De 1� a 31 de mar�o, foram registradas 66.573 mortes por covid-19, mais que o dobro dos 32.881 de julho de 2020, que havia sido o m�s mais letal at� agora.
Esta quarta foi registrado um novo recorde di�rio de �bitos: 3.869 em 24 horas, elevando o total de falecidos pela covid a 321.515, um balan�o superado apenas pelos Estados Unidos. A m�dia em sete dias, que cresce sem parar desde fevereiro, � de 2.976, mais do que o qu�druplo do in�cio do ano.
"Nunca um �nico evento gerou tantas mortes em 30 dias na hist�ria do Brasil", disse � AFP o m�dico Miguel Nicolelis, ex-coordenador da Comiss�o Cient�fica formada pelos estados do Nordeste para enfrentar a pandemia.
"� o pior momento, com o maior n�mero de �bitos e maior n�mero de casos. O que indica que o m�s de abril ainda vai ser muito ruim", comentou, por sua vez, a epidemiologista Ethel Maciel, professora da Universidade Federal do Esp�rito Santo (UFES).
A semana de 21 a 27 de mar�o tamb�m foi a que registrou mais casos (quase 540.000), o que significa que, em duas semanas, haver� mais pessoas precisando de interna��o. Desde o in�cio da pandemia, foram 12,7 milh�es de infectados no pa�s.
Mas os hospitais j� est�o saturados: 18 das 27 unidades da federa��o t�m mais de 90% de seus leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) para covid-19 ocupados, e outros sete registram uma ocupa��o entre 84% e 89%, segundo o �ltimo boletim da Funda��o Oswaldo Cruz (Fiocruz).
V�rios estados come�aram a adotar protocolos para alocar os leitos dispon�veis para pacientes com mais chances de sobreviver.
"Chegamos a uma situa��o muito tr�gica, semelhante � que aconteceu na It�lia" no in�cio do ano passado, disse Maciel � AFP.
Pelo menos 230 pessoas com covid-19 ou suspeitas de estarem com a doen�a faleceram em mar�o � espera de leito em uma UTI da regi�o metropolitana de S�o Paulo, segundo a TV Globo.
E os temores aumentam com a proximidade do inverno, quando h� maior demanda para interna��es por outras doen�as respirat�rias.
"Podemos ter uma conflu�ncia de todas essas demandas junto com �ndices ainda muito altos de casos de covid, gerando o que chamo de tempestade perfeita nos meses de inverno no Brasil", afirma Nicolelis.
"A pandemia est� completamente fora de controle e a possibilidade de atingirmos 4.000 �bitos por dia � muito real j� a partir desta semana. E, com isso, a perspectiva de atingirmos um total de meio milh�o de �bitos at� julho passa a ser muito poss�vel", acrescenta.
- Mobilidade social, novas variantes -
A gest�o ca�tica da pandemia fez este m�s com que o ministro da Sa�de, o general Eduardo Pazuello, um militar sem experi�ncia na �rea, fosse substitu�do pelo cardiologista Marcelo Queiroga, quarto titular da pasta em um ano.
Ap�s a primeira reuni�o do comit� rec�m-formado pelo governo e o Congresso para combater a pandemia, Queiroga pediu nesta quarta aos brasileiros que usem m�scaras e mantenham o isolamento durante o feriado da Semana Santa.
Mas o presidente Jair Bolsonaro, que desde o in�cio da pandemia menosprezou a gravidade da doen�a e promoveu aglomera��es sem uso de m�scara, voltou a criticar as medidas de isolamento social, devido a seus efeitos negativos para a economia.
"N�o � ficando em casa que n�s vamos solucionar esse problema", disse, na contram�o dos l�deres do Congresso e do seu pr�prio ministro da Sa�de.
Os confinamentos sempre foram parciais e pouco respeitados no Brasil. Alguns estados, como S�o Paulo e Rio de Janeiro, declararam feriados prolongados este m�s, mas a medida pode ser contraproducente devido ao alto n�mero de pessoas que decidiram viajar ao inv�s de ficar em casa.
A mobilidade social tamb�m aumenta o risco de novas variantes mais contagiosas, como as que surgiram no Reino Unido, na �frica do Sul e no Brasil.
"Estamos gerando uma s�rie de muta��es, uma s�rie de novas variantes, e isso n�o � uma amea�a s� para o Brasil, � uma amea�a para o mundo todo, come�ando pela Am�rica do Sul", ressalta o especialista.
O colapso dos hospitais coloca o Brasil "na fronteira de um colapso funer�rio", aponta.
"Em S�o Paulo e Porto Alegre, j� existem filas para enterros, filas em cart�rios, j� existe uma dificuldade de conseguir urnas funer�rias", relata.
- Vacina��o lenta -
Enquanto isso, a vacina��o avan�a lentamente.
At� o momento, em torno de 8% da popula��o recebeu a primeira dose e 2,3% est� totalmente imunizada com uma das duas vacinas dispon�veis no pa�s: a chinesa CoronaVac e a anglo-sueca da AstraZeneca.
A crise da sa�de anda de m�os dadas com a crise econ�mica. O desemprego passou de 11,2%, em janeiro de 2020, para 14,2%, em janeiro deste ano, afetando 14,3 milh�es de pessoas.
No ano passado, um ter�o da popula��o conseguiu sobreviver com o aux�lio emergencial, suspenso em janeiro. Esses pagamentos ser�o retomados em abril, mas em valores menores.
RIO DE JANEIRO