Quando o confinamento come�ou na Alemanha, Marco tinha apenas uma obsess�o: ficar b�bado. Mas, como muitos, de tanto beber, teve que procurar ajuda para se livrar do v�cio em �lcool.
Em mar�o, esse m�sico de 38 anos de Berlim tomava uma garrafa de gim todas as noites. "Dizia a mim mesmo 'vamos l�, o que h� de errado? Estamos confinados, vamos fazer uma festa!'", explica ele � AFP, sob anonimato.
Com o passar dos dias, come�ou a ver as coisas de maneira diferente. "Por causa do confinamento, voc� � for�ado a olhar para si mesmo e percebe que o que faz n�o � certo. � um problema, uma depend�ncia", admite.
No final, ele entrou em contato com um grupo local de Alco�licos An�nimos para buscar apoio para sua decis�o de encerrar 20 anos de consumo intenso de �lcool.
Como ele, muitos outros seguiram a mesma iniciativa.
De acordo com um porta-voz do Alco�licos An�nimos, o n�mero de chamadas na linha de atendimento nacional da associa��o dobrou e passou de uma d�zia de liga��es por dia para cerca de 20 desde o in�cio de mar�o.
- Cultura nacional -
A taxa de consumo de �lcool na Alemanha � uma das mais altas da Europa. Na cultura nacional, as bebidas alco�licas ocupam lugar de destaque, principalmente por meio de eventos t�o famosos quanto a Oktoberfest em Munique.
De acordo com um estudo recente do Centro Alem�o para Assuntos de Depend�ncia (DHS), tr�s milh�es de alem�es, com idades entre 18 e 64 anos, tiveram problemas com �lcool em 2018.
Durante a fase inicial do confinamento, as vendas de bebidas alco�licas cresceram consideravelmente. Muitas pessoas aumentaram seu consumo em casa como um substituto �s sa�das com os amigos.
Ao mesmo tempo, por�m, a pandemia fez os consumidores perceberem - por si mesmos, ou por interm�dio de suas fam�lias - seu excesso, afirma um porta-voz do Alco�licos An�nimos.
"As pessoas come�aram a beber em casa. O parceiro, ou algu�m da fam�lia, come�ou a ver o quanto eles realmente bebiam. Eles percebem que n�o � mais poss�vel esconder", aponta.
- "Salvar a vida" -
Na Alemanha, existem dezenas de grupos de Alco�licos An�nimos, que prop�em cerca de 2.000 reuni�es em todo pa�s, em tempos normais.
Com as restri��es de sa�de impostas desde mar�o, grupos na capital priorizaram reuni�es on-line.
Uma mudan�a que ajuda muitas pessoas, para quem esse modo de reuni�o � mais an�nimo.
"Muitas das pessoas que nos procuram geralmente s�o as mais isoladas (...) O contato on-line � mais simples", diz ele.
Esses grupos planejam propor mais reuni�es on-line a partir de agora, mesmo quando n�o houver mais instru��es de sa�de.
Sem a pandemia, "poderia ter continuado assim por mais 10 anos, at� que algo realmente s�rio acontecesse", diz Marco, cuja vida como m�sico permitiu que estivesse sempre perto de �lcool e drogas.
"� dif�cil dizer, mas tenho a impress�o de que o confinamento salvou minha vida", desabafa.