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Estado de Minas INTERNACIONAL

Sociedade est� saturada e isso ajuda o populismo, diz pesquisador franc�s


22/12/2019 09:52

A extrema direita nunca teve tanta chance de vencer uma elei��o na Fran�a como agora. A avalia��o � do professor Dominique Reyni�, do Instituto de Estudos Pol�ticos de Paris (Sciences Po). Ele esteve no Brasil para apresentar os resultados da pesquisa Democracias Sob Tens�o, que ouviu 36.395 pessoas em 42 pa�ses.

Reyni� diz que os pol�ticos que "simplificam" a realidade e apresentam solu��es f�ceis conseguem conquistar eleitores saturados de informa��o. "Uma parte do aumento do populismo no mundo tem a ver com a satura��o cognitiva e essa demanda por simplifica��o", disse. A seguir, trechos da entrevista ao Estado.

Em sua palestra, o sr. cita uma �satura��o cognitiva� da sociedade, na qual os indiv�duos buscam solu��es mais simples. Como isso funciona com pol�ticos populistas?

Vivemos uma �poca de mudan�as profundas e poderosas em �reas muito diferentes da vida privada, pol�tica, da ci�ncia, da cultura. H� informa��es demais, complexas demais para que possamos assimil�-las, entend�-las e aceit�-las. Evidentemente, por parte da sociedade, em especial as elites intelectuais e os homens de neg�cios, � poss�vel viver com isso. � at� uma oportunidade. Mas, para grande parte da sociedade, � uma fonte de ang�stia e de sofrimento. Uma parte do aumento do populismo no mundo democr�tico tem muito a ver com essa satura��o cognitiva e essa demanda por simplifica��o, para reduzir o sofrimento ps�quico de uma parte da popula��o.

No Brasil, o relat�rio mostra que 50% das pessoas n�o se interessam por pol�tica. Esse � um ingrediente a mais?

Sim, essa � uma raz�o importante. Vemos isso no Brasil, mas tamb�m no mundo democr�tico todo. � uma tend�ncia que eu qualificaria de "despolitiza��o", um retiro em rela��o � cena p�blica. A gente se fecha em comunidades privadas, em redes. Mas a gente se separa da comunidade nacional, pol�tica.

Como podemos melhorar a efic�cia da democracia e a confian�a das pessoas?

A crise da cultura democr�tica que observamos tem a ver parcialmente com a perda de confian�a na capacidade do Estado democr�tico de produzir servi�os fundamentais - seguran�a, educa��o, sa�de. Essa perda vai levar uma parte dos cidad�os a arriscar a experi�ncia de uma sa�da da democracia. � isso que nos amea�a. Toda quest�o � restaurar a efici�ncia. E o caminho � se apoiar na globaliza��o que, provavelmente, � o grande desafio atualmente.

Os pa�ses que mais enriquecem hoje n�o s�o as democracias. Por qu�?

H� uma amea�a particular que pesa sobre a democracia: o fato de que, se n�o conseguirmos garantir um conforto material m�nimo, n�o vai haver apego � democracia. E ela, por natureza, n�o pode obrigar os cidad�os a lhe sustentar. Para ser apoiada, precisa de um bom desempenho, do ponto de vista material e das liberdades. A for�a do governo autorit�rio � justamente poder se manter mesmo se os cidad�os n�o apoiam. No caso chin�s, n�o h� apenas for�a e repress�o, h� uma efic�cia pr�tica de enriquecer os chineses, melhorar o n�vel de vida, de educa��o. Ent�o, temos um antimodelo que pode trazer uma parte dos cidad�os das democracias a perder a solidariedade com a ideia democr�tica. � a raz�o pela qual � essencial trabalhar no fortalecimento dos Estados democr�ticos.

Como deve ser a rela��o entre Estados democr�ticos e n�o democr�ticos?

Esse ponto � importante. Podemos ter rela��es econ�micas e comerciais com a China. � at� recomend�vel. Mas a quest�o � n�o somente saber quais s�o as consequ�ncias dessas rela��es sobre a liberdade na China, ou sobre a autoridade na China. A gente deve se indagar se � razo�vel as democracias ajudarem a China a se tornar mais poderosa sendo que ela n�o � um regime democr�tico.

O sr. v� algum tipo de movimenta��o nesse sentido?

Hoje, vemos quase o contr�rio. Nas rela��es entre Brasil e Fran�a, EUA e Europa, prevalece o sentimento de divis�o do mundo democr�tico. Ou isso � uma tend�ncia que vai se afirmar com uma fragmenta��o que precipita o decl�nio da democracia no mundo, ou � uma fase intermedi�ria, uma crise que vai levar os chefes de Estado dos pa�ses democr�ticos a come�arem a discutir as condi��es de uma coopera��o internacional democr�tica.

Qual seria o efeito dos 'coletes amarelos' na Fran�a e nas pr�ximas elei��es francesas?

Os coletes amarelos v�o ter influ�ncia profunda sobre a sociedade, a vida pol�tica e sem d�vida sobre as elei��es de 2022. Eles trouxeram uma politiza��o de protesto de uma parte muito grande da sociedade francesa. Na Fran�a, havia eleitores da extrema direita e do populismo de esquerda. Mas os coletes amarelos n�o s�o essas pessoas. N�o acredito que eles ter�o um voto moderado. Ou v�o se abster ou fornecer eleitores a mais para o voto populista.

Ent�o as chances de a extrema direita vencer, com Marine Le Pen, s�o maiores do que nunca?

� exatamente essa frase que � preciso dizer. Ela tem mais chances do que nunca de ser eleita presidente da Fran�a em 2022. N�o significa que vai ser eleita, mas que tem mais chances do que jamais teve.

H� alguma compara��o entre Marine, Viktor Orb�n, premi� da Hungria, e Jair Bolsonaro?

Diria que o ponto-chave que os aproxima � o que Vladimir Putin chama de "soberanismo" democr�tico. Isso � uma democracia bizarra.

Como o senhor v� o papel das redes sociais no decl�nio ao apego � democracia?

As redes sociais, que s�o ainda mais recentes, est�o mudando profundamente o espa�o p�blico e democr�tico. E h� efeitos positivos e negativos. � extraordin�rio quase todo mundo dar seu ponto de vista e participar de uma discuss�o. Mas tamb�m h� aspectos terrivelmente negativos, como o efeito de bolha e a tend�ncia de dialogar apenas com quem pensa igual. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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