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Estado de Minas

Reservas na Amaz�nia mostram ser poss�vel unir preserva��o e desenvolvimento


postado em 09/05/2019 10:52

Aliando ci�ncia e saberes tradicionais para preservar a biodiversidade, e garantindo os modos de vida das comunidades que tiram seu sustento da floresta amaz�nica, a Reserva de Desenvolvimento Sustent�vel (RDS) Mamirau�, a primeira do Brasil, mostra que � poss�vel explorar recursos naturais sem destruir o meio ambiente.

Localizada na regi�o do m�dio Solim�es, 500 km a oeste de Manaus (AM), a reserva Mamirau�, com 1,124 milh�o de hectares (11.240 km�), foi criada em 1996 pelo governo do estado do Amazonas.

"A floresta permite que a gente a use sem afetar ou afetando pouco a forma como funciona. Basta fazer de maneira eficiente, baseada em ci�ncia, nos conhecimentos tradicionais", explica � AFP na pousada flutuante Uakari, dentro da reserva, Emiliano Ramalho, diretor t�cnico-cient�fico do Instituto de Desenvolvimento Sustent�vel Mamirau�.

O instituto � uma unidade de pesquisa contratada pelo Minist�rio da Ci�ncia, Tecnologia, Inova��es e Comunica��es (MCTIC) para gerir, junto com as comunidades locais, a reserva Mamirau� e sua vizinha, a RDS Aman� (de 2.350.000 hectares ou 23.500 km�), criada em 1998.

Situadas no cora��o da Amaz�nia, que abriga a maior biodiversidade do planeta, as reservas t�m esp�cies que estimulam os sentidos. Aves de diferentes cores e tamanhos reproduzem uma sinfonia di�ria enquanto sobrevoam os flutuantes, verdadeiras casas com cozinha, quartos, sala e banheiros, aonde se chega em voadeiras, lanchas r�pidas que s�o os carros das hidrovias amaz�nicas.

Leva-se 40 minutos de voadeira de Tef�, munic�pio mais pr�ximo, � entrada de Mamirau�, e uma hora e meia at� o acesso a Aman�.

Nos rios e lagos, botos-cor-de-rosa (Inia geoffrensis) nadam em grupos, alheios ao tr�nsito das embarca��es.

As vocaliza��es do macaco guariba (Alouatta guariba) s�o constantes do amanhecer ao p�r-do-sol, quando os carapan�s (mosquitos hemat�fagos) atacam os visitantes sem d�.

"A gente tem que mudar essa concep��o de que floresta s� pode trazer benef�cios se for derrubada, se acabar com unidades de conserva��o, se a gente remover ou n�o criar mais terras ind�genas. Essa pluralidade sociobiodiversa � o que faz a Amaz�nia. Sem ela, o sistema n�o funciona", acrescenta Ramalho, lembrando que na floresta amaz�nica vivem 25 milh�es de pessoas.

- Economia amaz�nica -

A legisla��o brasileira prev� dois tipos de unidades de conserva��o: de prote��o integral, onde a ocupa��o � proibida para garantir a preserva��o das esp�cies; e de uso sustent�vel, onde as comunidades podem explorar recursos naturais, assegurando a prote��o da biodiversidade.

As RDS pertencem � segunda categoria. Segundo dados do Minist�rio do Meio Ambiente, existem 39 reservas deste tipo no Brasil, 23 na Amaz�nia.

Concebida para ser uma unidade de prote��o integral, Mamirau� virou uma RDS pela impossibilidade de retirar a popula��o tradicional, sem a qual a gest�o de uma �rea t�o extensa seria invi�vel.

A ocupa��o recente da regi�o, antes habitada por ind�genas, data do in�cio do s�culo XX, durante a explora��o da borracha. Com a queda desta atividade, os seringueiros se fixaram ali, vivendo de agricultura, pecu�ria, pesca e ca�a de subsist�ncia.

Hoje, a reserva Mamirau� tem 200 comunidades com dez mil moradores. Aman�, 125 com 5.026 habitantes. S�o caboclos na maioria, que moram sobretudo em casas flutuantes e palafitas, devido � varia��o do n�vel das �guas, que supera dez metros entre as �pocas de cheia (dezembro a julho) e seca.

Em abril, por ocasi�o do 20� anivers�rio do Instituto Mamirau�, uma equipe da AFP visitou cinco comunidades nas duas reservas.

Seus moradores exploram agricultura e pecu�ria com t�cnicas de manejo agroecol�gico como o pastoreio rotativo e o beneficiamento de frutas nativas, como cupua�u e o a�a�, para comercializa��o da polpa, de valor comercial superior ao produto in natura, al�m de artesanato e pesca sustent�vel.

A experi�ncia-s�mbolo do instituto � o manejo do pirarucu (Arapaima gigas), maior peixe de escamas de �gua doce do mundo, podendo medir tr�s metros e pesar 200 kg.

V�tima da sobrepesca, beirou a extin��o, mas gra�as ao conhecimento dos pescadores para contar os peixes nos rios e lagos da regi�o, avalizada com metodologia cient�fica por pesquisadores, a esp�cie se recuperou e voltou a ser abundante.

Hoje, � pescado de forma sustent�vel, respeitando seu per�odo reprodutivo e cotas pr�-estabelecidas.

Segundo relat�rio do Instituto Mamirau�, em 2018 o manejo do pirarucu em Mamirau� e Aman� rendeu R$ 1.566.309,50, distribu�dos entre mais de 700 pescadores. Ao mesmo tempo, a popula��o do peixe saltou de 2.507 esp�cimes em 1999 para 190.523 em 2018.

As decis�es sobre as a��es nas reservas s�o tomadas coletivamente entre as comunidades e o instituto, que realiza pesquisas e oferece capacita��o para as atividades econ�micas. A maior parte dos recursos dos projetos vem do MCTI, mas tamb�m s�o financiadores o Fundo Amaz�nia (BNDES), o governo do Amazonas e a Gordon and Betty Moore Foundation, do cofundador da Intel, Gordon E. Moore, e sua esposa, Betty.

Mais recentemente, os comunit�rios come�aram a explorar o ecoturismo em pousadas como a Uakari, muito procurada por turistas estrangeiros.

Segundo Pedro Nassar, coordenador de turismo de base comunit�ria na reserva Mamirau�, nos �ltimos tr�s anos o faturamento m�dio anual da pousada foi de R$ 2.500.000,00. Deste total, 40% destinaram-se � vigil�ncia e � associa��o de guias. O restante foi dividido entre as comunidades.

- Diferentes saberes unidos pelo bem comum -

Em um flutuante no lago Mamirau�, o forte calor convida a um mergulho, mas a presen�a de um jacar�-a�u (Melanosuchus niger), que espera ganhar sobras do almo�o, � desencorajadora.

A esp�cie, a maior das Am�ricas, podendo superar cinco metros e pesar meia tonelada, esteve amea�ada de extin��o nos anos 1980 devido � ca�a para retirada da carne e da pele, da qual o Brasil foi grande exportador para fabrica��o de bolsas e cal�ados.

"A recupera��o da popula��o de jacar�s se deu pela proibi��o da ca�a e a cria��o de reservas. Hoje, o jacar�-a�u, cujo avistamento era raro, � abundante", explica a bi�loga Barthira Resende, respons�vel t�cnica do plano de manejo de jacar�s no instituto.

Mamirau�, conta, tem a maior concentra��o de jacar�-a�u em todo o Brasil e as comunidades atuaram nesta recupera��o. "A gente realizou um mapeamento participativo. Eles indicaram onde encontram ninhos de jacar�s, onde tem ou n�o jacar�s".

Estes dados s�o reunidos em um plano de manejo, que ser� submetido �s autoridades para pedir cotas de abate de jacar�s, pr�tica tradicional na regi�o, com base na contagem de esp�cimes para evitar a superexplora��o que quase fez a esp�cie desaparecer.

"Juntar os comunit�rios no manejo sustent�vel � uma estrat�gia de conserva��o. Eles sabem que vai dar retorno financeiro. Com isso, v�o proteger os jacar�s para a explora��o do produto e subproduto da ca�a. V�o proteger �reas de reprodu��o, a contagem, para extrair a cota e fazer a divis�o do retorno financeiro", afirma a bi�loga.

O plano se assemelha ao do manejo do pirarucu.

"O pirarucu estava muito dif�cil (de achar), o jacar� tamb�m. Agora tem bastante. Houve uma grande recupera��o", conta Afonso Carvalho, de 68 anos, l�der da comunidade Vila Alencar, �s margens do lago Mamirau�.

Carvalho, que � ind�gena kaixana, compartilha um ensinamento de seu povo, que resume bem o que se busca nas reservas:

"O ind�gena respeita o meio ambiente. A comunidade ind�gena usa as esp�cies seguindo uma regra. N�o usa � toa. Faz um uso controlado, limitado. N�o faz certos usos predat�rios".


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