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Estado de Minas

Mulheres que matam no Afeganist�o, uma incongru�ncia no universo talib�


22/11/2020 14:19

Nasreen e Muzghan assassinaram membros das for�as afeg�s em nome dos talib�s. No entanto, para n�o trair a vis�o ultraconservadora que alimentam sobre o papel da mulher, os insurgentes silenciam sua contribui��o.

Essas duas afeg�s faziam parte dos �ltimos 400 prisioneiros talib�s, considerados os mais perigosos, entre os 5.000 rebeldes libertados pelo governo afeg�o neste ano, o que abriu o caminho para as negocia��es de paz em setembro no Catar.

"Fui presa por assassinato, sequestro e coopera��o com a rede Haqqani", explica Muzghan, com voz e olhares firmes, em um v�deo registrado antes de sua liberta��o.

"N�o voltarei a trabalhar com esse grupo", afirma a jovem com a m�o tatuada, em refer�ncia � rede sanguin�ria vinculada aos talib�s.

A AFP teve acesso aos arquivos judiciais das duas mulheres, assim como � lista dos 400 prisioneiros da qual faziam parte. Neste grupo estava tamb�m a iraniana Nargis, que matou um conselheiro americano em 2012.

N�o se sabe a idade de Muzghan, mas pelas imagens do v�deo ela aparenta ter cerca de 30 anos. Seu olhar brilha, mas o de sua tia Nasreen, de 45 anos, presa pelos mesmos crimes, parece cansado e cheio de sangue, conforme observado em outro v�deo gravado ap�s sua liberta��o.

Assim como � o caso de muitas fam�lias afeg�s, as duas mulheres possuem familiares tanto no lado rebelde quanto no das for�as de seguran�a, que travam uma guerra at� a morte desde que os talib�s foram expulsos do poder em 2001 por uma coaliz�o internacional liderada pelos Estados Unidos.

- "N�o precisamos delas" -

Dois homens, um genro e um cunhado de Nasreen, pagaram o pre�o. Um foi envenenado e o outro morreu na explos�o de uma bomba que elas colocaram em seu carro.

Elas tamb�m assassinaram um agente da intelig�ncia, que atra�ram para sua casa usando uma filha de Nasreen como isca, "sob o pretexto de vender seu corpo", conta uma fonte da seguran�a.

As duas mulheres participaram tamb�m de dois atentados, um deles com granada. Em 2016, foram presas e depois condenadas � morte por assassinato, atividades terroristas e pertencimento ao Talib�.

O caso dessas duas assassinas � algo quase "nunca visto", j� que para os insurgentes "o lugar da mulher � em casa", explica Ashley Jackson, do Overseas Development Institute, um centro de pesquisa brit�nico.

"Permitir que participem, ou admitir que desempenharam um papel na guerra, iria contra os princ�pios fundamentais do movimento", continua. "Se uma mulher pode lutar, o que a impede de sair de casa sozinha ou burlar outras restri��es?", questiona.

O porta-voz dos talib�s, Zabihullah Mujahid, negou os crimes cometidos por Nargis, Nasreen e Muzghan, chamando-as de "simples membros das fam�lias" talib�s presas durante opera��es americanas.

"Evidentemente, as mulheres membros de fam�lias [de insurgentes] cooperam [...]. Mas as mulheres n�o s�o inclu�das, recrutadas e n�o s�o ordenadas a participar das opera��es", insistiu Mujahid � AFP. "� proibido. N�o precisamos delas", enfatizou.

Para um membro do governo pr�ximo ao caso, as tr�s condenadas, se n�o s�o "talib�s", poderiam ser "criminosas que trabalhavam para os talib�s por dinheiro".

- "Extremamente raro" -

De acordo com Matthew Dearing, pesquisador na Universidade de Defesa Nacional nos Estados Unidos, os talib�s, ao contr�rio de outros grupos insurgentes, continuaram excluindo as mulheres de sua luta porque n�o lhe faltavam combatentes.

"Os talib�s nunca foram pressionados a tal ponto pelas for�as da OTAN de forma a reconsiderar suas t�ticas de uma maneira que os obrigasse a mudar suas normas", explica, descrevendo as tr�s mulheres como um fen�meno "extremamente raro".

O caso de Nargis levanta ainda mais d�vidas: iraniana casada com um policial afeg�o em Cabul, ela matou um conselheiro americano em 24 de dezembro de 2012 no quartel general da pol�cia da capital.

Na �poca, seu ato foi atribu�do a um desequil�brio mental e nenhum v�nculo aparente com os talib�s foi encontrado. Ela foi condenada � morte por assassinato e espionagem.

"Ela n�o era totalmente uma pessoa com problema mental", insiste uma fonte do governo.

Em seu arquivo, Nargis diz que agiu sob as ordens de um homem que conheceu na embaixada iraniana, que lhe prometeu um visto, casa, carro e trabalho no Ir�.

Segundo as autoridades talib�s, outras duas mulheres, familiares dos insurgentes, estavam entre os 5.000 prisioneiros talib�s soltos recentemente.

V�rias autoridades rebeldes confirmaram a liberta��o das prisioneiras, que voltaram para suas casas.


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