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Estado de Minas MCALLEN

Uma viagem termina e outra come�a para os novos imigrantes nos EUA


02/04/2021 15:22

"Por favor, me ajude, n�o falo ingl�s", diz em letras garrafais em tinta preta o envelope com o qual dezenas de fam�lias centro-americanas sem documentos chegam diariamente ao aeroporto de McAllen, no Texas, para a maioria o primeiro em que entraram na vida.

Esta � a �ltima etapa de uma longa viagem na qual arriscaram a vida para fugir de seus pa�ses em �nibus, carro, trailer, a p� e finalmente em lancha pelo Rio Grande, do M�xico aos Estados Unidos, ao longo de um caminho controlado por cart�is de narcotraficantes.

Eles n�o trazem nem bagagem, nem mochilas. Tiveram que deixar tudo para tr�s. Tudo � novo para a maioria destes imigrantes que v�m de zonas rurais onde trabalhavam na agricultura: o ingl�s, um aeroporto, um avi�o, uma escada rolante...

- "N�o havia outra op��o" -

"Estamos voando nas nuvens!", exclama, sorridente, Isaac, um menino hondurenho de quatro anos, quando o avi�o decola da cidade fronteiri�a de McAllen. "Quero toc�-las", diz, com o nariz colado na janela do avi�o.

Sua m�e, Lidia, de 23 anos, voa para Nova Jersey para se reunir com o marido e o filho mais velho, de seis anos, a quem n�o v� h� dois.

"Vai ser o momento mais feliz da minha vida voltar a ver o meu filho", garante, na sala de espera do aeroporto de McAllen, onde espera o primeiro voo para Houston.

Assim como os demais, Lidia diz fugir da fome, da pobreza e da viol�ncia em seu pa�s.

"Tivemos que nos separar para buscar um futuro melhor para nossos filhos. N�o havia outra op��o", conta.

Seu marido no ir� peg�-la no aeroporto de Newark, em Nova Jersey: como � um imigrante sem documentos, teme ser detido. Ele vai mandar um amigo que tem documentos para recolh�-la.

Ap�s cruzar o Rio Grande, perto de McAllen, Lidia e seu filho foram detidos por agentes da Patrulha Fronteiri�a (CBP). Assim como os outros imigrantes, passaram ali v�rios dias, tiveram as impress�es digitais coletadas, seus dados foram registrados e depois foram liberados em uma cl�nica, onde tiveram que fazer um teste de covid-19.

Dali, seguiram para o ref�gio cat�lico Humanitarian Respite Center, em McAllen, e esperaram para que o marido de Lidia enviasse as passagens.

Agora, tem 60 dias para se apresentar a um escrit�rio da pol�cia migrat�ria (ICE) ou "enfrentar� uma deporta��o", adverte um documento que lhe foi entregue pelos agentes fronteiri�os.

Cerca de 100.000 imigrantes sem documentos foram detidos pela CBP em fevereiro ap�s entrar pela fronteira de 3.200 km com o M�xico, uma cifra que n�o era vista desde meados de 2019, antes da pandemia. E em mar�o foram ainda mais, segundo as autoridades.

O governo de Joe Biden assegura que a fronteira n�o est� aberta, mas diferentemente de seu antecessor, Donald Trump, n�o deporta os menores que chegam desacompanhados em n�meros crescentes, nem muitas fam�lias com filhos.

Filomena, uma camponesa guatemalteca de 20 anos, viaja com seu beb�, Dami�n, grudado nas costas. Ela espera se reunir no Tennessee com seus pais, que partiram para os Estados Unidos quando ela tinha 11 anos.

"Eu vim por causa do meu filho, para dar a ele o que comer", diz. "Fui deixada quando era pequena" por meus pais, conta, enxugando as l�grimas. "Tenho muita vontade de v�-los, de abra��-los, porque j� tem oito anos que n�o os encontro".

Reina, uma salvadorenha de 25 anos e m�e de duas crian�as pequenas, chora no aeroporto ao lembrar o sofrimento da viagem.

"Vivemos momentos muito dif�ceis no M�xico. A gente passa fome, [priva��o de] sono, � um pouco cansativo e �s vezes um pouco arriscado", explica ao lado dela Dania, uma hondurenha de 24 anos que tamb�m viaja com o filho.

- O avi�o, "uma felicidade" -

Os migrantes dizem que o pior da viagem s�o os trailers abarrotados de gente, sem ventila��o.

"Passamos 16 horas em um trailer com 200 pessoas, os homens todos de p� na frente, vinham suando em bicas, alguns gritavam que estavam morrendo, que estavam desmaiando e lhes jogavam �gua", contou uma m�e hondurenha.

Mas agora � a vez de pegarem um avi�o pela primeira vez. Valeriano, um guatemalteco que antes plantava milho e feij�o, est� prestes a embarcar em um voo para Nova York com o filho de seis anos.

H� quatro anos, conta ele chorando, mataram seu irm�o "por n�o vender drogas" para um cartel. Em seguida, quiseram recrut�-lo. "Eu sa� fugindo para Belize, me disseram que se n�o o fizesse me matavam, que matavam meus filhos". Agora, ele viaja para Nova York com um dos meninos "em busca de uma oportunidade".

Ele conta que a viagem de Belize aos Estados Unidos sem documentos foi "terr�vel". "Agora, o avi�o � uma felicidade, embora esteja nervoso e tenha medo de altura", confessa.

No aeroporto de LaGuardia, em Nova York, o marido de Dania, Samuel, veio pegar a ela e ao filho. Os tr�s se abra�am e o pai levanta o menino, emocionado.

"Depois vamos comprar o que voc� quiser", diz para ele, com um largo sorriso.


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