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Estado de Minas INTERNACIONAL

Pressa russa por vacina exp�e disputa geopol�tica capaz de frear cura da COVID-19

Pesquisadores nos EUA, Reino Unido e China tamb�m est�o alterando regulamenta��es estabelecidas para acelerar seu trabalho. Especialistas em sa�de p�blica alertam que essa pressa pode resultar em uma pandemia mais duradoura


16/08/2020 07:00 - atualizado 16/08/2020 12:11

(foto: Dmitry Kurakin/AFP)
(foto: Dmitry Kurakin/AFP)
O an�ncio foi feito com ares de triunfo de na��o predestinada. No meio da semana, a R�ssia confirmou o registro da primeira vacina contra coronav�rus, mesmo sem todos os testes usuais. Ela se chama Sputnik V, refer�ncia ao primeiro sat�lite orbital lan�ado pela Uni�o Sovi�tica, em 1957, e j� come�ou a ser produzida. A busca por uma vacina se tornou uma vers�o repaginada, e arriscada, das corridas espacial e nuclear daquele per�odo.

Especialistas em sa�de p�blica alertam que essa pressa pode resultar em uma pandemia mais duradoura, ao impedir a aloca��o mais eficiente das doses para prevenir a COVID-19. Alguns pa�ses est�o usando seu dinheiro para tentar comprar o primeiro lugar na fila de suprimentos, caso uma vacina experimental se mostre eficaz.

EUA, Reino Unido, Uni�o Europeia e Jap�o sa�ram na frente na corrida para estocar vacinas contra o coronav�rus e, juntos, j� reservaram mais de 1,3 bilh�o de doses - todos esses imunizantes est�o em fase de testes.

O Brasil fechou acordo em junho para receber 100 milh�es de doses da vacina produzida pela Universidade de Oxford e pela farmac�utica AstraZeneca. Israel desenvolve sua vacina e diz que pode ter 15 milh�es de doses at� o fim do ano. Todas a empresas farmac�uticas da �ndia, uma pot�ncia no setor, fecharam acordo para garantir doses ao pa�s durante a produ��o.

"Tal competi��o estimulou um fen�meno que ficou conhecido como nacionalismo da vacina - a disputa de governos para garantir doses de candidatas promissoras", disse ao jornal O Estado de S. Paulo David Fidler, pesquisador de sa�de global do Council on Foreign Relations e ex-consultor jur�dico da OMS. "A disputa internacional para encontrar uma vacina aumentou temores de que a necessidade dos pa�ses de declarar vit�ria sobre a pandemia logo poderia lev�-los a contornar as salvaguardas que protegem as pessoas de produtos m�dicos n�o comprovados."

N�o � s� a R�ssia que est� fazendo isso. Pesquisadores nos EUA, Reino Unido e China tamb�m est�o alterando regulamenta��es estabelecidas para acelerar seu trabalho. A China come�ou a testar em seus militares uma vacina n�o aprovada. O presidente Donald Trump foi acusado por especialistas de acelerar o processo para obter um imunizante antes de novembro e ter vantagens eleitorais.

Mas a R�ssia simplesmente atropelou as regulamenta��es. A vacina russa sequer havia come�ado os testes cl�nicos de fase tr�s - quando a subst�ncia � testada em milhares de pessoas. O lan�amento apressado de uma vacina ineficaz - ou pior, insegura -, argumentam os especialistas, seria um grande rev�s para os esfor�os globais de imuniza��o em massa.

Este risco levanta d�vidas sobre a real vantagem de um pa�s de um pa�s ter a vacina primeiro. "Para a R�ssia, liderar a corrida das vacinas � um caminho para uma maior influ�ncia geopol�tica. Mas o pa�s tamb�m est� tentando evitar parecer dependente das pot�ncias ocidentais, com as quais as rela��es s�o historicamente ruins", disse Nikolas Kirrill Gvosdev, estudioso de rela��es internacionais russo-americanas no Col�gio de Guerra Naval dos EUA.

"A R�ssia n�o est� apenas se voltando para seu parceiro estrat�gico de longa data, a �ndia, mas tamb�m alcan�ando uma s�rie de pot�ncias intermedi�rias, a maioria das quais teve atritos em suas rela��es com os EUA nos �ltimos anos", afirma Gvosdev. "Esta oferta de vacina � o esfor�o da R�ssia para estabelecer a lideran�a de um grupo intermedi�rio de na��es que querem evitar a escolha bin�ria de Washington ou Pequim. E � parte dos esfor�os de Putin para manter um papel de lideran�a global."

A lista de pa�ses interessados na vacina russa, mesmo sem testes e regula��es, j� inclui as Filipinas, onde o pr�prio l�der populista Rodrigo Duterte disse que vai tomar uma dose, al�m de pa�ses como S�rvia, Emirados �rabes Unidos, Ar�bia Saudita, M�xico e mesmo o Brasil. Segundo Kirill Dmitriev, chefe do fundo de riqueza soberana da R�ssia, que bancou o desenvolvimento da Sputnik V, ao menos 20 pa�ses querem 1 bilh�o de doses da vacina.

Em troca? Ningu�m sabe ao certo. "Simplesmente nunca vivemos um contexto em que uma vacina para uma pandemia se confunde com a geopol�tica", disse Fidler. "Mas se a China usa at� seus pandas para obter vantagens diplom�ticas, financeiras ou militares, uma vacina segura e eficaz dar� aos EUA ou China a capacidade de coloc�-la � disposi��o de maneira que atenda aos seus interesses nacionais. Os pa�ses de m�dia e baixa renda t�m experi�ncia suficiente para reconhecer que o acesso a uma vacina dos EUA ou da China vir� com amarras pol�ticas."

No come�o da pandemia, mais de 90 pa�ses restringiram de alguma maneira a exporta��o de equipamentos hospitalares, como ventiladores e respiradores, e at� m�scaras. Foi o uso cl�ssico do poder suave - seja um amigo e aliado agora, veja como isso pode render mais tarde.

Na �ltima pandemia, os pa�ses ricos adquiriram todo o estoque dispon�vel de vacinas contra o v�rus da gripe H1N1, em 2009-10. "A OMS n�o tem nada que lhe d� autoridade para dizer aos pa�ses o que fazer com os suprimentos de vacinas", disse Volker Gerdts, diretor do Departamento de virologia na Universidade de Saskatchewan. "A realidade pol�tica vai se impor. E a press�o ser� t�o forte que os apelos por equidade vindos de pa�ses de baixa renda n�o ter�o efeito."

"O nacionalismo da vacina n�o � apenas moral e eticamente repreens�vel: � contr�rio aos interesses econ�micos, estrat�gicos e de sa�de de todos os pa�ses", escreveram Thomas Bollyky, diretor do programa de Sa�de Global on council on Foreign Relations, e Chad Bown, economista do Peterson Institute, na revista Foreign Affairs. "� medida que os pa�ses aceleram para garantir seu pr�prio acesso antecipado �s vacinas, eles est�o falhando em retardar a dissemina��o do v�rus em outros lugares, promovendo interrup��es na cadeia de suprimentos, estimulando economias de maneira ineficiente e possivelmente gerando conflitos geopol�ticos. � a trag�dia da vacina." (As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.)


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