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Estado de Minas

No M�xico, homens se reabilitam do machismo para erradicar viol�ncia de g�nero


08/03/2020 08:25

"Sou Jaime. Esta semana cometi viol�ncia verbal e emocional contra minha companheira. Estou aqui para apoiar e ser apoiado", diz este mexicano de meia idade, que ouve um un�ssono "eu te apoio" ap�s dar seu relato a uma dezena de homens reunidos na Cidade do M�xico.

Em uma improvisada sala de terapia, em um casar�o no bairro de Roma, centro da capital mexicana, Jaime e outros homens como ele, com idades entre 20 e 70 anos, fecham os olhos, inspiram e expiram.

Em seguida, p�em a m�o sobre o cora��o enquanto, em um exerc�cio de honestidade, refletem sobre as viol�ncias que praticam contra as mulheres e as consequ�ncias que acarretam.

A crise de feminic�dios que vive o M�xico, onde diariamente s�o assassinadas dez mulheres, choca a sociedade, levando cada vez mais homens a questionarem o machismo arraigado dominante e tentar erradic�-lo.

"Nunca fui violento fisicamente com uma mulher, mas sim de outras formas: emocionalmente, verbalmente e sexualmente porque alguma vez fui infiel. Isso me fez me reconhecer e querer me transformar", diz � AFP este arquiteto de 63 anos, que esconde seu sobrenome para proteger sua fam�lia.

Jaime chegou � consultoria G�nero e Desenvolvimento (Gendes) h� dois anos por recomenda��o de sua companheira ap�s enfrentar uma crise conjugal.

Fundada em 2009 - embora realizasse um trabalho pr�vio de seis anos -, a Gendes realiza pesquisas e ativismo com vistas a reabilitar homens machistas.

- Novas masculinidades -

"O masculino sempre foi associado com a viol�ncia, o dom�nio e a for�a. Mas atualmente isto est� mudando, as novas masculinidades prop�em a ideia de promover o tratamento igualit�rio entre homens e mulheres", explica Mauro Vargas, diretor da Gendes.

O psicoterapeuta e palestrante tenta com que os homens que v�o �s suas reuni�es - cerca de 1.200 por ano no M�xico, segundo seus dados - compreendam e enfrentem os diferentes tipos de viol�ncia contra a mulher: sexual, f�sica, econ�mica, verbal e cibern�tica, com perspectiva de g�nero.

A causa feminista alcan�ou o topo da agenda no M�xico depois de v�rios anos de neglig�ncia governamental e autoridades ineficazes, uma situa��o que persiste no governo do esquerdista Andr�s Manuel L�pez Obrador.

Centenas de mulheres indignadas t�m ido �s ruas exigindo empatia e a��es concretas para deter os feminic�dios, que dispararam 136% entre 2015 e 2019, segundo cifras oficiais.

Entre os brutais crimes no m�s passado, o cometido contra Ingrid Escamilla, de 25 anos, esfaqueada e degolada pelo companheiro, e o de uma menina de sete anos, sequestrada para a pr�tica de abuso sexual e depois assassinada, foram a gota d'�gua.

- Feministas ou machos em reabilita��o? -

Para Vargas, condutas cotidianas como assobiar nas ruas, grupos de WhatsApp onde se compartilham fotos de mulheres nuas ou coment�rios sexistas sobre colegas de trabalho perpetuam esquemas de desigualdade que culminam na viol�ncia machista que as mexicanas enfrentam hoje.

Nas terapias, "desaprendem o que a sociedade lhes ensinou, que est�o dentro de um entorno machista e mis�gino", acrescenta o especialista.

Embora n�o haja datos precisos de quantos s�o, este e outros grupos que exploram novas masculinidades se multiplicam no M�xico tentando analisar o que significa ser homem atualmente e romper com a cultura patriarcal.

Em espa�os pouco convencionais, como galerias de arte ou livrarias, homens, convocados em sua maioria pelas redes sociais, se re�nem espontaneamente para discutir seu papel diante do avan�o do feminismo.

Mas os homens podem se dizer feministas?

Para Arturo Reyes, um psic�logo de 29 anos que atua como instrutor na Gendes, a resposta � n�o.

"H� aliados do feminismo, mas n�o h� homens feministas, a luta � s� das mulheres", explica Reyes, para quem o machismo n�o � uma doen�a mas "uma decis�o cultural".

"Um macho em reabilita��o � um homem em desconstru��o", acrescenta.

Os participantes sabem e lutam por reconhecer e modificar o machismo, um mal arraigado e at� celebrado na sociedade mexicana.

No casar�o de Roma, os homens que fazem terapia fixam o olhar no ch�o; depois levantam a cabe�a, soltam o corpo e ganham for�a para compartilhar com outras experi�ncias.

Destaca um homem roli�o que, nervoso, admite ter violentado seu filho.

Para Reyes, la mayor satisfacci�n de guiar a estos machos rehabilitados llega cuando al final de la terapia alguno de ellos lo abraza y le dice: "Gracias a estas sesiones, mi esposa e hijos hoy pueden acercarse sin miedo".


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