Assim como outros sobreviventes do Holocausto, que deixaram a Fran�a e se mudaram para Israel, Samy Gryn acompanha com dor o ressurgimento do antissemitismo no pa�s onde nasceu.
"A situa��o na Fran�a me lembra os anos 1930. Estou realmente preocupado", diz Gryn, de 78 anos, um dos poucos sobreviventes de uma famosa captura de judeus em Paris, durante a ocupa��o nazista.
Os atos antissemitas aumentaram 74% na Fran�a em 2018, segundo cifras oficiais.
"O pa�s parece enfrentar um ressurgimento do antissemitismo, in�dito desde a Segunda Guerra Mundial", destacou o presidente Emmanuel Macron.
A tend�ncia se manteve em 2019, com a profana��o de um cemit�rio judaico no nordeste do pa�s, su�sticas pintadas em v�rios pontos da capital e insultos como as vaias ao acad�mico judeu Alain Finkielkraut na rua por manifestantes do movimento dos "coletes amarelos".
Gryn tinha dois anos quando foi capturado com a m�e e a irm� na pris�o de milhares de judeus do Vel�dromo de Inverno, em julho de 1942, pelas autoridades francesas, que seguiam ordens dos alem�es.
Os capturados foram deportados para campos de concentra��o e s� algumas dezenas voltaram.
Seu pai, de quem n�o tem lembran�as, nem fotografias, morreu na c�mara de g�s em Auschwitz, na Pol�nia ocupada.
Gryn conseguiu fugir da deporta��o e foi escondido por uma fam�lia crist� at� o fim da guerra. Sua m�e e sua irm� tamb�m sobreviveram.
"Eu me salvei. Ainda n�o sei por qu�", afirma.
Gryn mora em Israel h� 50 anos. Decidiu deixar a Fran�a quando chamaram seu filho de "judeu sujo" na escola.
Outros sobreviventes do Holocausto que emigraram da Fran�a para Israel explicaram � AFP sua indiferen�a ante o que ocorre em um pa�s com o qual cortaram la�os.
- "M� dire��o"-
Em 2006, Ilan Halimi, um jovem judeu, foi torturado at� a morte perto de Paris. Em 2012, um rabino e tr�s crian�as morreram em um atentado em uma escola judaica em Toulouse (sul).
Quatro anos depois, em 2015, um extremista que jurou lealdade ao grupo extremista Estado Isl�mico matou quatro pessoas em um supermercado kosher em Paris.
E no ano passado, uma senhora judia de 85 anos foi esfaqueada em casa, antes de lhe atearem fogo, em um crime que se acredita ter sido motivado, ao menos parcialmente, pelo antissemitismo.
Incidentes assim fazem aumentar a sensa��o em Israel de que os judeus franceses est�o em perigo no pa�s que tem a maior comunidade judaica da Europa.
"A hist�ria n�o est� se repetindo, mas seguimos em uma m� dire��o, isto � certo", afirma Gryn.
Shlomo Balsam � o presidente da associa��o israelense Alumim de crian�as judias que sobreviveram ao Holocausto na Fran�a e trabalha como guia no memorial do Holocausto Yad Vashem de Jerusal�m.
"O aumento de atos antissemitas na Fran�a relembra muitas coisas aos sobreviventes", diz. "S�o muito, muito sens�veis ao que est� acontecendo", acrescenta.
"Para muitos de nossos membros, os coletes amarelos evocam a estrela amarela [...] Cada incidente os leva de volta ao seu passado", afirma Balsam.
"Uma idosa judia foi assassinada porque era judia, novamente vandalizam nossos cemit�rios, as imagens de agora se sobrep�em �s do passado", refor�a.
Berthe Badehi, de 87 anos, volunt�ria no Yad Vashem durante mais de vinte anos, conta sua hist�ria v�rias vezes por semana em hebraico, ingl�s e franc�s aos visitantes do memorial.
"Meus pais, de origem polonesa, estiveram na resist�ncia comunista e em 1941 fizeram uma mala pequena para mim e me mandaram com uma fam�lia n�o judia para a Saboia" (leste da Fran�a), recorda.
"N�o guardo rancor dos franceses, devo a eles a minha vida", afirma, mostrando fotos de sua "fam�lia francesa".
Ela tinha 12 anos quando seu pai foi busc�-la, em setembro de 1944.
Berthe Badehi radicou-se em Israel 1956 e agora garante estar "decepcionada ao ver a volta do �dio contra os judeus, como na minha inf�ncia".