A decis�o, anunciada na segunda-feira por um juiz do Supremo Tribunal, acrescenta uma nova vari�vel � grave crise que o pa�s atravessa, com mais de 266 mil mortes pela pandemia do coronav�rus e o desemprego em seus n�veis hist�ricos mais elevados.
O ex-presidente de esquerda (2003-2010) n�o foi exonerado, pois o magistrado decidiu process�-lo novamente em outro tribunal, argumentando falhas processuais.
Mas a decis�o permite seu retorno aos ringues e isso "vai polarizar as narrativas pol�ticas", diz o analista Murillo de Arag�o, da Arko Advice. "O Bolsonaro pode radicalizar o seu discurso e o Lula pode dizer que foi perseguido. As narrativas v�o ganhar tons fortes", explica.
"A presen�a de Lula vai prejudicar claramente as chances eleitorais de um candidato de centro", destacou a consultoria Eurasia Group.
Lula, de 75 anos, participou de todas as elei��es desde a redemocratiza��o em 1985, exceto em 2018, quando superava Bolsonaro nas pesquisas, mas foi impedido de participar pela condena��o de corrup��o passiva e lavagem de dinheiro.
Bolsonaro venceu no segundo turno Fernando Haddad, candidato indicado por Lula.
A disputa dividiu o pa�s entre os partid�rios do Partido dos Trabalhadores de esquerda (que governou por 13 anos, com Lula e Dilma Rousseff) e seus detratores, que abra�aram a figura do ex-capit�o do Ex�rcito apoiado por igrejas pentecostais ultraconservadoras e lobbies do agroneg�cio e seguran�a.
No domingo, uma pesquisa do Ipec revelou que Lula seria o �nico candidato com capital pol�tico superior a Bolsonaro. Embora o estudo n�o os tenha enfrentado em duelo direto, mostrou que o ex-presidente tem 50% de apoio popular, ante 38% do Bolsonaro.
- Unir a esquerda, miss�o imposs�vel? -
Arag�o argumenta que um dos desafios mais dif�ceis de Lula, se ele decidir se lan�ar na arena eleitoral, seria "unir a esquerda". "Atualmente essa uni�o n�o est� clara", diz ele.
O l�der do Partido Democr�tico Trabalhista (PDT, centro-esquerda), Ciro Gomes, terceiro nas elei��es de 2018 com 12% dos votos, recusou-se categoricamente a apoiar sua eventual candidatura.
"O Brasil precisa, diante de um problema grave que temos, construir um caminho do futuro. E francamente eu n�o vejo o caminho do futuro ser constru�do com a volta ao passado lulo-petista envelhecido, desgastado, inconfi�vel, e pior: que faz a caracter�stica de fazer o outro lado se reunir tamb�m com base no �dio", afirmou nesta ter�a-feira.
"O Lula voltar com 75 anos de idade a... radicalizar a divis�o da na��o brasileira � um circo macabro no qual eu n�o quero participar", completou Gomes.
J� o l�der do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), Guilherme Boulos, considerou nesta segunda-feira que "o momento � muito s�rio para priorizar debates sobre o protagonismo". Mas "se a oposi��o chegar [a 2022] com quatro ou cinco candidatos, corre-se o risco de n�o passar ao segundo turno. Vou trabalhar pela unidade", acrescentou.
Bolsonaro reagiu com cautela incomum ao an�ncio de que Lula, contra quem professa publicamente um �dio visceral, poderia se tornar a maior amea�a � sua reelei��o em outubro de 2022.
"Acho que o povo brasileiro n�o vai querer um desses candidatos em 2022, muito menos sua poss�vel reelei��o", disse ele em Bras�lia. Questionado se tinha medo de enfrentar Lula, ele hesitou. "Gostaria de enfrentar qualquer pessoa com um sistema eleitoral que pudesse ser auditado.
Nesse caso, o voto impresso ao lado de uma urna eletr�nica e n�o apenas o voto eletr�nico", declarou, retomando sua cr�tica � atual urna eletr�nica. Sem apresentar provas, Bolsonaro insiste que o sistema permitiu uma fraude nas elei��es de 2018, quando ele conquistou a presid�ncia.
Mas a decis�o do juiz Edson Fachin tem outras implica��es fora da reorganiza��o dos jogadores no conselho pol�tico.
"Muita gente vai entender que o Supremo Tribunal Federal est� favorecendo a impunidade e outros v�o dizer que est� reconhecendo a inoc�ncia de Lula, mas n�o se trata de uma coisa ou outra", diz Michael Mohallem, professor de Direito da Funda��o Get�lio Vargas.
Mohallem opina que a decis�o de Fachin foi uma tentativa de salvar os resultados da Lava Jato. "Ele fez uma manobra para ganhar controle sobre o processo, e evitar que os processos fossem anulados na segunda turma por causa da suspei��o do (ex-juiz) Sergio Moro".
A estrat�gia, alerta o professor Mohallem, pode desgastar o Supremo Tribunal Federal (STF), institui��o que "tem papel fundamental para conter o presidente Bolsonaro, que coloca em risco a democracia brasileira".
S�O PAULO