
Ela foi escravizada, conquistou a pr�pria liberdade, ajudou outras dezenas de pessoas a escaparem e se transformou em hero�na nos Estados Unidos. Agora, 108 anos ap�s sua morte, a abolicionista negra Harriet Tubman poder� passar a ilustrar a nota de US$ 20.
"� importante que nossa moeda reflita a hist�ria e a diversidade de nosso pa�s", disse Psaki.
Ainda n�o h� data prevista para a mudan�a, que inicialmente havia sido anunciada ainda durante o governo de Barack Obama, em 2016. Na �poca, a expectativa era de que o novo design seria finalizado at� 2020.
O fato de Jackson ter sido senhor de escravos e tamb�m ter papel importante na remo��o violenta de ind�genas de territ�rios no sul do pa�s levaram cr�ticos a pedirem que ele fosse retirado da nota de US$ 20. O plano inicial era incluir o s�timo presidente em uma cena no verso da c�dula.
Mas o presidente Donald Trump, que assumiu o poder em 2017, � um admirador de Jackson, a quem considera um "presidente do povo". Quando ainda era candidato, Trump atribuiu a ideia de mudar a c�dula ao "politicamente correto". Durante seu governo, colocou um retrato de Jackson no Sal�o Oval.
Nos EUA, cabe ao secret�rio do Tesouro aprovar o design final das c�dulas. O secret�rio do Tesouro de Trump, Steven Mnuchin, disse que, na reformula��o da nota, o foco principal s�o os elementos de seguran�a, e n�o o retrato, e que quest�es t�cnicas impediriam que a nova c�dula entrasse em circula��o antes de 2028.
A demora nas mudan�as recebeu cr�ticas de democratas. Mas uma porta-voz do Bureau of Engraving and Printing, ag�ncia ligada ao Departamento do Tesouro respons�vel pela produ��o das c�dulas, disse � BBC News Brasil que n�o houve atraso no cronograma durante o governo Trump e que o processo � naturalmente demorado.
"A principal raz�o pela qual c�dulas s�o reformuladas � seguran�a contra falsifica��o", esclareceu a porta-voz, ressaltando que o processo de design � complexo e exige v�rios testes at� que as notas estejam prontas para produ��o. Ela afirmou que ainda n�o foram selecionadas imagens finais para o novo design.
Escravid�o
N�o se sabe a data exata do nascimento de Tubman. Segundo o National Park Service, ag�ncia do governo federal respons�vel por monumentos e propriedades hist�ricas, pesquisas recentes indicam que ela nasceu no in�cio de 1822, em uma �rea chamada Peter's Neck, no condado de Dorchester, no Estado de Maryland.
Seu nome era Araminta Ross, mas ganhou o apelido de Minty. Os pais, Harriet Green e Benjamin Ross, eram escravizados. Ela tinha quatro irm�os e quatro irm�s e come�ou a servir como escrava dom�stica aos cinco anos de idade. Na adolesc�ncia, passou a trabalhar como escrava na lavoura.
"Sinais precoces de sua resist�ncia � escravid�o e seus abusos foram demonstrados aos 12 anos de idade, quando interveio para impedir que seu mestre espancasse um homem escravizado que havia tentado escapar", diz a historiadora Debra Michals em artigo publicado pelo Museu Nacional de Hist�ria das Mulheres.
"Ela foi atingida na cabe�a com um peso de quase um quilo, o que a deixou com dores de cabe�a severas e narcolepsia pelo resto da vida", afirma Michals.
Michals observa que, ao contr�rio do que muitos acreditam, a Underground Railroad, uma rede secreta de rotas e esconderijos para dar apoio �queles que escapavam da escravid�o fugindo para o norte do pa�s ou para o Canada, n�o foi criada por Tubman, e j� existia desde o fim do s�culo 18, organizada por abolicionistas negros e brancos.
Nessa rede de apoio, os fugitivos eram guiados por pessoas chamadas de "condutores". No trajeto, escondiam-se em igrejas, escolas e casas de apoiadores. A rede tinha v�rias rotas diferentes em diversos Estados.

Liberdade
Em 1844, "Minty" se casou com John Tubman, um homem negro livre. Nessa �poca, tamb�m mudou seu nome para Harriet, o mesmo de sua m�e.
Tubman temia ser vendida para outro senhor de escravos quando escapou de Maryland pela primeira vez, em 1849, aos 27 anos de idade, ao lado de dois de seus irm�os, Ben e Harry. Seu marido se recusou a ir com eles e, dois anos depois, casou-se com uma mulher negra livre.
Essa primeira tentativa de fuga foi fracassada. Em 3 de outubro de 1849, a senhora de escravos Eliza Brodess publicou um an�ncio no jornal local oferecendo recompensa de US$ 100, o equivalente a cerca de US$ 3,3 mil (R$ 17,7 mil) em valores atuais, por cada um dos tr�s fugitivos que fossem recapturados: Minty (Tubman), Ben e Harry.
Algumas semanas depois eles acabaram retornando � fazenda onde eram escravizados. Mas Tubman logo escapou novamente, desta vez sozinha, e conseguiu chegar � cidade da Filad�lfia, onde a escravid�o n�o era permitida. L�, come�ou a trabalhar como dom�stica e cozinheira.
O dinheiro economizado financiou v�rias viagens de volta a Maryland nos 11 anos seguintes, para ajudar a guiar outros escravizados em busca de liberdade no norte. Ela se tornou a mais famosa entre os "condutores" da Underground Railroad e ficou conhecida como "Mois�s de seu povo".
"Conforme declara��es da pr�pria Tubman e extensa documenta��o sobre suas miss�es, sabemos que ela resgatou cerca de 70 pessoas - familiares e amigos - em aproximadamente 13 viagens a Maryland", diz um artigo sobre ela publicado pelo National Park Service.

"Em encontros p�blicos e privados durante 1858 e 1859, Tubman repetidamente disse que havia resgatado entre 50 e 60 pessoas em oito ou nove viagens. Isso foi antes de sua �ltima miss�o, em dezembro de 1860, quando ela trouxe sete pessoas", diz o texto.
Acredita-se que, al�m das pessoas que conduziu pessoalmente, ela ajudou cerca de outros 70 escravizados indiretamente, dando instru��es sobre como chegar ao norte por conta pr�pria.
Miss�es
As miss�es de resgate eram perigosas. A Lei do Escravo Fugitivo de 1850 endureceu leis semelhantes anteriores e estabelecia que autoridades e cidad�os brancos em qualquer lugar do pa�s deveriam ajudar a recapturar pessoas escravizadas fugitivas dos Estados onde a escravid�o era permitida.
Caso fosse recapturada, al�m de ser submetida a castigos f�sicos, Tubman seria escravizada novamente. Segundo historiadores, ela usava disfarces em suas miss�es e contava com a ajuda de pessoas de confian�a, que indicavam a melhor rota e ofereciam abrigo.
O trajeto era feito a p�, a cavalo, de barco e de trem. Ela seguia rios, estrelas e fen�menos naturais para achar a dire��o ao norte, e usava can��es como forma de comunicar ao grupo situa��es de perigo ou seguran�a.
Tubman carregava uma pistola, n�o apenas para prote��o contra ca�adores de escravos, mas tamb�m para desencorajar fugitivos que pudessem mudar de ideia e desistir da jornada, o que colocaria em risco a seguran�a do resto do grupo.
Ela nunca foi capturada e se orgulhava de jamais ter perdido um "passageiro". A experi�ncia e o conhecimento adquiridos durante mais de dez anos refazendo o trajeto a transformaram em figura valiosa durante a Guerra Civil (1861-1865).
Com a guerra, a Underground Railroad deixou de atuar na clandestinidade e passou a se somar aos esfor�os da Uni�o contra os Estados Confederados escravocratas. Tubman atuou como espi� e enfermeira para as tropas da Uni�o e teve papel de destaque em opera��es de intelig�ncia e de resgate de escravizados.
De volta ao norte, ela ajudava os ex-escravizados a encontrarem emprego e moradia, e arrecadava dinheiro para apoiar os rec�m-libertos. Ela convivia com abolicionistas, pol�ticos, escritores e intelectuais e, ap�s o fim da guerra, teve participa��o importante em outras causas, entre elas a luta pelo voto feminino.
Em 1859, Tubman comprou uma propriedade em Auburn, no Estado de Nova York, onde posteriormente estabeleceu um lar de idosos. Ela se casou pela segunda vez, com Nelson Davis, que tamb�m havia sido escravizado e lutou na guerra como soldado da Uni�o. Em 1874, eles adotaram uma filha.
Tubman morreu em 1913 e foi sepultada com honras militares no cemit�rio de Fort Hill, em Auburn. Quando a mudan�a na nota de US$ 20 for realizada, Tubman se tornar� a primeira pessoa negra a estampar uma c�dula da moeda americana.
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