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Estado de Minas

A jornada da herdeira da Disney que decidiu doar milh�es de fortuna: 'Tinha vergonha do meu sobrenome'

Abigail Disney conta que tinha muita vergonha do sobrenome e que nunca se sentiu confort�vel com o dinheiro que herdou


19/11/2020 07:30 - atualizado 19/11/2020 11:38


Abigail Disney é neta de Roy Oliver Disney, cofundador da The Walt Disney Company junto com o irmão Walt Disney
Abigail Disney � neta de Roy Oliver Disney, cofundador da The Walt Disney Company junto com o irm�o Walt Disney (foto: Monica Schipper/Getty Images)

Abigail Disney � documentarista e ativista, al�m de uma das herdeiras do imp�rio Disney. Mas nunca se sentiu confort�vel com a fortuna que herdou, tampouco com o ilustre sobrenome.

 

"Eu tinha muita vergonha do nome Disney. Ficava aterrorizada que algu�m descobrisse que eu era parente (de Walt Disney). Muitas vezes, n�o usava meu sobrenome e, �s vezes, dava um sobrenome alternativo", revela.

Abigail j� doou mais de US$ 70 milh�es do seu patrim�nio e, recentemente, ela veio a p�blico criticar a reabertura dos parques da Disney em meio � pandemia de COVID-19; repudiou as profundas diferen�as salariais dentro do conglomerado; e assinou uma carta junto com outros milion�rios solicitando o aumento dos impostos sobre pessoas com grandes fortunas.

Em entrevista � jornalista Emily Webb no programa de r�dio Outlook, da BBC, ela conta por que sempre se sentiu t�o desconfort�vel com uma vida que, para muitos, poderia ser digna de conto de fadas.


Aos 60 anos, Abigail Disney � uma mulher multimilion�ria — mas isso n�o a impede de pegar o metr� para conceder esta entrevista em Nova York.

E isso diz muito sobre ela.

A cineasta n�o revela quanto vale exatamente sua fortuna hoje, mas com base na renda do imp�rio Disney, estima-se que o montante chegue a US$ 500 milh�es.


Abigail criticou recentemente a reabertura dos parques da Disney em meio à pandemia de covid-19
Abigail criticou recentemente a reabertura dos parques da Disney em meio � pandemia de covid-19 (foto: Getty Images)

Ela � neta de Roy Oliver Disney, cofundador da The Walt Disney Company junto com o irm�o Walt Disney.

Criada em Los Angeles, na Calif�rnia, na d�cada de 1960, Abigail demorou a ter no��o do alcance de seu sobrenome.

"Depois que passei dos 10 anos, ficou claro que nem todo mundo vivia em um lago. Mas ainda n�o tinha a sensa��o de que �ramos especiais ou grande coisa, exceto quando �amos � Disneyl�ndia. E acho que isso me incomodava porque a gente tinha que ficar bem comportado, coisas do tipo", recorda.

Naquela �poca, ela conta que a principal preocupa��o dos pais era passar valores s�lidos para ela e os tr�s irm�os.

"Meus pais eram conservadores no aspecto pol�tico, � claro, mas tamb�m, sobretudo, na vida pessoal. Eles acreditavam que voc� devia respeitar os mais velhos, dizer a verdade, ser leal �s pessoas que est�o perto de voc�, que a fam�lia vem em primeiro lugar", enumera.

Neste contexto, a riqueza e o status da fam�lia ficavam em segundo plano:

"A lista da Forbes (ranking anual das pessoas mais ricas do mundo) era realmente uma piada para a gente. Comparar minha conta banc�ria com a sua n�o era algo que faz�amos na minha fam�lia. E meus pais n�o estimulavam, quando eu era crian�a, qualquer senso de valor por se ter dinheiro ou status."

"Na verdade, eles evitavam a cena de Hollywood e queriam nos manter fora dela", acrescenta.

Sobrinha-neta de Walt Disney, ela afirma que teve pouco contato com o tio av�, que faleceu em dezembro de 1966.

"Walt morreu quando eu tinha uns 5 ou 6 anos, n�o lembro. Mas me lembro que quando ele morreu, houve tristeza n�o apenas na minha fam�lia, como tamb�m no est�dio."

Ela se recorda, no entanto, com muito carinho do av�:

"Meu av� era um homem bastante acolhedor, muito doce e de bom cora��o."


Roy Oliver Disney, fotografado ao lado da esposa Edna Francis, faleceu em dezembro de 1971
Roy Oliver Disney, fotografado ao lado da esposa Edna Francis, faleceu em dezembro de 1971 (foto: Getty Images)

"A fam�lia era tudo para ele. Definitivamente, t�nhamos um la�o familiar forte", completa.

O peso da heran�a

Ao completar 21 anos, Abigail foi informada que havia herdado US$ 10 milh�es.

"Cada um de n�s (dos irm�os) era levado para almo�ar pelo nosso advogado no dia em que completava 21 anos e informado sobre quanto havia herdado. Era uma esp�cie de cerim�nia", revela.

Ela conta que ficou bastante perturbada com a quantia:

"Eu fiquei t�o aborrecida, t�o aborrecida. Eu diria at� traumatizada com o n�mero. Isso aconteceu em 1981, quando eu tinha 21 anos, ent�o US$ 10 milh�es era mais dinheiro do que agora", lembra.

"E me parecia que nenhum ser humano decente deveria ter muito mais dinheiro do que qualquer outro. Eu simplesmente n�o conseguia ficar confort�vel com isso."

A partir daquele momento, Abigail passou a se sentar com conselheiros, advogados e assessores de investimentos para administrar a heran�a.

"� como ter um cachorro muito, muito, muito peludo que precisa de escovado todos os dias. � bom ter, obviamente, por raz�es muito importantes, mas quando voc� tem 21 anos, � muito estranho ter essa responsabilidade simplesmente caindo no seu colo."

Vergonha do sobrenome

Como estudante na Universidade de Yale, no Estado americano de Connecticut, ela afirma que come�ou a se sentir numa posi��o desconfort�vel � medida que se tornou "objeto de curiosidade" — e era importunada por colegas que questionavam se ela era de esquerda.

"Havia a sensa��o de que eu estava de alguma forma implicada na pol�tica bem conhecida que minha fam�lia havia praticado durante os pol�micos anos 1960. Walt (Disney) entregou nomes para Joseph McCarthy, e coisas do tipo."

Abigail se refere ao per�odo da hist�ria americana que ficou conhecido como Era McCarthy (ou macartismo), caracterizado pela repress�o e persegui��o pol�tica a pessoas suspeitas de atividades comunistas — personificada na figura do senador republicano Joseph McCarthy.

"Eles (parentes) eram grandes conservadores anticomunistas".


Walt Disney, tio avô de Abigail, foi aliado da 'caça aos comunistas' nos EUA
Walt Disney, tio av� de Abigail, foi aliado da 'ca�a aos comunistas' nos EUA (foto: Getty Images)

O pano de fundo era a Guerra Fria, que colocou de lados opostos os Estados Unidos (capitalista) e a Uni�o Sovi�tica (socialista) na disputa pela hegemonia mundial.

Enquanto McCarthy ca�ava comunistas entre os artistas de Hollywood, Walt Disney teria colaborado com a Comiss�o de Assuntos Antiamericanos entregando alguns nomes.

Tudo isso fez Abigail ter vergonha do sobrenome.

"Tinha muita vergonha do nome Disney. Se algu�m me perguntava se eu era parente, eu dizia apenas que n�o. Porque se eu dissesse que sim, abria a porta para uma conversa que eu n�o sabia como administrar."

"�s vezes, era uma conversa em tom de admira��o sobre como minha fam�lia era maravilhosa, e nesse caso eu sentia vergonha por n�o ter nada em comum com aquelas pessoas. Ou era uma conversa sobre quanto dinheiro eu tinha. Ou sobre o que minha fam�lia tinha feito politicamente. N�o tinha como escapar", explica.

Rela��o familiar abalada

Quando ela terminou a universidade, seu pai, Roy Edward Disney, come�ou a al�ar voos mais altos na carreira — e acabou liderando o processo que culminou no chamado Renascimento da Disney, marcado por filmes de anima��o de grande sucesso, como A pequena sereia, A Bela e a Fera e O Rei Le�o.

O resultado foi uma grande inje��o de caixa para os Est�dios Disney — e, � claro, para a fam�lia Disney.

Foi quando Abigail percebeu que a rela��o dos pais com o dinheiro havia mudado:

"Eles investiam muito tempo na vida profissional em busca de dinheiro. Em busca de mais dinheiro."

"Tivemos uma grande reuni�o de fam�lia quando eu tinha uns 30 anos nos seguintes termos: 'aqui est� o patrim�nio l�quido do seu pai e queremos que chegue a US$ 1 bilh�o'", relembra.

"Minha rea��o instant�nea foi: 'N�o, n�o'. Valer US$ 1 bilh�o parecia profundamente errado para mim."

Tudo isso foi abalando sua rela��o com a fam�lia.

"N�o sei como fui parar naquela fam�lia, estava convencida de que tinha havido uma confus�o terr�vel quando entregaram os beb�s na maternidade. Nunca me senti confort�vel", desabafa.

Ela se recorda do momento em que se deu conta de que n�o "pertencia" �quele ambiente.

"Para mim, a ficha caiu dentro de um jatinho particular, que oferece a voc� a oportunidade de n�o se misturar com outros seres humanos", diz ela.


'Me parecia que nenhum ser humano decente deveria ter muito mais dinheiro do que qualquer outro', diz Abigail
'Me parecia que nenhum ser humano decente deveria ter muito mais dinheiro do que qualquer outro', diz Abigail (foto: Getty Images)

Na ocasi�o, ela estava a caminho de uma reuni�o de neg�cios da fam�lia.

"O avi�o decolou, e eu subi na cama de casal, que tinha um cinto de seguran�a gigante. Era para eu dormir o tempo todo, mas simplesmente n�o consegui porque ficava pensando: 'Isso est� errado, isso est� errado, isso est� errado.. isso � um exagero'."

A partir daquele momento, ela diz que parou de usar o jatinho da fam�lia. E conta que, em v�rios momentos, chegou a pensar em doar toda sua fortuna.

"Foram milhares de momentos assim", afirma.

At� hoje, ela estima j� ter doado mais de US$ 70 milh�es do seu patrim�nio.

"Basicamente, consegui manter o valor base, o mesmo valor por muito tempo, enquanto fazia contribui��es bastante significativas para o bem-estar de outras pessoas."

No fim da vida dos pais, um epis�dio marcante evidenciou o que ela considera ser o impacto destrutivo do dinheiro na sua fam�lia:

"Meu pai e minha m�e eram as pessoas mais pr�ximas e unidas que voc� pode imaginar. Eles cresceram juntos, e ele a pediu em casamento quando ela tinha 19 anos. Aos 20 anos, ela era a senhora Roy Disney."

"Quando ela estava com 70 anos, e come�ou a ter sintomas de Alzheimer, eles estavam casados %u200B%u200Bhavia 50 anos, e ele a deixou por uma mulher da minha idade", revela.

"Foi devastador para minha m�e acima de tudo, que passou um ano e meio perguntando: 'Para onde seu pai foi?', porque ela esquecia e voc� precisava repetir. E isso foi incrivelmente doloroso. Mas foi devastador para mim estar l� com raiva do meu pai."

Abigail atribui o colapso da fam�lia � rela��o que desenvolveram com o dinheiro:

"Esse foi, honestamente, o sinal definitivo do tipo de podrid�o que o dinheiro cria no cora��o. Havia realmente tomado conta", avalia.

Era o fim do pseudo conto de fadas da fam�lia Disney:

"Quando meu pai deixou minha m�e, houve essa exposi��o p�blica de um tra�o cruel da sua personalidade, e senti um al�vio que voc� nem imagina, de que pelo menos agora a nossa imagem p�blica correspondia ao que eu sabia que era de fato no privado."

Hoje, Abigail tenta passar adiante seus pr�prios valores na cria��o dos filhos.

"Eu e meu marido decidimos priorizar certas qualidades que n�o t�m nada a ver com dinheiro. Uma delas � generosidade. Todo mundo que � generoso que eu conhe�o tamb�m � uma pessoa feliz. Tamb�m ensino e falo muito sobre justi�a", explica.

"Me certifico de que eles entendam que o dinheiro e o sobrenome n�o querem dizer nada sobre quem eles s�o."

E como ser� que ela se sente em rela��o � fortuna atualmente?

"Me sinto muito mais confort�vel do que antes", responde.


Abigail compara sua situação com a do personagem Mickey Mouse no filme 'Fantasia'
Abigail compara sua situa��o com a do personagem Mickey Mouse no filme 'Fantasia' (foto: RDB/ullstein bild via Getty Images)

"Na verdade, eu sempre me imagino como o Mickey Mouse em Fantasia, quando ele rouba a vassoura do feiticeiro, e ela fica fora de controle. � exatamente isso. Voc� pode usar (o dinheiro) muito mal se for arrogante, impulsivo ou n�o pensar com clareza; se n�o for realmente maduro, atencioso e emp�tico em rela��o ao efeito que tem nas pessoas ao seu redor, voc� pode fazer coisas horr�veis com ele."

"Ou pode ser uma bela ferramenta", finaliza.

Ou�a aqui (em ingl�s) a �ntegra do programa de r�dio Outlook


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