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Estado de Minas

Davi Kopenawa, um xam� e l�der pol�tico que fala aos brancos


postado em 30/01/2020 09:37

Quando jovem, ca�ava na floresta e se alimentava de mel silvestre, Davi Kopenawa nunca imaginou que se tornaria um xam� yanomami que faz a voz indignada de seu povo contra a invas�o do homem branco ser ouvida em Nova York ou Paris.

"N�o imaginava que aprenderia seu idioma e muito menos que poderia pronunciar um discurso diante deles", diz o cacique ind�gena em "La chute du ciel" ("A Queda do C�u", em tradu��o livre), seu longo testemunho oral registrado pelo antrop�logo franc�s Bruce Albert (2010).

Sua campanha o levou a Paris, para a inaugura��o nesta quinta-feira da exposi��o de fotos de sua amiga Claudia Andujar sobre os yanomami, na Funda��o Cartier.

Davi Kopenawa, de 63 anos, encarna dramas pessoais e lutas pela sobreviv�ncia dos quase 27.000 membros dessa tribo do norte do Brasil, perto da fronteira com a Venezuela.

"Davi luta incansavelmente por seu povo h� mais de 30 anos, sem tr�gua, apesar das amea�as de morte, das tentativas de corromp�-lo e da constante deteriora��o da situa��o", disse Bruce Albert � AFP.

Uma amea�a que aumentou com a chegada ao poder de Jair Bolsonaro, um presidente que "n�o ama os ind�genas" e "n�o entende o valor da floresta amaz�nica", declarou Kopenawa � AFP.

A primeira vez que viu um homem branco, o garoto Kopenawa sentiu-se "aterrorizado" com sua "horr�vel feiura" e sua "espantosa brancura".

Um contato foi ent�o estabelecido entre os dois mundos. Os brancos passaram a fornecer, na base da troca, aos yanomami machados e roupas, conta Kopenawa em seu testemunho.

Mas "tamb�m vimos os brancos espalhar suas doen�as e nos matar com suas armas", acusa.

"Desde ent�o, minha raiva nunca me deixou".

Estando doente, viu sua m�e e muitos parentes morrerem por epidemias trazidas pelos brancos.

Mission�rios evang�licos enterraram sua m�e em segredo, privando-o dos rituais funer�rios tradicionais.

Essa ofensa, essa dor, construir� sua luta.

- "Um habitante da floresta"

Na adolesc�ncia, sozinho e desamparado, Davi ficou tentado a deixar a floresta.

"Me tornar um homem branco, era a �nica coisa que tinha em mente", admite, fascinado por rel�gios, cal�as compridas e barcos a motor.

Ele deixou sua aldeia Toototobi para trabalhar com os brancos, em um cargo na Funai de Ajuricaba. Atuou principalmente como int�rprete por v�rios per�odos, ofuscados pela tuberculose e pela mal�ria.

Hospitalizado por um ano, dedicou-se a melhorar seu portugu�s. Mas finalmente voltou com sua fam�lia: continuou sendo "um habitante da floresta".

Davi se rebelou contra a invas�o em massa de garimpeiros ilegais que "cavam em todos os lugares como porcos selvagens" e enchem os rios de �leo de motor e merc�rio.

No auge da corrida do ouro, no final dos anos 1980, cerca de 40.000 garimpeiros percorriam as terras yanomami. Havia quase cinco garimpeiros para um �nico yanomami no estado de Roraima.

Davi tamb�m se revoltou contra os fazendeiros que "queimam as �rvores da floresta" e "o governo que quer abrir novas estradas".

- "Falar com firmeza" aos brancos -

Mais tarde, seu destino se cruzou com a CCPY, uma ONG de defesa dos yanomami fundada em 1978 por Claudia Andujar e Bruce Albert, que o incentivou a viajar, apesar de sua personalidade reservada, para defender os direitos territoriais de seu povo.

Seu sogro, Lourival, um xam� de prest�gio, o iniciou aos 27 anos. "Tornei-me xam� para cuidar dos meus", disse o l�der yanomami.

"Davi goza de grande respeito entre os yanomami por seu papel hist�rico", disse Albert � AFP, mencionando "a intelig�ncia de sua s�ntese entre xamanismo e pol�tica" e "sua capacidade de negocia��o nas comunidades mais isoladas e com os interlocutores internacionais mais diversos".

E, "cada vez mais irado" com o desastre ecol�gico e epidemiol�gico na selva, Davi decidiu ir conversar com os brancos "firmemente, em suas cidades".

Mas viagens longas s�o "perigosas para os xam�s".

Em Paris - a "terra tr�mula", na l�ngua yanomami, em refer�ncia �s esteiras transportadoras e ao metr�, Davi se sente oprimido, tonto e sem sono.

Em Nova York, onde "os brancos vivem empilhados uns sobre os outros", ele se encontrou em 1991 com altos funcion�rios da ONU, foi impactado pela mis�ria e ficou doente.

Mas o reconhecimento, por decreto presidencial, de um territ�rio yanomami de 96.650 km2 em 1992 foi uma grande vit�ria.

No ano passado, Davi Kopenawa recebeu o "Nobel Alternativo", o pr�mio Right Livelihood, por sua luta � frente da associa��o Yanomami Hutukara, que ele fundou em 2014 e na qual Dario, um de seus cinco filhos, tem um papel fundamental.


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