Lockdown na Fran�a pode servir de exemplo contra 2� onda da COVID-19
Com m�dia di�ria de at� 50 mil novos diagn�sticos, confinamento mais duro foi decretado pelo presidente franc�s Emmanuel Macron de amanh� a 1� de dezembro, enquanto Irlanda, Rep�blica Tcheca e Pa�s de Gales tomaram o mesmo caminho e Alemanha imp�s fechamento parcial
Em cadeia nacional de televis�o, o presidente franc�s, Emmanuel Macron, justificou dura restri��o para salvar o Natal
(foto: Martin Bureau/AFP)
Avignon (Fran�a) – A medida que foi evitada a todo custo cobrou pre�o alto demais. Na sexta-feira, a Fran�a se lan�a como a primeira grande economia do mundo a confinar novamente toda a sua popula��o diante da brutalidade da segunda onda da COVID-19. Al�m de combater a doen�a, est� em jogo salvar o Natal. O an�ncio foi feito na noite de ontem (16h no hor�rio de Bras�lia) pelo presidente Emmanuel Macron, depois de dois dias de reuni�o entre representantes do governo, Parlamento e conselho cient�fico. Outros tr�s pa�ses europeus – Irlanda, Rep�blica Tcheca e Pa�s de Gales – tomaram o mesmo rumo h� alguns dias e a expectativa � de que a decis�o francesa impulsione rea��o em cadeia entre outras pot�ncias do Velho Continente.
Na Alemanha, embora fosse tamb�m esperado o lockdown, a chancelar �ngela Merkel optou por um fechamento parcial, envolvendo bares, restaurantes e centros de lazer e cultura. O mundo registrou na ter�a-feira recorde de mais de 500 mil novos casos de contamina��o pelo novo coronav�rus, segundo balan�o da ag�ncia de not�cias AFP com base nos n�meros divulgados pelas autoridades de sa�de.
Ao todo, foram notificados 516.898 novos diagn�sticos e registradas 7.723 mortes. De acordo com especialistas, o avan�o n�o pode ser explicado apenas em decorr�ncia do aumento dos testes realizados desde a primeira onda mundial da epidemia, entre mar�o e abril. Passa de metade o n�mero de casos registrados em 24 horas nos 10 pa�ses mais afetados pela doen�a respirat�ria: Estados Unidos, �ndia, Brasil, R�ssia, Fran�a, Espanha, Argentina, Col�mbia, Reino Unido e M�xico.
Na Fran�a, o reconfinamento anunciado pelo presidente Emmanuel Macron � mais “leve” do que aquele adotado no in�cio do ano e est� previsto para durar at� 1º de dezembro. Em mar�o, o fechamento foi desencadeado inicialmente por 15 dias e durou 56. Mais um esfor�o para enfrentar situa��o longe do fim. Na Europa, o assunto vacina � tratado com prud�ncia.
Segundo Macron, cientistas apostam na imuniza��o apenas para o pr�ximo ver�o europeu. A boa not�cia para os franceses � que, desta vez, a educa��o ser�, mais do que nunca, priorizada. Escolas da educa��o infantil ao ensino m�dio continuar�o abertas. Apenas o ensino superior seguir� com aulas remotas. Servi�os p�blicos tamb�m manter�o as portas abertas. O teletrabalho, quando poss�vel, volta a ser regra. Obras p�blicas e atividades agr�colas tamb�m n�o v�o parar.
A ordem, como antes, � ficar em casa, o que � bem respeitado na Fran�a. As pessoas s� devem sair de casa par ir o m�dico, fazer compras, tomar ar perto do domic�lio e trabalhar, mediante atestado comprovando o motivo e assinado “sob a honra”. Os deslocamentos entre cidades e regi�es tamb�m est� proibido. Multas ser�o aplicadas em caso de desrespeito. Haver� toler�ncia apenas neste fim de semana, na volta das f�rias de 15 dias de finados. Est�o permitidas, ainda, visitas �s casas de repouso e estabelecimentos dedicados a idosos, mediante protocolos estritos. Cemit�rios tamb�m continuar�o abertos para as pessoas poderem “enterrar com dignidade seus pr�ximos”, nas palavras do presidente.
Para todas as outras atividades, o que inclui bares, restaurantes e todo o com�rcio n�o essencial, vale o mesmo princ�pio da primeira onda: portas fechadas. Decis�o dif�cil para um chefe de Estado faltando t�o pouco para a �poca mais importante do ano, o Natal, adotar o lockdown � tamb�m um golpe duro para bares e restaurantes, que, mesmo depois de sua reabertura, em junho, n�o conseguiram recuperar o movimento habitual. “N�o creio na oposi��o entre sa�de e economia. N�o tem economia pr�spera diante de uma situa��o sanit�ria degradada e n�o tem sa�de, no sentido de hospitais e meios de tratamento, se n�o houver, se n�o tiver economia para banc�-la”, disse Emmanuel Macron.
Na Alemanha, a op��o foi pelo bloqueio parcial, envolvendo fechamento de bares e restaurantes, centros de lazer e cultura (foto: Christof Stache/AFP)
A Fran�a alcan�ou anteontem a marca de 527 mortes em 24 horas e m�dia di�ria de 40 mil a 50 mil novas contamina��es. Isso � o que foi testado. “�, certamente, o dobro”, informou o presidente franc�s. At� ontem, mais de 35.785 franceses perderam a vida por causa do Sars-Cov-2.
Transfer�ncias O pr�prio governo reconhece que, hoje, � imposs�vel saber a origem dos casos e, logo, definir com quem os doentes tiveram contato. Com a doen�a explodindo em todo o pa�s, est� cada vez mais dif�cil transferir pacientes. Ontem, no aeroporto de Avignon, no Sul da Fran�a, pacientes foram transferidos para outras regi�es em avi�o militar. Atualmente, 3 mil pessoas est�o em reanima��o, mais da metade da capacidade nacional (58%).
Na primeira onda, o pa�s chegou a 7,5 mil interna��es no pico da doen�a. Para dar conta da COVID-19, os hospitais j� come�aram a cancelar outras cirurgias, como as de cora��o e c�ncer, muitas delas que j� haviam sido suspensas no primeiro semestre. De acordo com Macron, at� meados de novembro, 9 mil pacientes lotar�o as unidades de terapia intensiva (UTIs) do pa�s. “Nesse ritmo, daqui a pouco, m�dicos ter�o de escolher entre um paciente com COVID-19 e uma pessoa ferida em acidente em rodovia ou entre dois pacientes de COVID-19. Num pa�s como a Fran�a, isso � inaceit�vel”, afirmou Macron.
A segunda onda j� � considerada mais brutal e letal que a primeira. Na Fran�a, 35% dos pacientes em UTI t�m menos de 65 anos. Os leitos de UTIs em hospitais p�blicos passaram de 5 mil para 6 mil e chegar�o a 10 mil. Sete mil enfermeiros e m�dicos foram formados para trabalhar nas unidades intensivas. “Veremos se poderemos cultivar este momento de Natal e festa de fim de ano ”, disse em seu pronunciamento.
Em Barcelona, manifestantes protestam contra a retomada de medidas r�gidas que impactam o com�rcio (foto: Josep Lago/AFP)
Bloco europeu rev� sa�das
Representantes dos 27 pa�ses-membros da Uni�o Europeia se re�nem, hoje, por videoconfer�ncia para avaliar os rumos da doen�a respirat�ria no Velho Continente e as decis�es que podem ser tomadas. No total, 100 milh�es de euros (cerca de R$ 600 milh�es) foram desbloqueados para financiar testes na popula��o do bloco. A Fran�a foi a primeira na��o a reconfinar toda a sua popula��o, possibilidade evocada ontem pela It�lia e pela B�lgica.
A expectativa era de que Alemanha seguisse o mesmo caminho, mas preferiu um lockdown limitado. A partir de segunda-feira e por um per�odo de um m�s, estar�o fechados caf�s, bares, restaurantes, institui��es esportivas e centros culturais e de lazer, como teatros, piscinas e academias. Os encontros privados est�o limitados a 10 pessoas. Os deslocamentos s� s�o autorizados por motivo de for�a maior. As competi��es esportivas, incluindo os jogos do Campeonato Alem�o, s� poder�o ocorrer sem p�blico.
Por outro lado, as competi��es amadoras est�o proibidas. Hot�is est�o reservados aos deslocamentos profissionais indispens�veis. Com a miss�o de reduzir ao m�ximo o impacto econ�mico, mais uma vez a prioridade � a educa��o, com ordem de manter as escolas abertas.
Nos �ltimos dias, a It�lia, que verifica m�dia de 20 mil novos casos de contamina��o di�rios, enfrenta uma s�rie de protestos violentos contra as medidas impostas pelo governo para deter o coronav�rus. Bares, restaurantes, teatros, cinemas e salas de esportes s�o obrigados a fechar as portas �s 18h durante um m�s. Escolas, faculdades e universidades devem assegurar 75% de suas aulas de forma remota.
Na Espanha, o estado de urg�ncia sanit�rio foi decretado novamente no �ltimo dia 25, inicialmente por 15 dias, mas o governo d� sinais de que poder� prolong�-lo at� maio. Um “toque de recolher” entre as 23h e as 6h foi imposto a todo o pa�s, com exce��o das Ilhas Can�rias. As comunidades aut�nomas (equivalente aos estados brasileiros) v�o decidir o que cada uma far� no pr�ximo dia 9. Algumas regi�es j� adotaram confinamento parcial e, na Catalunha, h� expectativa de um toque de recolher durante todo o fim de semana.
Portugal, por enquanto, recusa o confinamento. O uso de m�scaras tamb�m n�o � obrigat�rio nas ruas. O pa�s sofre com a falta de turistas e aposta num p�blico que, at� antes dessa enxurrada de medidas duras tomadas por seus vizinhos, continuava a viajar: os jovens. Sem os viajantes mais maduros, que sumiram do territ�rio, os pre�os de hot�is despencaram. Mas, com a situa��o piorando, governo prepara reuni�o de emerg�ncia para tamb�m fazer face � pandemia.
Na B�lgica, o rumor de um novo confinamento tamb�m ganha for�a. Por enquanto, o pa�s adotou o toque de recolher a partir das 22h. Lojas devem fechar �s 20h. No entanto, no Norte do pa�s a partir de sexta-feira � noite, todas as salas de espet�culos e centros culturais fechar�o as portas.
Fora da Uni�o Europeia, na Inglaterra (Reino Unido), pubs e restaurantes fecham �s 22h e, desde setembro, est� em vigor a regra dos seis: m�ximo de seis pessoas aglomeradas em lugares fechados ou abertos. Com o sistema hospitalar pedindo socorro, a Irlanda foi o primeiro pa�s europeu a se reconfinar, no �ltimo dia 21, seguido pela Rep�blica Tcheca (22) e Pa�s de Gales (23). (JO)