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Estado de Minas SANTIAGO

Justi�a lenta para mulheres v�timas de tortura sexual na ditadura chilena


05/03/2021 08:22

J� se passaram quase 50 anos, mas Beatriz Bataszew lembra vividamente dos abusos que sofreu durante o regime do ditador chileno Augusto Pinochet.

Como milhares de outros opositores da ditadura, ela foi presa e torturada - um destino que para as mulheres frequentemente acompanhava o estupro ou outras formas de tormento sexual.

Bataszew, agora uma psic�loga de 66 anos, foi detida em setembro de 1974 por fazer parte do Movimento Revolucion�rio de Esquerda do Chile (MIR).

Ela sobreviveu a sete dias de terror em um centro de deten��o especializado em tortura sexual, que buscava abater o �nimo de ativistas capturadas e enviar uma mensagem a outras pessoas.

As prisioneiras eram vendadas ao chegar e mantidas assim durante sua estada em celas superlotadas. M�sicas eram tocadas sem parar para abafar os sons da tortura, o que rendeu ao centro o apelido ir�nico de "Discoteca".

"Aqui ressoaram nossos gritos, nossos choros", revelou Bataszew � AFP em uma recente visita ao local de seus pesadelos.

O pr�dio hoje � uma resid�ncia privada, apesar de ter sido marcado como um memorial. Na rua l� fora, um monumento de metal improvisado exibe fotos de mulheres que nunca voltaram da "Discoteca".

- "Mais crueldade" -

"As mulheres eram um osso duro de roer e... punidas com muito mais crueldade do que os homens", afirmou Bataszew.

Mais de 40 mil pessoas foram torturadas e cerca de 3.200 foram mortas ou levadas a desaparecer nos 17 anos de poder p�s-golpe de Pinochet, entre 1973 e 1990.

A tortura era diferente para mulheres e homens. Alguns dos m�todos inclu�am estupr�-las na frente de seus parceiros ou inserir ratos vivos em suas vaginas.

Cerca de 35 mil v�timas dos militares prestaram depoimento � Comiss�o Nacional sobre Pris�o Pol�tica e Tortura em 2005, das quais quase 13% (3.399) eram mulheres, quase todas v�timas de viol�ncia sexual.

As v�timas relataram choques el�tricos em seus �rg�os genitais e estupros por c�es treinados para realizar esse ato vil.

Dezessete anos ap�s a comiss�o - e cinco d�cadas desde os horrores - uma decis�o da Justi�a de novembro do ano passado possibilitou que esses atos pudessem finalmente ser punidos pelo que s�o: tortura sexual.

A Justi�a chilena estabeleceu uma nova designa��o de crime para o que ocorria em locais como a "Discoteca", criando uma categoria separada para o que foi julgado anteriormente como "sequestro agravado".

Como parte do mesmo veredicto, o tribunal condenou, pela primeira vez, tr�s agentes da pol�cia pol�tica de Pinochet por tortura sexual.

"� um grande passo porque � a primeira vez que a viol�ncia de g�nero foi reconhecida" como um crime separado, disse � AFP Patricia Artes, porta-voz do grupo Mem�rias da Rebeli�o Feminista.

- Mulher como instrumento de tortura -

Cristina Godoy-Navarrete, hoje com 68 anos e imunologista aposentada, foi uma das primeiras pessoas presas na "Discoteca", tamb�m conhecida como "Venda Sexy" devido � natureza dos abusos perpetrados l�.

"Quando cheguei, havia apenas duas outras mulheres. Eles levavam voc� para uma �rea subterr�nea onde tinham um equipamento para aplicar eletricidade... E onde ficava o cachorro treinado (para os estupros)", contou ela � AFP de Londres, onde se exilou depois de ser libertada um ano ap�s sua pris�o em 1974.

Ela espera que a decis�o judicial do ano passado abra caminho para que a viol�ncia contra ela e outras mulheres seja classificada como crime contra a humanidade.

Algumas das piores puni��es envolviam entes queridos das mulheres. O relat�rio produzido pela comiss�o de tortura do Chile documentou evid�ncias de homens for�ados a estuprar suas filhas ou irm�s.

"Eles me seguraram para ser torturada na frente dele, como sua esposa", lembrou Erika Hennings, esposa de Alfonso Chanfreau, um estudante de filosofia e l�der do MIR ainda registrado como "desaparecido".

A professora aposentada, de 69 anos, disse que foi detida por 17 dias no centro de tortura conhecido como "Londres 38", por seu endere�o, amontoada em uma sala com outras 80 pessoas, sem camas e com os olhos vendados 24 horas por dia.

"O Londres 38 foi um centro de repress�o, tortura... Onde eu conheci o mal e a crueldade", declarou. Ela disse que foi "usada como mulher" para pressionar Chanfreau.

- "Me d� raiva" -

Na Villa Grimaldi, outra c�mara de torturas, Shaira Sep�lveda foi detida por 10 dias.

"Eles sentiam um prazer especial em tentar depreciar, destruir as mulheres", afirmou � AFP a senhora de 72 anos.

Michelle Bachelet, ex-presidente do Chile e agora alta comiss�ria da ONU para os Direitos Humanos, tamb�m foi presa na Villa Grimaldi na d�cada de 1970 com sua m�e, Angela Jeria.

"Me d� raiva, me d� �dio, me irrita ver como eles aproveitaram para destruir e matar nossas companheiras", disse Sep�lveda enquanto visitava recentemente um jardim de rosas criado no centro em mem�ria �s mulheres v�timas da ditadura militar.

"N�o conseguiram o que queriam e espero que um dia possamos ter justi�a, porque elas merecem."


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