
Cada vez mais os jovens cubanos est�o deixando sua barba crescer, uma tend�ncia internacional que chegou mais tarde � ilha, dessa vez sem motiva��es pol�ticas, 60 anos depois que Fidel Castro e seus rebeldes "barbudos" impactaram o mundo com sua revolu��o.
"Ultimamente h� bastante gente, sobretudo jovens, que est�o aderindo � tend�ncia da barba (...). Alguns a deixam mais longa, outros a cortam mais", diz David Gonz�lez, barbeiro de 31 anos, em seu estabelecimento, situado no centro da cidade.
"Acho que (a moda) veio de fora... Depois, pouco a pouco, come�ou-se a usar aqui em Cuba e hoje muitos jovens a usam", acrescenta, enquanto apara a barba de um cliente. A maioria dos novos "barbudos" preferem us�-la curta, devido ao calor.
Na rua Obispo, em Havana Velha, Franco Manso, de 24 anos, aproveita um momento de tranquilidade em seu neg�cio de artesanatos para retocar a pr�pria barba. "Vi que ficava mais ou menos bom em mim, e como est� na moda, revolvi deixar", conta.
"Significa muitas coisas"
"Minha barba significa muitas coisas para meu pa�s", disse Castro a uma rede americana pouco depois do triunfo da revolu��o, em 1959. "Quando cumprirmos nossa promessa de um bom governo, farei a barba".
At� a morte de Fidel, em 2016, os cubanos passavam a m�o no queixo para se referir a ele, gesto que os eximia de pronunciar seu nome em p�blico.

O simbolismo de sua barba era tamanho que, de acordo com informes revelados da CIA, nos anos 60 houve um plano dos Estados Unidos para colocar um agente depilador nos sapatos de Fidel para que ele o inalasse e sua barba ca�sse. O ataque nunca foi concretizado.
Esse simbolismo foi se apagando, embora os jovens ainda caminhem pelo pa�s entre profusas imagens de Castro e dos tamb�m falecidos Ernesto Che Guevara e Camilo Cienfuegos, as tr�s barbas ic�nicas da revolu��o.
H� tamb�m barbas da boa sorte, como a da est�tua de bronze do "Cavaleiro de Paris", polida de tantas m�os de turistas europeus buscando a boa sorte atribu�da a ela. Para tirar uma foto com ele, os visitantes fazem fila na Plaza San Francisco de La Habana.
Alain Gil, de 23 anos e barbado, que trabalha no Instituto de Cinema (ICAIC), ignora as correntes internacionais sobre o tema e atribui as novas barbas cubanas � praticidade.
"Um dia n�o quis me barbear mais, come�ou a crescer e gostei", afirma.
Falta de l�minas
Ter barba nas primeiras d�cadas da revolu��o em muitos casos tinha outro motivo: a falta de l�minas de barbear de duplo fio.
Os cubanos de 1959 usavam as l�minas americanas da marca Gillette, mas "quando come�ou o bloqueio em 1962, tudo ficou mais complicado", lembra o jornalista Manuel Somoza (74), que narra viv�ncias daqueles anos em seu livro "Cr�nica desde las entra�as".
"O uso da barba aumentou n�o s� por essa conota��o patri�tica ou aned�tica, mas por uma necessidade pr�tica. As l�minas (que chegavam) eram muito ruins e se barbear era uma dor de cabe�a", diz � AFP.
Cuba contrap�s a aus�ncia das "imperialistas" Gillettes com umas muito "patri�ticas" fabricadas por encomenda expressa na Tchecoslov�quia, com a marca Venceremos em sua embalagem, seguida do forte lema revolucion�rio "P�tria ou Morte".
Os sovi�ticos socorreram a ilha com sua l�mina Sputnik, lembra Somoza. Depois vieram a tcheca Astra e outra sovi�tica, Neva, que o humor popular batizou de "l�grimas de homem".
Os parentes emigrados tamb�m ajudavam. "Estes familiares mandavam coladas nas cartas (...) uma, duas, tr�s, quatro Gillettes", conta Somoza.
Ap�s o desaparecimento da URSS em 1990, Cuba caiu em uma forte crise econ�mica e come�ou outra etapa ainda mais dura para o homem barbeado, at� 1993, quando Castro despenalizou o uso do d�lar, chegaram as lojas em divisas e as l�minas de barbear modernas.
"Acho que a barba dos jovens de hoje n�o tem nada a ver com a que n�s usamos (...). Hoje a juventude est� mais conectada com a moda mundial", conclui Somoza.