maduro, mas a insurrei��o ser insuficiente para derrub�-lo."

"Maduro deve anunciar um aumento de soldo ao Ex�rcito como incentivo de lealdade", afirmou a diretora da Control Ciudadano, Rocio San Miguel, ao di�rio colombiano El Espectador. "As deser��es v�o continuar, mas a c�pula comprometida com os abusos de Maduro deve seguir apoiando o chavismo. Mas com um plano de fuga, porque ningu�m vai se queimar por ele." As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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