O presidente peronista Alberto Fern�ndez se comprometeu a reduzir a pobreza na Argentina e assegurou que vai pagar a d�vida com o FMI havendo crescimento, ao assumir nesta ter�a-feira (10) o comando do pa�s, mergulhado em uma "cat�strofe social".
"� imposs�vel pagar a d�vida externa se n�o h� crescimento. Queremos ter uma boa rela��o com o FMI (Fundo Monet�rio Internacional), mas sem crescimento n�o podemos pagar", afirmou em seu discurso de posse.
Em troca de um severo ajuste fiscal, o FMI outorgou em 2018 um cr�dito no valor de 57 bilh�es de d�lares � Argentina, dos quais o pa�s recebeu at� agora US$ 44 bilh�es. A d�vida total beira os 315 bilh�es de d�lares, quase 100% do Produto Interno Bruto.
A titular do FMI, Kristalina Georgieva, saudou no Twitter a declara��o do presidente: "Compartilhamos plenamente seus objetivos de perseguir pol�ticas para reduzir a pobreza e acompanhar o crescimento sustent�vel. O FMI permanece comprometido em assistir seu governo nesta tarefa".
Fern�ndez, um peronista de centro-esquerda que vai governar at� o final de 2023, alertou que o governo em fim de mandato do liberal Mauricio Macri "deixou a na��o em uma situa��o de default virtual".
� frente da tarefa de reestrutura��o da d�vida est� Martin Guzm�n, novo ministro das Finan�as, empossado nesta ter�a-feira junto com o restante do gabinete.
Colaborador de Joseph Stiglitz, vencedor do pr�mio Nobel de Economia em 2001, Guzm�n pretende propor o adiamento - por dois anos - do pagamento dos juros da d�vida, mediante acordo com credores, e estender as condi��es para quit�-la.
- "Festa de todos" -
O centro de Buenos Aires ficou lotado. Milhares de pessoas com cartazes e bandeiras argentinas caminharam do Congresso at� a Casa Rosada, acompanhando o percurso do novo presidente que terminou com a posse.
Com as temperaturas extremas do ver�o austral no Rio da Prata, homens e mulheres de todas as idades cantavam e dan�avam ao som da cumbia local. Muitos tamb�m choravam abra�ados com amigos e familiares.
"Sinto uma alegria imensa depois de quatro anos", disse Wendy Fern�ndez, estudante de direito de 24 anos.
Fern�ndez, um advogado de 60 anos que foi chefe de gabinete de N�stor e de Cristina Kirchner entre 2003 e 2008, chegou ao Congresso dirigindo o pr�prio carro. Cristina, de 66 anos, prestou juramento como vice-presidente e assumiu a presid�ncia do Senado. A ex-presidente, que � alvo de v�rios processos na Justi�a, ficou ao lado do mandat�rio durante toda a cerim�nia.
Ao cair da noite, diante de uma multid�o, Kirchner recordou sua despedida da Casa Rosada em 2015 e disse que os quatro anos seguintes "foram muito duros".
"Tamb�m foram duros para os perseguidos, para quem tentou, literalmente, nos fazer desaparecer como seres humanos atrav�s da humilha��o e da persegui��o, mas apesar de tudo estamos aqui", exclamou a ex-presidente.
"Estou esperan�oso com Alberto e Cristina, todos temos a sensa��o de que volta, enfim, um governo que escuta o povo, a bandeira argentina � o que une todos n�s, � uma festa para todos", comentou Emanuel Boni�, professor universit�rio de 53 anos.
- "Superar a fome" -
Fern�ndez disse que gostaria de "ser lembrado por superar a ferida da fome na Argentina", um pa�s em plena crise econ�mica, que terminar� 2019 com uma infla��o de cerca de 55%, uma pobreza pr�xima dos 40% e queda do PIB de 3,1%.
"Os �nicos privilegiados ser�o os que tiverem ficado presos no po�o da pobreza (..) Quinze milh�es sofrem de inseguran�a alimentar em um pa�s que � um dos maiores produtores de alimentos. A Argentina tem que p�r fim a essa cat�strofe social", afirmou o presidente rec�m-empossado, que na cerim�nia esteve acompanhado da namorada, Fabiola Y��ez.
Estanislao, 24 anos, filho do presidente, tamb�m participou da cerim�nia.
Fern�ndez recebeu a faixa presidencial e o bast�o de comando das m�os de Macri no Congresso. Uma cena muito diferente daquela de quatro anos atr�s, quando Cristina Kirchner deixou a Presid�ncia um dia antes do previsto e Macri foi empossado pelo presidente provis�rio do Senado.
Os �nicos chefes de Estado presentes foram o cubano Miguel D�az-Canel, o paraguaio Mario Abdo Ben�tez, e os uruguaios Luis Lacalle (eleito) e Tabar� V�zquez (em fim de mandato).
Ao contr�rio dos boatos, n�o esteve presente no ato o boliviano Evo Morales, a quem Fern�ndez ofereceu asilo diante do que ele pr�prio qualificou de golpe de Estado na Bol�via.
O presidente Jair Bolsonaro n�o compareceu, mas de Bras�lia desejou que a Argentina "d� certo" com seu novo presidente, com quem mant�m uma intensa disputa ideol�gica, embora tenha previsto que vai enfrentar mais dificuldades do que o Brasil.
Apesar dos pedidos de unidade de Fern�ndez, n�o ser� f�cil superar o chamado abismo que divide os argentinos.
"Todas e todos devemos nos destituir do rancor que carregamos, voltamos para ganhar a confian�a do outro", clamou o novo presidente.
O �ndice Merval da Bolsa de Buenos Aires recuou 4,81%, a 34.657,44 pontos nesta ter�a-feira.
O moeda argentina fechou praticamente est�vel, a 63 pesos por d�lar.
A Argentina, que viveu sua pior crise em 2001, com o maior d�ficit da hist�ria, cinco presidentes em uma semana e saques e dist�rbios que deixaram cerca de 30 mortos, se esfor�a por evitar outra convuls�o, em especial quando os pa�ses pr�ximos, como Chile, Bol�via, Equador e Col�mbia atravessam duros protestos civis.