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Estado de Minas INTERNACIONAL

Imigrantes venezuelanos temem novo fluxo na fronteira em Roraima


20/09/2020 08:51

A venezuelana Cec�lia Margarita Soarez, de 61 anos, escora as m�os nos joelhos e coloca os p�s descal�os sobre os pedregulhos, � sombra de uma �rvore em Boa Vista. O calor � de 34 �C e a umidade sufoca, mas o ch�o queima menos do que o contato com seus chinelos de borracha. Ela caminhou duas horas para encontrar sua filha no posto de triagem da Opera��o Acolhida, administrado pelo Ex�rcito brasileiro, que horas depois seria visitado pelo secret�rio de Estado dos EUA, Mike Pompeo, na sexta-feira.

Cec�lia est� entre os pelo menos 30 mil venezuelanos que deixaram seu pa�s e ainda vivem na capital de Roraima. Desde o fechamento da fronteira, h� seis meses, o governo federal enviou por volta de 6 mil venezuelanos para outras partes do Pa�s a fim de retirar a press�o sobre o sistema de sa�de e a assist�ncia social no Estado.

A perspectiva de reabertura, ainda sem data definida para ocorrer, tem preocupado o governo estadual e a prefeitura de Boa Vista. Como o ritmo da interioriza��o dos estrangeiros diminuiu durante a pandemia, o temor � que um novo fluxo de imigrantes possa voltar a sobrecarregar os servi�os estaduais.

Para ter renda, Cec�lia transporta materiais recicl�veis em um carrinho de beb� at� pontos de coleta. Sua mis�ria � comum a seus conterr�neos na cidade - estima-se que 2 mil estejam desabrigados, vivendo na rua ou em moradias clandestinas. Ela chegou no in�cio de 2019, no auge da crise entre o presidente venezuelano, Nicol�s Maduro, e o opositor Juan Guaid�. Al�m de fugir da desvaloriza��o vertiginosa da moeda venezuelana, ela diz que as promessas de ajuda humanit�ria, inclusive pelo governo americano, a atra�ram para Boa Vista.

"Cheguei aqui e tive trope�os, vivi na rua, comi da lata do lixo. O que deixavam por a�, abandonado, eu limpava e comia com a minha fam�lia", conta Cec�lia. Ela tem poucas d�vidas de que est� melhor agora do que h� dois anos. "Cheguei muito fraca, porque n�o comia, n�o consum�amos nada com gordura, s� verdura e sardinha. Isso pode te encher, mas n�o te alimenta. Aqui temos manteiga, maionese, alface e tomate, carne."

Recuperada de uma �lcera, hoje ela quer que os filhos migrem para o interior brasileiro, para conseguir trabalho e dinheiro que a ajudem a sobreviver na capital de Roraima. Ela tem dois filhos de 25 e 29 anos, mas a pouca experi�ncia de trabalho que eles t�m no campo n�o tem ajudado a encontrar novos empregos no Brasil.

Ao menos 4 mil venezuelanos aguardam a reabertura para entrar no Pa�s, segundo estimativa de ag�ncias da ONU que atendem a regi�o. At� mar�o, o fluxo de entrada em Pacaraima, na fronteira, era de mil imigrantes ao dia. Como o envio de refugiados para outras partes ocorre em ritmo mais lento, os venezuelanos ficam retidos em Roraima e dividem os servi�os sobrecarregados da regi�o com a popula��o local. Apenas nos 13 abrigos do Estado, s�o cerca de 5 mil.

Al�m disso, a infla��o no pre�o dos alimentos durante os �ltimos meses tem piorado a condi��o de vida. O pedreiro Jaime Ortegas, de 59 anos, tenta se mudar para S�o Paulo h� cerca de um m�s. Com o pouco trabalho que consegue e o aumento no custo de vida, tem sido cada vez mais dif�cil sobreviver em Roraima.

"Quando eu cheguei, as coisas eram mais baratas, a comida ao menos, e agora os pre�os subiram bastante", afirma. H� muitos venezuelanos aqui e o trabalho diminuiu, os brasileiros querem pagar pouco em Boa Vista."

Ele, a mulher e os dois netos dependem principalmente da sua renda como prestador de servi�o em obras. Eles chegaram h� cerca de dois anos - Jaime, sua mulher Sonia, e sua filha de 28 anos, que descobriu um c�ncer logo ap�s cruzar a fronteira. Ela morreu h� cerca de um ano.

Sua filha de 14 anos e o filho de 4 est�o sob os cuidados dos av�s, que ainda n�o sabem quando ter�o permiss�o para viajar a S�o Paulo. "Eu tinha caminh�o, tinha carro, hoje n�o tenho nada. Eu perdi tudo", diz Jaime. "Mas h� de se seguir em frente com a vida, adiante e lutando."

O governo brasileiro tem evitado dar uma previs�o para a reabertura da fronteira. Autoridades locais acreditam que isso deva ocorrer at� o fim do ano. A divisa em Pacaraima, principal ponto de entrada de venezuelanos no Brasil, foi fechada em mar�o de forma provis�ria. A previs�o inicial era de que o bloqueio durasse apenas duas semanas, mas a passagem nunca mais reabriu.

Na sexta-feira, o ministro das Rela��es Exteriores, Ernesto Ara�jo, disse que a capacidade de atendimento dos servi�os p�blicos � a maior preocupa��o para evitar a reabertura por enquanto. Ele negou que a prorroga��o do fechamento tenha motiva��o pol�tica - uma vez que o Brasil retomou a imigra��o de outros pa�ses, como do Paraguai, por exemplo.

As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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