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Estado de Minas INTERNACIONAL

No Brasil e nos EUA, negros correm mais risco de ser mortos pela pol�cia


postado em 14/06/2020 07:10

Emerald Garner tem 28 anos e, como toda m�e, quer que o futuro de suas crian�as seja melhor do que sua realidade. Para ela, isso significa n�o precisar ensinar � filha, negra, que desvie e desconfie da pol�cia. H� seis anos, Eric Garner, pai de Emerald, foi morto em Nova York ap�s suplicar para que um policial soltasse seu pesco�o.

Antes de morrer em uma chave de bra�o, ele repetiu 11 vezes "eu n�o consigo respirar", e se tornou um dos mais emblem�ticos casos de brutalidade policial da hist�ria recente americana at� o m�s passado.

Brasil e Estados Unidos compartilham n�meros desproporcionais de assassinatos de negros pela pol�cia. Como negro, Garner corria 2,9 vezes mais risco de ser morto por policiais do que uma pessoa branca. No Brasil, o risco � 2,3 vezes maior para os negros.

Mas a pol�cia brasileira mata mais, mesmo com popula��o menor. S� no Rio de Janeiro a pol�cia matou quase o dobro do n�mero de mortos por policiais americanos em todo o pa�s no ano passado.

"Se tiv�ssemos aprovado leis sobre o tema na �poca do meu pai, George Floyd estaria vivo hoje", diz Emerald.

Floyd, assassinado em Minneapolis no dia 25, tamb�m avisou ao policial que usava o joelho para pressionar seu pesco�o contra o ch�o que n�o conseguia respirar, uma frase repetida pelos manifestantes que tomaram as ruas americanas nas �ltimas semanas.

No Brasil, Floyd e Garner seriam Wemerson Felipe Santos, que morreu em novembro na Vila Pica-Pau, na periferia de Belo Horizonte, no primeiro dia em que trabalhava capinando um terreno do bairro. Wemerson sofreu uma rasteira, um pontap� e um mata-le�o de policiais que faziam uma opera��o no bairro, at� ficar roxo e perder sentidos, segundo reportou o portal G1.

No ano passado, David do Nascimento Santos, de 23 anos, saiu de casa na favela do Arei�o, no Jaguar�, em S�o Paulo, para usar o Wi-Fi de um bar da vizinhan�a, mas foi colocado dentro de um carro de pol�cia e apareceu morto, com marcas de tortura.

Quase 5 mil brasileiros negros, a maioria jovens, foram mortos pela pol�cia em 2018. A popula��o negra do Brasil � quase o triplo da dos EUA e a pol�cia brasileira matou 18 vezes o n�mero de negros que os policiais americanos mataram.

Os dados foram compilados pelo jornal O Estado de S. Paulo com base em n�meros do F�rum Brasileiro de Seguran�a P�blica de 2018 - o mais atual com recorte racial - e do instituto americano Mapping Police Violence, de 2019. O n�mero de mortos pela pol�cia americana tem se mantido no mesmo patamar desde 2013.

Com quase 18 mil departamentos de pol�cia nos EUA, n�o h� uniformidade nos n�meros oficiais sobre abordagens policiais com uso da for�a no pa�s, informa��o que tamb�m falta no Brasil. Nos EUA, os negros s�o 13,4% da popula��o e 24% dos mortos por policiais. No Brasil, os negros e pardos s�o pouco mais de metade da popula��o, mas tr�s quartos dos mortos por policiais.

A viol�ncia contra negros em propor��o maior do que de brancos fez o Pa�s ser denunciado � Corte Interamericana de Direitos Humanos pela ONG Educafro em 2019, que considera que a pol�tica brasileira de combate � viol�ncia tem causado um "verdadeiro genoc�dio" da popula��o negra. A den�ncia pede que parte do PIB seja investido em intelig�ncia policial.

"Nossa pol�cia no Brasil � muito mais violenta. Mas tamb�m existe um n�vel de viol�ncia racial que constitui o Brasil em outras esferas que naturalizou e incorporou no cotidiano a morte de pessoas negras. No Brasil, quando se mostra a morte de um negro, a luta � para provar que aquela pessoa n�o era um bandido, como se o fato de a pessoa ter cometido algum crime justificasse tamb�m a viol�ncia policial", afirma Silvio Almeida, autor do livro Racismo Estrutural e professor convidado da Universidade Duke, na Carolina do Norte (EUA). Segundo ele, a "oculta��o" do racismo no Brasil evita que a discuss�o seja feita em esfera p�blica.

"O Brasil n�o teve o imenso sistema de leis codificadas que surgiu ap�s o colapso da escravid�o, como vimos nos EUA com Jim Crow", afirma Ellis Monk, do Departamento de Sociologia de Harvard, que pesquisa os paralelos entre racismo nos dois pa�ses.

Sob o nome de Jim Crow, as leis de segrega��o racial americana tiveram vig�ncia nos Estados do sul dos EUA at� a d�cada de 60. Brancos e negros n�o usavam os mesmos bebedouros p�blicos, banheiros, balc�es de lanchonete, cabines de trem, escolas e �nibus. Os locais reservados aos negros eram prec�rios.

"Existem muitas maneiras diferentes de manter hierarquias raciais e de cores. Voc� n�o precisa necessariamente de um sistema Jim Crow para atingir esse mesmo tipo de objetivo", diz Monk, que avalia ser mais f�cil enfrentar um problema que tem nome. "No Brasil � mais dif�cil nomear os alvos que mant�m hierarquias raciais quando n�o s�o t�o �bvios como eram nos EUA."

Os dois pa�ses t�m em comum o passado de escravid�o e explora��o de m�o de obra africana para formar sociedade e economia, institucionalizando uma discrimina��o racial persistente em diversos segmentos, como a habita��o.

Nos EUA, uma casa em bairro negro vale US$ 48 mil a menos do que uma propriedade de caracter�sticas e localiza��o semelhantes em um bairro branco. A diferen�a � chamada por pesquisadores de custo racial. "Em um ano, eu fui parado sete vezes pela pol�cia. N�o cinco, nem seis. Sete."

A hist�ria poderia ser a de um jovem negro brasileiro, mas foi a fala do senador Tim Scott, negro e republicano da Carolina do Sul.

"N�o s�o casos isolados. � uma l�gica de uma pol�cia que se arvora no direito de dizer quem vive e quem morre", afirma a psic�loga Marisa Feffermann, da Rede de Prote��o e Resist�ncia Contra o Genoc�dio, que lan�ou recentemente a campanha "Fala Quebrada" para reunir den�ncias de a��es policiais violentas, al�m de outras situa��es de desrespeito aos direitos b�sicos fundamentais. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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