
Neste ano, em 2021, o domingo de P�scoa ser� celebrado no dia 4 de abril. Mas nem sempre � assim. Nos �ltimos dez anos, a P�scoa j� foi comemorada em dez datas diferentes, com varia��es entre 27 de mar�o e 24 de abril.
Mas por que n�o h� uma data fixa para a P�scoa?
Segundo afirmava Beda, o Vener�vel, religioso ingl�s que viveu no s�culo 7, a P�scoa se d� no primeiro domingo depois da primeira lua cheia ap�s o equin�cio da primavera no hemisf�rio norte (20 de mar�o, em 2018).
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"A astronomia est� no cora��o do estabelecimento da data para a P�scoa. (A data) depende de dois fatos astron�micos - o equin�cio da primavera e a lua cheia", disse Marek Kukula, astron�mo no Observat�rio Real de Greenwich, em Londres.
Trata-se de um "feriado m�vel", e isso se d� gra�as ao sistema complexo que foi desenvolvido para tentar calcular a P�scoa (e a P�scoa Judaica) a partir do c�u, acomodando calend�rios diferentes.
A data mais frequente para a P�scoa nas igrejas ocidentais tem sido 19 de abril, mas o evento j� chegou a cair at� em 25 de abril.
O nosso calend�rio n�o combina exatamente com os ciclos astron�micos.
"Durante milhares de anos v�m sendo feitos c�lculos e ajustes na tentativa de coincidir os calend�rios artificiais com a astronomia. Mas, exatamente pela falta de uma combina��o precisa entre eles, s�o necess�rios c�lculos complexos para se determinar o dia exato do equin�cio e da lua cheia", acrescentou Kukula.
Apesar da famosa briga da Igreja Cat�lica com Galileu, em 1633, por diverg�ncias em rela��o aos estudos de astronomia do f�sico, os religiosos sempre souberam que era preciso calcular as datas para a P�scoa e os dias santos - e que para isso era necess�rio recorrer ao estudo dos astros.
Com esse objetivo, a Igreja Cat�lica construiu seu primeiro observat�rio em 1774.
Mistura
O complicado sistema de determina��o da data da P�scoa � resultado da combina��o de calend�rios, pr�ticas culturais e tradi��es hebraicas, romanas e eg�pcias.
O calend�rio eg�pcio era baseado no Sol, pr�tica adotada primeiramente pelos romanos e posteriormente incorporada pela cultura crist�. O juda�smo baseia o calend�rio hebraico parcialmente na Lua, e o islamismo tamb�m utiliza fases da Lua.
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A data da P�scoa varia n�o somente pela tentativa de harmonizar os calend�rios lunares e solares, mas tamb�m h� outras complica��es que acabam interferindo, como o fato de diferentes vertentes do cristianismo usarem f�rmulas distintas em seus c�lculos.
Em 1582 foi criado o Calend�rio Gregoriano, adotado e promovido pelo papa Greg�rio para fazer com que a P�scoa ca�sse mais cedo e fosse mais f�cil de ser calculada. Esse � o calend�rio que usamos at� hoje.
Segundo a B�blia, a morte e ressurrei��o de Jesus, os eventos celebrados pela P�scoa, ocorreram na �poca da P�scoa Judaica.
A P�scoa Judaica era celebrada na primeira lua cheia depois do equin�cio da primavera no hemisf�rio norte.
Mas isso levou os crist�os a celebrar a P�scoa em diferentes datas. No fim do s�culo 2, algumas igrejas celebravam a P�scoa junto com a P�scoa Judaica, enquanto outras marcavam a data no domingo seguinte.
No ano 325, a data da P�scoa foi unificada gra�as ao Conc�lio de Nic�ia.
A P�scoa passaria a ser no primeiro domingo depois da primeira lua cheia que ocorresse ap�s o equin�cio da primavera (ou na mesma data, caso a lua cheia e o equin�cio ocorressem no mesmo dia).
Domingos diferentes
Mesmo assim, tradi��es e culturas diferentes continuaram fazendo c�lculos distintos para a data.
Um exemplo se deu na Inglaterra, no ano de 664. No reino de Northumbria, o rei Oswiu e sua esposa celebravam a P�scoa em domingos diferentes. O rei observava a tradi��o irlandesa, e a rainha, a romana. Ela era origin�ria de uma parte do reino que tinha sido evangelizada segundo as tradi��es romanas, enquanto a cidade natal do rei Oswiu seguia a tradi��o irlandesa.
Em consequ�ncia, um certo ano o rei celebrou a P�scoa em um domingo, mas a rainha ainda estava no per�odo da quaresma. Para acertar a data, o rei convocou um s�nodo (assembleia de religiosos) na cidade de Whitby.
Na defesa da tradi��o irlandesa, estava o bispo Colman de Lindisfarne. S�o Wilfrid, um nativo de Northumbria treinado em Roma, defendeu a tradi��o romana.
"Em um ponto crucial do debate, ele mencionou S�o Pedro, o guardi�o das chaves do para�so, que as recebeu do pr�prio Cristo. E o rei Oswiu, que presidia o s�nodo, ficou muito impressionado", disse Michael Carter, membro do Patrim�nio Hist�rico Ingl�s.
Com isso, a decis�o foi tomada a favor da tradi��o romana.
"O S�nodo de Whitby garantiu que a Igreja na Inglaterra passasse a adotar a pr�tica ocidental padr�o. Isso significou a unifica��o da celebra��o do mais importante evento do calend�rio crist�o pela igreja inglesa, o dia da ressurrei��o de Cristo. Isso persistiu no pa�s (...) at� a Reforma Anglicana, quando a Inglaterra rompeu com o padr�o religioso e cultural da Europa", acrescentou Carter.
Ortodoxos
As tradi��es ortodoxas dentro do cristianismo continuaram usando o Calend�rio Juliano em vez de aceitar a reforma do calend�rio imposta pelo papa Greg�rio.
As igrejas ortodoxas, portanto, continuaram a celebrar a P�scoa e o Natal em datas diferentes das tradi��es ocidentais ou romanas.
Mas isso pode mudar? O papa Tawadros 2º de Alexandria, l�der da Igreja Ortodoxa Copta, espera que as diferentes vertentes do cristianismo consigam chegar a um acordo sobre essa importante quest�o.
Pouco depois de reunir-se com ele, Justin Welby, arcebispo da Cantu�ria (o equivalente ao papa para a Igreja Anglicana), divulgou uma not�cia surpreendente em janeiro de 2018: depois de muitos s�culos de desacordo, surgiram novas esperan�as de que a data da P�scoa possa ser uma data que todos os crist�os celebrem juntos.
"Durante nossa visita ao Vaticano, em 2013, o papa Tawadros falou novamente sobre o tema com o papa Francisco em Roma", disse o bispo Angaelos, bispo geral da Igreja Ortodoxa Copta na Gr�-Bretanha.
"Parece haver uma disposi��o entre parte das lideran�as da Igreja Crist� para pelo menos avaliar esta possiblidade."
No entanto, ele admite que o caminho parece ser longo. "A dificuldade � que todos precisam sacrificar algo, pois cada um de n�s tem o seu pr�prio jeito de calcular a P�scoa e calculamos assim por s�culos", disse.
Ainda n�o h� um cronograma e o bispo Angaelos afirma que a "tarefa � monumental". "Estamos falando a respeito com muita gente, muitas culturas diferentes, igrejas diferentes e l�deres religiosos diferentes. Ser� uma tarefa monumental. Mas a ideia est� l�."
E o que os astr�nomos acham de uma P�scoa unificada? "De certo modo, a astronomia ficaria fora da equa��o", disse Marek Kukula.
"Ainda seria necess�rio regular o calend�rio - voc� ainda precisaria ter anos bissextos e ajustar segundos - mas a P�scoa deixaria de ser um feriado m�vel e isto tornaria bem mais simples coisas como o planejamento de feriados escolares. Entretanto, se as pessoas v�o querer fazer isso ou n�o, passa por uma quest�o religiosa."
E, levando em conta toda a hist�ria por tr�s da data, o debate sobre a quest�o ainda poder� se estender por muito tempo.