Jair Bolsonaro precisa abrir "linhas de comunica��o" com o Partido Democrata nos EUA, se levar em considera��o o interesse do Brasil na rela��o com os americanos. A frase n�o � dos advers�rios de Donald Trump, mas do conservador John Bolton, ex-conselheiro de Seguran�a Nacional da Casa Branca. Em entrevista ao Estad�o, Bolton garante que Trump "tem um bom relacionamento com Bolsonaro", mas diz que a rela��es com o Brasil n�o mudar�o "do dia para a noite".
Durante os primeiros nove meses da gest�o Bolsonaro, Bolton era considerado pelo governo brasileiro, especialmente pela ala militar, como um importante interlocutor junto a Trump. Ele foi o primeiro da alta c�pula da Casa Branca a se reunir com o ent�o eleito presidente brasileiro, em um caf� da manh� na casa de Bolsonaro, no Rio de Janeiro, em 2018.
Bolton foi o respons�vel por aconselhar Trump sobre quest�es de seguran�a nacional, entre abril de 2018 e setembro de 2019. Em setembro, foi demitido pelo Twitter. "Seus servi�os n�o ser�o mais necess�rios na Casa Branca", escreveu o presidente.
Em junho, Bolton lan�ou seu livro de mem�rias, The Room Where It Happened ("A Sala Onde Tudo Aconteceu", em tradu��o livre), com cr�ticas ao presidente. Ao Estad�o, ele afirmou que a reelei��o de Trump pode ser perigosa para os EUA e garantiu que n�o votar� no republicano - tampouco no democrata Joe Biden.
Segundo ele, Trump v� Bolsonaro como "algu�m que enfrentou um tipo de oposi��o arraigada depois de anos de governos de esquerda no Brasil", mas que cada pa�s deve buscar seu pr�prio interesse. O presidente brasileiro j� se declarou publicamente f� do americano e afirmou torcer por sua reelei��o - um gesto que contraria a tradi��o diplom�tica de n�o se envolver em disputas dom�sticas.
"� bom que as rela��es pessoais entre os l�deres sejam positivas. Mas os pa�ses buscam seu pr�prio interesse nacional. � exatamente assim que deve ser. Ent�o, o presidente Bolsonaro, olhando para a elei��o em novembro e tendo o interesse do Brasil em mente, precisa garantir linhas de comunica��o abertas com os democratas", afirmou Bolton. A recomenda��o reflete o que dizem as pesquisas. Trump tem perdido apoio e aparece atr�s de Biden em quase todas as sondagens.
"O desejo de governos brasileiros anteriores de se afastar dos EUA era muito forte. Ent�o, Bolsonaro representou a possibilidade de um novo come�o nas rela��es e vimos que valeria a pena explorar", afirma. Os interesses comuns, segundo Bolton, eram as amea�as de Nicol�s Maduro, na Venezuela, a oposi��o a uma chapa de esquerda na Argentina e � influ�ncia da China na Am�rica Latina.
Questionado sobre o avan�o chin�s na regi�o, Bolton menciona a possibilidade de o Brasil permitir a entrada de empresas da China para opera��o de tecnologia 5G. Segundo ele, os EUA t�m dificuldades para enfrentar a estrat�gia chinesa de longo prazo, enquanto os americanos se pautam por "relat�rios trimestrais".
O Brasil � marginalmente citado nas quase 600 p�ginas do livro de Bolton. H� 11 men��es ao Pa�s, sendo a maior parte em refer�ncias geogr�ficas, ao descrever o plano de entrega de ajuda humanit�ria � Venezuela, em fevereiro de 2019. N�o h� qualquer men��o ao chanceler Ernesto Ara�jo ou ao conte�do dos dois encontros presenciais entre Trump e Bolsonaro.
Apesar disso, Bolton, que mostra simpatia por Bolsonaro, afirma que o Brasil esteve envolvido em consultas sobre a Venezuela. "Provavelmente, o Brasil n�o recebeu a aten��o que deveria ter (no livro), mas ningu�m deve subestimar a extens�o das consultas que realizamos", disse.
Bolton defendeu uma "rela��o militar mais pr�xima" entre os dois pa�ses e afirmou que parte das conversas com o Brasil foi para evitar que Maduro "desse ref�gio a terroristas" na fronteira brasileira. "� algo sobre o qual n�s e o Brasil j� conversamos antes e onde faria muito sentido ter uma coopera��o operacional mais pr�xima."
No livro, Bolton escreve que Trump acreditava que invadir a Venezuela seria "legal" e estaria disposto a se encontrar com Maduro, mas foi dissuadido por ele e seus assessores. "Muitas das decis�es de Trump no campo da seguran�a nacional foram baseadas na preocupa��o de n�o ser prejudicado politicamente. H� apenas tr�s semanas, ele disse que se encontraria com Maduro. Quando as pessoas na Fl�rida disseram que era uma p�ssima ideia, ele desistiu", disse. "Se ele for reeleito - e se ver livre da necessidade agradar seus apoiadores - ser� dif�cil prever qual ser� sua pol�tica externa." As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
INTERNACIONAL