Quando a jornalista Mena Mangal, de 27, foi morta a tiros em uma rua de Cabul, muitos suspeitaram dos talib�s, mas, no Afeganist�o, a viol�ncia contra as mulheres � end�mica.
A pol�cia priorizou a pista familiar e considera que o ex-marido de Mena teve, "provavelmente", um papel neste crime cometido por homens em uma moto. Hoje, seu paradeiro � desconhecido.
O assassinato gerou forte indigna��o pela situa��o das mulheres afeg�s, com frequ�ncia v�timas de ass�dio, viol�ncia dom�stica e sexual, assim como de discrimina��o.
Mangal deixou as bancadas da televis�o h� tr�s anos para ser assessora da Comiss�o de Assuntos Religiosos e Culturais do Parlamento afeg�o e, portanto, era bastante conhecida.
Depois de apresentar uma a��o por viol�ncia conjugal e amea�as de morte, conseguiu o div�rcio - uma corrida de obst�culos para as mulheres desta rep�blica isl�mica, onde as decis�es judiciais tendem a favorecer os homens.
Pouco antes de seu assassinato, Mangal publicou uma mensagem nas redes sociais, afirmando que havia sido amea�ada de morte. Ela n�o identificou o potencial agressor.
"Infelizmente, o assassinato de Mena n�o � o primeiro", disse � AFP Samira Hamidi, militante da Anistia Internacional no sul da �sia.
"Muitas mulheres foram amea�adas, assediadas, sequestradas e finalmente assassinadas (...) Mas n�o houve um mecanismo para investigar o crime e levar seus autores � Justi�a", lamentou.
- #StopKillingWomen -
Os direitos das mulheres no Afeganist�o melhoraram desde a interven��o de uma coaliz�o internacional liderada pelos Estados Unidos em 2001 para expulsar o regime talib� do governo.
Quando estavam no poder (1996-2001), os extremistas islamistas proibiam as mulheres de terem acesso � educa��o, confinavam-nas em casa e as obrigavam a usar burcas em p�blico. Algumas foram apedrejadas, ap�s serem acusadas de adult�rio.
As mulheres entraram no mercado de trabalho - sobretudo, nas zonas urbanas - e ocupam 25% das cadeiras do Parlamento. J� os casamentos for�ados, inclusive de menores, continuam sendo comuns no campo.
Em 2015, em Cabul, uma mulher conhecida como Farkhunda foi agredida por uma multid�o at� a morte, ap�s ser falsamente acusada de blasf�mia. Seu caso se tornou s�mbolo da viol�ncia end�mica, � qual as afeg�s s�o submetidas.
A deputada Shagufa Noorzai publicou no Twitter fotos de Mena Mangal, de Farkhunda, de uma mulher que teve o nariz cortado pelo marido e de uma jovem sequestrada e assassinada.
"Todos estes crimes aconteceram, principalmente, de dia" em Cabul, tuitou Shagufa, usando a hashtag #StopKillingWomen (Parem de matar mulheres).
A diretora da Rede de Mulheres Afeg�s, Mary Akrami, afirma que a viol�ncia contra as mulheres � comum, devido, em parte, � "cultura da impunidade".
"A aus�ncia de san��es apropriadas e a corrup��o do sistema judici�rio deram aos homens um sentimento de impunidade", disse ela � AFP.
As negocia��es de paz entre os Estados Unidos e os talib�s trouxeram o tema das mulheres e de seus direitos � tona. Muitas temem que um acordo fechado �s pressas acabe por prejudic�-las.
Um recente ataque talib� contra uma ONG em Cabul financiada por Estados Unidos refor�ou essa preocupa��o. Segundo os talib�s, o ataque foi cometido, porque a ONG fomentava e permitia que homens e mulheres estivessem juntos.