
Carmen precisa estar em Londres, na Inglaterra, at� 21 de setembro, sob o risco de perder bolsa de mestrado em uma das mais conceituadas escolas de Economia do mundo. Viajar at� a Europa sem passar por Mo�ambique � invi�vel. Documentos e materiais necess�rios para o come�o do mestrado est�o no pa�s africano.
O retorno estava programado para 4 de abril, mas a COVID-19 “prendeu” Carmen no pa�s. Depois do voo original, ela, que come�ou a estadia em solo brasileiro no Rio de Janeiro e agora vive com uma amiga em S�o Paulo, tentou embarcar diversas outras vezes. Todas sem sucesso.
Al�m de complicar a vida acad�mica de Carmen, a pandemia fez com que a mo�a ficasse ainda mais tempo longe dos parentes. “Queria passar um tempo no Brasil e, depois voltar � Mo�ambique para ficar com minha fam�lia e organizar os documentos para o mestrado”, diz ela, que veio dos Estados Unidos, onde trabalhava. O emprego foi deixado em prol do “sonho ingl�s”.
Tentativas frustradas
Durante o per�odo sem voos diretos para Mo�ambique, Carmen passou a tentar viagens com escala. Entretanto, pa�ses como �frica do Sul, Zimb�bue e Malawi vetaram a entrada dela. Com a pandemia, os requisitos para o desembarque em determinadas na��es foram endurecidas. “Nenhum desses pa�ses me aceitou, pois n�o sou cidad� local”, lamenta.Para piorar, o passaporte vence em 17 de agosto, o que impede a aceita��o das escalas por parte das companhias a�reas. Depois, a ideia passou a ser utilizar a Tanz�nia como “ponte”. Por conta da validade do passaporte, ela s� poderia viajar munindo um documento emergencial, fornecido pela embaixada de Mo�ambique no Brasil. Sem o atestado, n�o h� como desembarcar em terras tanzanianas.
Quando o Estado de Minas tomou conhecimento da hist�ria de Carmen, ela tentava entrar na Tanz�nia de outro modo. O plano era conseguir um documento, em ingl�s, feito pela embaixada mo�ambicana e assinado pela representa��o tanzaniana.
Em contato com a reportagem, contudo, o setor consular da embaixada da Tanz�nia explicou que basta a “autoriza��o de emerg�ncia” fornecida por Mo�ambique. Como os dois pa�ses comp�em a Comunidade para o Desenvolvimento da �frica Austral (SADC), o visto n�o � necess�rio. O mesmo ocorre, por exemplo, em viagens entre pa�ses do Mercosul, do qual o Brasil faz parte.
Antes de chegar � Tanz�nia, os voos sa�dos de S�o Paulo passam pelo Catar, na �sia. Ao longo do processo de apura��o desta mat�ria, o EM tentou contatar a representa��o mo�ambicana em Bras�lia, mas n�o obteve respostas concretas sobre o imbr�glio que envolvia Carmen.
Apreens�o
Carmen se preparou para uma viagem de f�rias e, portanto, ficou “desprevenida”. Sem trabalho e dividindo resid�ncia, ela precisou “queimar” parte das reservas financeiras destinadas ao mestrado para sobreviver. A s�rie de voos cancelados ainda gerou transtornos na busca pelo reembolso. “Foi um sacrif�cio falar com as linhas a�reas para reaver meu dinheiro”, pontua.Ela conta que a Escola de Economia e Ci�ncia Pol�tica de Londres nada p�de fazer para ajud�-la. Outros alunos tamb�m relataram dificuldades para viajar rumo � Inglaterra. Como � imposs�vel amparar todos os casos, a institui��o optou por n�o interferir.
“Lutei muito para conseguir. Vim de uma fam�lia que n�o tem muito. Isso � uma oportunidade para mim, especialmente como mulher negra e mo�ambicana. � sempre bom ter educa��o. Esse � um dos meus sonhos” crava, sem medo de errar.