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Estado de Minas 'ESC�NDALO POL�TICO'

O 'baile dos 41', a festa gay da elite do M�xico que provocou um esc�ndalo h� mais de um s�culo

Filme mexicano, lan�ado neste ano, relembra epis�dio homof�bico que marcou dezenas de vidas para sempre.


27/12/2020 07:38 - atualizado 27/12/2020 11:27


Os atores mexicanos Alfonso Herrera e Emiliano Zurita são protagonistas do filme 'El baile de los 41', baseado em acontecimentos reais(foto: IMDB)
Os atores mexicanos Alfonso Herrera e Emiliano Zurita s�o protagonistas do filme 'El baile de los 41', baseado em acontecimentos reais (foto: IMDB)

H� mais de 100 anos, alguns mexicanos associam o n�mero 41 � homossexualidade masculina.

A origem desse comportamento remete a um baile que contou com a presen�a de 42 homens na noite de 17 de novembro de 1901, no centro da Cidade do M�xico.

Metade dos convidados estava usando roupa de mulher — e grande parte era abastada ou integrante da elite social da �poca.

A festa foi interrompida pela pol�cia, que prendeu quase todo mundo. Na verdade, apenas um dos participantes conseguiu escapar — os outros 41 foram detidos.

O caso foi um dos maiores esc�ndalos sociais da �poca que ficou conhecida como 'Porfiriato', quando o pa�s era governado pelo presidente Porfirio D�az.

Na verdade, reza a lenda que quem conseguiu escapar naquela noite foi o genro do presidente, Ignacio de la Torre y Mier.

Em novembro deste ano, a hist�ria chegou aos cinemas, retratada no filme mexicano El baile de los 41, dirigido por David Pablos, com Alfonso Herrera no papel do marido da filha do presidente mexicano.


Após o escândalo, o número 41 passou a ser usado para fazer referência a homossexuais no México(foto: Museo José Guadalupe Posada)
Ap�s o esc�ndalo, o n�mero 41 passou a ser usado para fazer refer�ncia a homossexuais no M�xico (foto: Museo Jos� Guadalupe Posada)

Por mais de um s�culo, n�o se conhecia a identidade dos demais presos.

At� que o advogado Juan Carlos Harris, que se define como um "historiador frustrado", encontrou os nomes de sete deles nos arquivos do Supremo Tribunal de Justi�a (SCJN, na sigla em espanhol).

Harris descobriu ainda uma s�rie de abusos e viola��es contra os presos que, mais de um s�culo depois, come�aram a vir � tona.

Pris�o ilegal

O esc�ndalo de 1901 � conhecido como El baile de los 41 maricones ("O baile das 41 maricas", em tradu��o livre). A festa aconteceu na rua de La Paz, onde hoje � o Centro Hist�rico da capital, pr�ximo ao Pal�cio Nacional, resid�ncia do presidente.

Segundo os jornais da �poca — �nica fonte documental do caso —, um policial ouviu um barulho em uma das casas �s 3h da manh�, e quando foi averiguar, se deparou com os casais.

Ele pediu ent�o refor�os para det�-los, algo que segundo Harris, era ilegal.

"N�o havia motivo para prend�-los", diz o advogado � BBC News Mundo, servi�o em espanhol da BBC. "Legalmente, a homossexualidade como tal nunca foi proibida no M�xico."

Mas quase todos os participantes da festa foram presos, exceto o genro de Porfirio D�az, segundo a cren�a popular, cujo nome teria sido retirado da lista para evitar um esc�ndalo pol�tico.

Em seguida, foram obrigados a varrer as ruas da capital mexicana com as roupas que tinham usado na festa, o que tamb�m era considerado ilegal, j� que nenhuma lei previa esse tipo de puni��o.

Outro abuso foi o esc�rnio nos jornais, que chegaram a publicar uma m�sica para zombar dos presos, acompanhada por gravuras de Jos� Guadalupe Posada.


Alfonso Herrera (à direita) interpreta o marido de Amada Díaz, filha do presidente Porfirio Díaz, no filme 'El baile de los 41'(foto: IMDB)
Alfonso Herrera (� direita) interpreta o marido de Amada D�az, filha do presidente Porfirio D�az, no filme 'El baile de los 41' (foto: IMDB)

O artista � um dos cartunistas mais importantes do M�xico, autor do famoso personagem 'La Catrina' que elegantemente representa a morte.

Com esse esc�ndalo, nasceu a 'Lenda dos 41'. Mas a hist�ria n�o termina por aqui.

Destino tr�gico

Nas horas seguintes � opera��o policial, v�rios presos foram libertados.

Juan Carlos Harris acredita que eles pagaram propina � pol�cia e �s autoridades da capital para serem soltos.

Foi o caso dos mais ricos ou daqueles que pertenciam a fam�lias conhecidas no meio social do Porfiriato.


Alguns mexicanos ainda associam o número 41 à homossexualidade(foto: Getty Images)
Alguns mexicanos ainda associam o n�mero 41 � homossexualidade (foto: Getty Images)

O restante, sem tantos recursos, foi incorporado � for�a no Ex�rcito.

V�rios foram enviados para lutar na Guerra das Castas, que estava sendo travada em Yucat�n, no sudeste do pa�s.

"Foi uma esp�cie de banimento, e a �nica forma que eles encontram de fazer isso foi colocando eles no Ex�rcito", afirma o advogado.

O destino final deles n�o � conhecido, mas Harris e alguns historiadores que pesquisam o tema acreditam que eles tenham morrido em batalhas.

Embora n�o tenha sido documentado, � muito prov�vel que tamb�m tenham sofrido abusos dentro do Ex�rcito, uma vez que o motivo de seu recrutamento nunca foi ocultado dos demais soldados, acrescenta o advogado.

"Eles foram presos, sofreram um esc�rnio muito forte", explica. "� uma quest�o muito grave, e n�o apenas o disparate que certos grupos sociais soltam".

Harris conseguiu identificar nos arquivos do Supremo os nomes dos presos que haviam entrado com uma medida cautelar contra o alistamento for�ado no Ex�rcito. S�o eles: Pascual Barr�n, Felipe Mart�nez, Joaqu�n Moreno, Alejandro P�rez, Ra�l Sevilla, Juan B. Sandoval e Jes�s Sol�rzano.

Mais de um s�culo depois

Por que alguns mexicanos associam o n�mero 41 � homossexualidade?

Um dos motivos � o esc�ndalo causado pelo baile e o n�mero de presos, explicam os historiadores.

Mas o status social de alguns participantes da festa tamb�m teve influ�ncia, de acordo com Harris. O esc�rnio que eclodiu foi uma esp�cie de vingan�a social.

Uma rea��o de inc�modo em rela��o ao que na �poca era conhecido como "a decad�ncia dos lagartixos", com eram chamadas as pessoas abastadas do Porfiriato.

E revela tamb�m a profunda homofobia que ainda hoje, mais de um s�culo ap�s o baile, existe em algumas partes do pa�s.

Por isso � importante identificar quem foi preso, diz o advogado, mas sobretudo lembrar qual foi seu destino.

"H� tentativas muito s�rias, muito graves de retrocesso, inclusive buscando a supress�o de direitos civis", explica.

"Talvez n�o entendamos o que isso significa. � algo muito grave."


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