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Estado de Minas CARACAS

O paradoxo da dolariza��o na Venezuela


15/04/2021 09:33

Um menino empacota as compras e as leva at� os carros dos clientes em um supermercado em Caracas. A maioria o paga com farinha de milho, gr�os ou comida enlatada. "N�o tenho dinheiro", dizem.

Pagam com comida porque � praticamente imposs�vel dar gorjeta com bol�var, moeda local pulverizada pela hiperinfla��o e agora efetivamente substitu�da pelo d�lar.

A circula��o da nota verde, s�mbolo do "imperialismo americano" considerado inimigo da "revolu��o boliviana", come�ou a se generalizar em 2019 e o governo de Nicol�s Maduro teve que fechar os olhos e aceitar seu uso, que � cada vez mais normalizado.

De vendedores ambulantes a comerciantes formais, todos lidam com d�lares, algo curioso neste pa�s atingido por san��es dos Estados Unidos, como parte da estrat�gia liderada pelo l�der da oposi��o Juan Guaid� para pressionar a sa�da de Maduro do poder.

Washington n�o reconhece a autoridade de Maduro depois de considerar que as elei��es de 2018 em que foi reeleito foram "fraudulentas". As legislativas de 2020, nas quais o chavismo venceu esmagadoramente ante o boicote da oposi��o, tamb�m n�o foram reconhecidos pelos Estados Unidos e pela Uni�o Europeia.

"� muito paradoxal", admitiu o chanceler Jorge Arreaza em entrevista recente � AFP. "Mas n�o podemos esquecer que estamos na �rea geopol�tica de controle dos Estados Unidos e que � o principal parceiro comercial de todos os pa�ses" da Am�rica Latina.

"Diante do bloqueio, tivemos que flexibilizar, aprendemos com as pessoas que come�aram a usar o d�lar (...) tivemos que aceitar essa realidade e facilitar o processo", disse.

Assim, o d�lar se tornou a moeda dominante na antiga pot�ncia petrol�fera.

- Falta de confian�a -

A liquidez em bol�vares � de cerca de 466 milh�es, o equivalente a cerca de 18 d�lares por habitante, destaca o economista Asdr�bal Oliveros, com base em estudo de sua empresa Econoanal�tica.

"N�o � nada para uma moeda nacional", quando "a liquidez em d�lares � de 2,3 bilh�es, quase cinco vezes mais".

E 60% dos recursos captados pelos bancos "s�o em moeda estrangeira", diz C�sar Aristimu�o, tamb�m economista.

"O bol�var tem um problema estrutural de confian�a", explica Aristimu�o. "Agora, � a sociedade em geral que quer que os processos de dolariza��o da economia se acelerem".

A hiperinfla��o, que em 2018 foi de 400.000%, segundo empresas privadas, enquanto o governo a colocou em 130.060%, desencadeou uma grande escassez: os produtos de primeira necessidade sumiram das prateleiras e as importa��es pararam.

A crise acabou com o poder de compra dos venezuelanos. As primeiras v�timas foram os mais pobres, mas tamb�m a classe m�dia, que hoje "� quase inexistente", sublinha Oliveros.

Com a dolariza��o, acrescenta, "passou-se de um problema em que a dificuldade era a disponibilidade do produto para um problema de demanda". "Porque o produto est� a�, mas existe uma popula��o extremamente empobrecida, com um poder aquisitivo muito pequeno e limitado".

- Washington ou Bol�var? -

Salvo raras exce��es, as notas de bol�var foram deixadas apenas para pagar o transporte p�blico. O Banco Central emitiu recentemente tr�s novas c�dulas. A denomina��o m�xima, 1 milh�o de bol�vares, n�o representa nem 50 centavos de d�lar.

As pessoas usam cart�o de d�bito ou transfer�ncia banc�ria nas lojas se desejam pagar em bol�var. O pagamento eletr�nico tamb�m � usado para concluir compras 'verdes'. Ou seja, se a conta der 50,75 d�lares, a pessoa pode pagar com uma nota de 50 e o equivalente a 0,75 em bol�vares.

Oliveros afirma que com a dolariza��o, Maduro "mostrou um certo pragmatismo". "Essa estrat�gia permitiu aliviar a tens�o interna e ter mais capacidade de reten��o de poder".

O economista destaca que � "uma v�lvula de escape", algo com que o pr�prio Maduro concorda.

"N�o � o ideal e ser� tempor�rio", diz Arreaza. "Quanto tempo vai durar? Um, dois, tr�s, quatro anos? Nossa meta � reposicionar o bol�var. Uma coisa � que o com�rcio est� dolarizado e outra que estamos nos agachando diante do Federal Reserve (banco central dos EUA) pedindo por d�lares".

Mas Aristimu�o garante que sem "medidas que realmente contribuam para superar a infla��o e recuperar a capacidade produtiva da economia (...) � impens�vel que o bol�var tenha alguma efici�ncia".

"D� a qualquer venezuelano duas notas: um com a cara de Washington e outra com a cara de Bol�var, para ver qual eles preferir�o", argumentou.


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