
Em meio ao surto de coronav�rus, � a It�lia o pa�s europeu que mais sofre, j� acumulando dezenas de milhares de casos confirmados e atingindo mais de 2 mil mortes. Por l�, como vem noticiando a m�dia nos �ltimos dias, a Regi�o Norte � a mais afetada, mas cidades do Sul, bastante conhecidas por brasileiros, tamb�m s�o motivo de preocupa��o. Nos �ltimos dias, a regi�o da Sic�lia, ilha localizada na ponta da bota italiana, recebeu grande n�mero de pessoas que moram no norte do pa�s.
Em conversa com o Estado de Minas, Librizzi conta que a preocupa��o dos sicilianos veio principalmente no final de fevereiro, quando o governo confirmou o primeiro caso diagnosticado do novo coronav�rus em territ�rio italiano. Dias depois, na Regi�o de Veneza (Norte do pa�s), foi tamb�m confirmada a primeira morte em decorr�ncia da doen�a. “As pessoas come�aram a ficar muito preocupadas com o coronav�rus, quando vimos que o n�mero de casos aumentava rapidamente todos os dias”, conta.
"A minha rotina � ficar em casa. O governo disse que isso � mais seguro, ent�o a gente s� sai para ir a supermercados e, se a gente precisar, a farm�cias. S� isso"
Roberto Librizzi, economista
A preocupa��o dos sicilianos � t�o grande que a Companhia de Sa�de Provincial de Enna (comuna da Sic�lia) montou uma rede de operados dedicada a receber os telefonemas daquelas pessoas que foram afetadas mentalmente pela propaga��o do coronav�rus.
Ao todo, segundo o �ltimo boletim do governo italiano, o pa�s registra 27.980 casos confirmados e 2.158 mortes por causa do v�rus; outras 2.749 pessoas foram curadas. J� na Sic�lia, 213 pessoas foram contaminadas pelo COVID-19 e duas acabaram morrendo. O relat�rio da Unidade de Crise da regi�o confirma que existem 95 pessoas hospitalizadas (20 em terapia intensiva), 108 em isolamento domiciliar e 8 recuperados. Em escala provincial, Cat�nia � a �rea com o maior n�mero de pessoas infectadas.
Devido ao n�mero relativamente baixo de casos, em compara��o com o cen�rio nacional, a Sic�lia foi um dos destinos de fuga mais procurados por italianos que moram no norte do pa�s. Em 7 de mar�o, o primeiro-ministro da It�lia, Giuseppe Conte, decretou quarentena em toda a regi�o da Lombardia, incluindo Mil�o, a capital financeira do pa�s. Com a not�cia, que acabou chegando aos italianos ainda antes da assinatura de Conte, cerca de 30 mil pessoas deixaram o norte em dire��o � Sic�lia – a popula��o da ilha � de 5,027 milh�es de habitantes.
No entanto, os italianos que fugiram para o sul em busca de uma rotina mais tranquila foram surpreendidos dois dias depois. Em 9 de mar�o, Conte aumentou a �rea de quarentena para todas as prov�ncias do pa�s, colocando a popula��o em isolamento. Atualmente, bares e restaurantes da It�lia devem fechar �s 18h; j� pubs, discotecas e bingos n�o podem abrir. Est� proibida, ainda, a realiza��o de missas, casamentos e funerais.
“A minha rotina � ficar em casa. O governo disse que isso � mais seguro, ent�o a gente s� sai para ir a supermercados e, se a gente precisar, a farm�cias. S� isso”, conta Librizzi. As restri��es valem at� 3 de abril, mas a previs�o � de o governo deve prorrog�-las.
Em meio ao caos, o prefeito de Palermo, Leoluca Orlando, desconfiou de que estaria contaminado pelo v�rus, mas, depois de realizar testes, descartou a hip�tese. Al�m disso, ainda para piorar a situa��o, o governo regional est� tendo que lidar com o contrabando de m�scaras. Nesse fim de semana, a Guardia di Finanza de Catania (uma das pol�cias da regi�o), apreendeu 10 mil m�scaras que n�o adotavam os selos de qualidade do governo italiano. De acordo com o jornal local Corriere Della Sera, as mercadorias foram encontradas em um armaz�m de uma empresa de um cidad�o chin�s.
No Norte da It�lia, relatos de xenofobia
Assim que a propaga��o do COVID-19 alcan�ou n�meros assustadores, provocando mortes em v�rios pa�ses e chamando a aten��o da m�dia ocidental, pessoas com ascend�ncia asi�tica come�aram a sofrer constantes ataques. Na Europa, EUA e, at� mesmo no Brasil, situa��es xenof�bicas vieram � tona e geraram mais um debate em meio ao surto. Natural de Taiwan, e atualmente cursando violino em Cremona, na Regi�o da Lombardia, Ho Kung conta ao EM que percebe, ao andar na rua, pessoas tentando se afastar de asi�ticos.
“Algumas pessoas est�pidas acham que asi�ticos s�o uma coisa s� ou que n�s que causamos todos esses problemas”, conta o jovem. Embora Kung n�o tenha sofrido ataques diretos, ele d� o exemplo de uma ofensa que uma amiga japonesa sofreu na cidade. “Ela estava andando na rua, quando um cara italiano olhou para ela e cobriu o nariz de prop�sito”, afirmou.
''Eu decidi voltar para Taiwan porque agora na It�lia tem mais de 20 mil pessoas contaminadas e em Taiwan tem menos de 60''
Ho Kung, estudante
Por causa do avan�o avassalador da pandemia pela It�lia, o jovem deixou o pa�s no �ltimo s�bado em dire��o � sua terra natal, a 943 quil�metros de Wuhan, cidade chinesa onde o v�rus apareceu primeiramente e que mais registrou mortes no mundo. Apesar da proximidade, at� ontem, Taiwan tinha registrado 67 casos e uma morte.
“Eu decidi voltar para Taiwan porque agora na It�lia tem mais de 20 mil pessoas contaminadas e em Taiwan tem menos de 60. Ent�o, � muito menos do que na It�lia. Al�m disso, todos os hospitais est�o lotados, sem espa�o livre. Ent�o, se eu tivesse algum problema eu n�o poderia resolver. Na minha opini�o, voltar foi mais seguro”, explica.
De volta a seu pa�s, Kung est� isolado em um hotel reservado para pessoas que voltaram da Europa nas �ltimas duas semanas. “Eu n�o posso nem sair do meu quarto. Estou adorando contar meus sentimentos, porque agora eu estou realmente odiando esse v�rus”, conta de forma mais humorada.
Semelhan�a
Italianos e brasileiros possuem tra�os em comum. Os dois povos compartilham o gosto pela m�sica e desfrutam de rela��es muito mais �ntimas se comparadas aos asi�ticos, brit�nicos e escandinavos. No entanto, o que parecia ser uma vantagem ou algo a se celebrar gerou questionamentos nos �ltimos dias. Seria essa aproxima��o algo que influenciou a dissemina��o acelerada de n�mero de casos no pa�s europeu? Ser� que isso pode influenciar o cen�rio epidemiol�gico brasileiro?
Desde que a crise do novo coronav�rus veio � tona, m�dicos e infectologistas alertam para a redu��o do n�mero de abra�os, beijos e apertos de m�o, como forma de evitar a propaga��o do v�rus. Apesar de concordar com os cientistas, Roberto Librizzi, descarta a ideia de que a intimidade dos italianos possa ter influenciado na situa��o atual. “O problema � que a gente vive em um mundo globalizado e a It�lia recebe muitas pessoas de v�rios lugares do mundo. Esse desastre s� pode acabar se os cientistas conseguirem criar uma cura para a doen�a, porque n�s podemos conter o v�rus, mas n�o elimin�-lo como um todo”, defende.
Como os brasileiros, os italianos criam situa��es de alegria em meio ao caos. Desde sexta-feira, italianos aproveitam os momentos de quarentena e, por duas vezes ao dia, v�o � sacada de suas casas e cantam juntos m�sicas nacionais. Parafraseando uma express�o bastantes conhecida no Brasil e na It�lia, nos dois pa�ses “l� speranza � l’ultima a morire”.