A sueca Greta Thunberg carrega a paix�o de uma gera��o que decidiu enfrentar o monstro das mudan�as clim�ticas, mas tamb�m sofre com o desprezo daqueles que a veem como uma marionete messi�nica da consci�ncia ecol�gica.
Aos 16 anos, a adolescente � o rosto e a voz de uma juventude preocupada, que recicla lixo, limpa as praias, evita carne e avi�es e vota em partidos ambientais nas elei��es.
H� pouco mais de um ano, no in�cio do ano letivo de 2018, Greta deixou sua mochila em casa e passou a se manifestar toda sexta-feira em frente ao Parlamento sueco em Estocolmo com uma placa feita a m�o para tentar sensibilizar os deputados sobre a emerg�ncia clim�tica.
Sua "greve escolar", transmitida pelas redes sociais, atravessou fronteiras e promoveu o movimento global "Sexta-feiras para o futuro".
O fen�meno "Greta" se tornou planet�rio.
Suas contas no Twitter e no Instagram t�m mais de seis milh�es de assinantes.
Os jovens a escolheram como porta-voz das preocupa��es com as mudan�as clim�ticas.
E o tom � claramente acusat�rio.
"Voc�s roubaram meus sonhos e minha inf�ncia com suas palavras vazias", disse ela, com l�grimas nos olhos, aos l�deres mundiais reunidos para a c�pula clim�tica em Nova York, na segunda-feira, evento do qual participou ap�s atravessar o Atl�ntico em um veleiro "zero carbono".
A adolescente e sua causa mobilizam milh�es de jovens nas ruas, fascinados por sua determina��o.
Para seus cr�ticos, Greta � um or�culo vergonhoso, cujas "utopias mort�feras" exp�em as neuroses de uma adolescente autista (ela foi diagnosticada com S�ndrome de Asperger), manipulada pelos agentes do "capitalismo verde" e por seus pais.
Essas rea��es s�o porque ela "� poderosa", diz Severn Cullis-Suzuki, uma bi�loga canadense que tinha 12 anos quando desempenhou um papel semelhante durante a C�pula da Terra, organizada no Rio de Janeiro em 1992.
"Ela pede uma revolu��o. � por isso que eles tentam silenci�-la", afirma Cullis-Suzuki � AFP.
- Milagre, ou ciborgue -
Quando se trata de Greta, nascida em 3 de janeiro de 2003 no pa�s menos "religioso ou espiritual" do planeta, refer�ncias m�sticas, m�gicas ou cl�nicas s�o recorrentes.
O fot�grafo Yann Arthus-Bertrand a v� como "um milagre", e o ex-presidente americano Barack Obama, como a personifica��o de uma juventude que "muda o mundo".
Outros a veem como "um ciborgue", nas palavras do fil�sofo franc�s Michel Onfray, ou "uma doente mental" que cedeu � "histeria clim�tica", segundo o comentarista conservador Michael Knowles, da Fox News.
Em abril, o papa Francisco recebeu a jovem em Roma por ocasi�o do segundo anivers�rio da "Laudato si" (Louvado seja), a segunda enc�clica do pont�fice. A legenda "Aos cuidados da casa de todos" ecoa as palavras de Greta: "a casa est� pegando fogo".
Segundo alguns cr�ticos, ela utiliza uma sem�ntica m�gica que desfoca a mensagem cient�fica, prejudica a inova��o tecnol�gica e oculta alguns desafios ecol�gicos.
"A quest�o clim�tica ofuscou todos os outros problemas ambientais, como abuso de animais, ind�stria de carne, ou pesticidas", diz a cientista pol�tica Katarina Barrling, da Universidade de Uppsala.
Nesse contexto, as vozes que questionam as posi��es de Greta s�o imediatamente suspeitas de "ceticismo clim�tico", acrescenta a especialista.
Ela tamb�m � acusada de gerar ansiedade em vez de produzir um discurso racional.
No F�rum Econ�mico de Davos, ela disse: "Quero que entrem em p�nico, que sintam o medo que sinto todos os dias". Na semana passada, falando ao Congresso dos EUA, a adolescente moderou o discurso: "Quero que voc�s ou�am os cientistas".
- Pensamento cr�tico -
O dedo que acusa os adultos incomoda no exterior, mas n�o tanto na Su�cia.
Tudo nela - a irrever�ncia, o esp�rito de desobedi�ncia e as tran�as - lembra o personagem de Pippi Meialonga, criado pela autora sueca Astrid Lindgren, um paradigma da crian�a liberta da tutela dos adultos e que aprende por si mesma como � o mundo.
"N�o � por acaso que Greta � sueca. Acho que ela n�o existiria sem Pippi, ou Lisbeth Salander", diz a ensa�sta sueca Elisabeth Asbrink, referindo-se � especialista em computadores com um drag�o tatuado nas costas, personagem dos romances da saga Millennium.
"Durante d�cadas, o curr�culo escolar sueco priorizou a forma��o do pensamento cr�tico dos alunos, e n�o o ac�mulo de conhecimento", destaca Barrling.
Mas a pergunta que muitos se fazem �: para que serve Greta?
Para defender os direitos humanos, disse a ONG Anistia Internacional, que concedeu a ela o pr�mio de "embaixadora da consci�ncia".
Seu nome tamb�m � mencionado como um poss�vel candidato ao Pr�mio Nobel da Paz de 2019.
O Comit� Nobel da Paz j� concedeu pr�mios com cores ambientais no passado - como Al Gore, o Painel Intergovernamental de Mudan�as Clim�ticas (IPCC), ou o ativista queniano Wangari Maathai -, vinculando-os a quest�es democr�ticas.
A contribui��o de Greta ainda deve ser demonstrada, afirma o diretor do Oslo Peace Research Institute (Prio), Henrik Urdal.
"O v�nculo entre paz e aquecimento global � baseado em alega��es que a pesquisa n�o apoia. Ela deu um impulso impressionante �s quest�es da mudan�a clim�tica, mas a pergunta permanece: � relevante para o Pr�mio? O Pr�mio Nobel da Paz?", questiona.