
Leal apoiador do presidente americano, Donald Trump, o presidente Jair Bolsonaro disse na sexta-feira (06/11) que o republicano "n�o � a pessoa mais importante do mundo".
A declara��o ocorreu pouco depois de o candidato democrata Joe Biden chegar mais perto de derrotar Trump e ser eleito o pr�ximo presidente dos Estados Unidos, conforme avan�a a contagem de votos em Estados-chave.
Nesta manh�, Biden passou � frente do republicano na apura��o de votos nos Estados da Ge�rgia e da Pensilv�nia, ficando mais perto de conquistar os 270 delegados necess�rio para chegar � Casa Branca.
Nos EUA, a elei��o para presidente � indireta, feita a partir dos delegados que os candidatos conquistam pela maioria dos votos recebidos em cada Estado. At� o in�cio da tarde desta sexta-feira no Brasil, o placar estava em 253 delegados para Biden e 213 para Trump.
Dos Estados com resultado ainda em aberto, o democrata tamb�m lidera em Nevada e Arizona, enquanto Trump est� na frente no Alaska e na Carolina do Norte — a vit�ria apenas nesses dois, por�m, � insuficiente para ser reeleito.
"Eu n�o sou a pessoa mais importante do Brasil, assim como Trump n�o � a pessoa mais importante do mundo, como ele bem mesmo diz. A pessoa mais importante � Deus, a humildade tem que se fazer presente entre n�s", afirmou Bolsonaro, ao discursar em Florian�polis, durante formatura de 650 agentes da Pol�cia Rodovi�ria Federal (PRF).
A declara��o � uma mudan�a de tom em rela��o ao que o presidente tem falado sobre Trump e a elei��o americana. Bolsonaro manifestou diversas vezes torcer pelo republicano, contrariando a tradi��o diplom�tica brasileira de n�o interferir em pleitos de outros pa�ses — estrat�gia que permite estar bem posicionado para estabelecer rela��es com o governo eleito, seja ele qual for.
Na quarta-feira, quando a apura��o dos votos avan�ava nos Estados Unidos e j� indicava probabilidade maior de vit�ria para Biden, Bolsonaro disse que "a esperan�a � a �ltima que morre" ao ser questionado por uma apoiadora sobre a situa��o de Trump.

Pesquisas apontavam vit�ria de Biden
A apura��o dos votos est� confirmando a vit�ria democrata que j� era apontada nas pesquisas de inten��o de voto h� semanas, o que n�o impediu Bolsonaro de seguir demonstrando seu desafeto por Biden e sua prefer�ncia por Trump.
Embora a admira��o do presidente brasileiro por Trump n�o necessariamente tenha trazido vantagens reais para o Brasil no cen�rio internacional, o governo Bolsonaro deu prefer�ncia desde o in�cio para a rela��o bilateral com o pa�s em detrimento de outras alian�as, como com a China e pa�ses latino-americanos.
A princ�pio, uma mudan�a de governo nos EUA n�o necessariamente traria um problema para o governo Bolsonaro, segundo analistas pol�ticos, j� que a rela��o dos dois pa�ses tem sido pautada por pragmatismo em todos os governos desde a redemocratiza��o brasileira.
Recentemente, o embaixador brasileiro em Washington, Nestor Forster Junior, afirmou que independentemente de quem ven�a o Brasil vai continuar a manter boas rela��es com o pa�s.
No entanto, a atitude do presidente brasileiro pode complicar esse cen�rio em caso de vit�ria de Biden. Conforme as elei��es americanas foram se aproximando, Bolsonaro n�o apenas refor�ou sua admira��o por Trump como passou a emitir declara��es com forte ret�rica contra Biden.

"Bolsonaro e Trump com certeza v�o manter contato, e (em caso de vit�ria de Biden) ter um presidente brasileiro ativamente apoiando a oposi��o nos EUA pode complicar uma tentativa de Biden de ter uma rela��o pragm�tica com Brasil", disse Oliver Stuenkel, professor de rela��es internacionais da Funda��o Get�lio Vargas, em S�o Paulo, � BBC News Brasil.
Abaixo, entenda cinco momentos em que o presidente Jair Bolsonaro demonstrou sua prefer�ncia por Trump e seu desgosto por Biden.
'Espero comparecer � posse de Trump'
O epis�dio mais recente foi durante a visita de uma delega��o do governo americano liderada por Robert O'Brien, conselheiro de seguran�a nacional, em 20 de outubro.
"Espero, se for a vontade de Deus, comparecer � posse do presidente [Trump] brevemente reeleito nos EUA. N�o preciso esconder isso, � do cora��o", afirmou o presidente Bolsonaro.
"N�o interfiro, mas � do cora��o. Pelo respeito, pelo trabalho e pela considera��o que ele teve conosco eu manifesto dessa forma neste momento", disse.

"Desde o primeiro contato nasceu entre n�s um sentimento de coopera��o, de buscar o bem para seus pa�ses; de apagarmos o que t�nhamos de n�o feito corretamente por quem nos antecedeu no tocante � devida representa��o que nossos pa�ses merecem."
A delega��o tinha como objetivo oficial a assinatura de um pacote comercial entre os dois pa�ses, mas tamb�m fez parte de um esfor�o dos EUA em pressionar autoridades de pa�ses sob sua influ�ncia a criar barreiras para a empresa chinesa Huawei no mercado de 5G.
'Lament�vel, Sr. Joe Biden'
Um dos momentos em que Bolsonaro usou de ret�rica mais forte contra Biden foi ap�s o primeiro debate eleitoral entre o democrata e Trump, no final de setembro.
Biden disse durante o debate que, se eleito, "come�aria imediatamente a organizar o hemisf�rio e o mundo para prover US$ 20 bilh�es para a Amaz�nia, para o Brasil n�o queimar mais a Amaz�nia".
"(A comunidade internacional diria ao Brasil) aqui est�o US$ 20 bilh�es, pare de destruir a floresta. E se n�o parar, vai enfrentar consequ�ncias econ�micas significativas", afirmou Biden.

A declara��o gerou uma resposta imediata e revoltada de Bolsonaro, que classificou o coment�rio como "lament�vel", "desastroso e gratuito" e fez uma s�rie de postagens cr�ticas a Biden no Twitter.
"Custo entender, como chefe de Estado que reabriu plenamente a sua diplomacia com os Estados Unidos, depois de d�cadas de governos hostis, t�o desastrosa e gratuita declara��o. Lament�vel, Sr. Joe Biden, sob todos os aspectos, lament�vel", escreveu o presidente.
"O que alguns ainda n�o entenderam � que o Brasil mudou. Hoje, seu Presidente, diferentemente da esquerda, n�o mais aceita subornos, criminosas demarca��es ou infundadas amea�as. NOSSA SOBERANIA � INEGOCI�VEL", escreveu o presidente.
Apesar de Bolsonaro dizer com frequ�ncia que governos anteriores eram hostis aos EUA, a rela��o diplom�tica entre os dois pa�ses sempre foi bastante amig�vel nos governos p�s-redemocratiza��o.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tinha uma boa rela��o com o democrata Bill Clinton, e o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva tamb�m era bastante pr�ximo tanto do republicano George W. Bush quanto de seu sucessor, o democrata Barack Obama.
A rela��o da ex-presidente Dilma Rousseff com Obama ficou um pouco mais distante ap�s revela��es de que ela chegou a ser espionada pela NSA (ag�ncia nacional de seguran�a dos EUA), mas nunca chegou a ser hostil.
'Cobi�a internacional'
Embora n�o tenha citado Biden nominalmente, Bolsonaro usou a c�pula da ONU sobre biodiversidade para rebater o americano sobre a Amaz�nia.
Na manh� seguinte ao debate e algumas horas ap�s as cr�ticas feitas � Biden no Twitter, Bolsonaro enviou um discurso gravado (que foi exibido durante o evento) em que falou em "cobi�a internacional" pela Amaz�nia.
"Recha�o, de forma veemente, a cobi�a internacional sobre a nossa Amaz�nia. E vamos defend�-la de a��es e narrativas que agridam a interesses nacionais", afirmou o presidente.
"N�o podemos aceitar que informa��es falsas e irrespons�veis sirvam de pretexto para a imposi��o de regras internacionais injustas, que desconsiderem as importantes conquistas ambientais que alcan�amos em benef�cio do Brasil e do mundo", disse.

'A gente torce pelo Trump'
Bolsonaro tamb�m j� usou as apresenta��es ao vivo que faz em sua p�gina do Facebook para comentar as elei��es americanas.
"A gente torce pelo Trump. Temos certeza que vamos potencializar e muito o nosso relacionamento", disse o presidente em 16 de agosto.
Logo em seguida disse que "o Brasil vai ter que se virar" em caso de vit�ria de Biden.
"Se der o outro lado, da minha parte eu vou procurar fazer algo semelhante [procurar ser pr�ximo aos EUA]. Se eles n�o quiserem, paci�ncia n�? O Brasil vai ter que se virar por aqui", disse Bolsonaro.
'Ele vai ser reeleito'
No ano passado, quando a corrida eleitoral ainda n�o tinha come�ado nos Estados Unidos, Bolsonaro j� falava em vit�ria de Trump nas elei��es.
Na Assembleia Geral da ONU de 2019, a caminho de uma recep��o oferecida por Trump aos outros chefes de Estado presentes no evento, Bolsonaro foi questionado sobre o impeachment que Trump sofreu na C�mara dos Representantes americana (equivalente � C�mara dos Deputados no Brasil).
"Ele vai ser reeleito no ano que vem", disse Bolsonaro aos jornalistas.
Trump n�o chegou a perder o cargo porque, embora seu impeachment tenha sido aceito na C�mara, foi rejeitado no Senado, onde os republicanos t�m maioria.
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