Desde a elei��o de Joe Biden, o presidente Jair Bolsonaro soube que precisaria mudar sua pol�tica externa se quisesse manter abertos os canais com a Casa Branca. As not�rias diferen�as entre os dois l�deres e a torcida de Bolsonaro por Donald Trump colocavam Bras�lia em choque com a nova era inaugurada em Washington. Biden manteve o pragmatismo no trato com o Brasil, mas o maior desafio na rela��o bilateral ocorrer� nesta semana, durante a c�pula do clima.
Na campanha eleitoral, o democrata prometeu reunir o mundo, se preciso, para pressionar o governo brasileiro a preservar a Amaz�nia. Na quinta-feira, 22, 40 l�deres mundiais estar�o reunidos a convite da Casa Branca para marcar a volta dos EUA � lideran�a internacional na busca de solu��es para o aquecimento global.
Ser� a primeira vez que Biden e Bolsonaro ficar�o frente a frente, ainda que virtualmente. At� agora, houve apenas troca de cartas. Na mais recente, de Bras�lia a Washington, Bolsonaro prometeu acabar com o desmatamento ilegal at� 2030.
Em resposta, os americanos mandaram um recado: o salto de qualidade na rela��o bilateral e a manuten��o de parcerias, como o apoio � ades�o do Brasil como membro da Organiza��o para a Coopera��o e Desenvolvimento (OCDE), dependem do sucesso das negocia��es ambientais.
"Biden avisou que faria da mudan�a clim�tica a pe�a central de sua diplomacia. E isso � real. Quando ele escolheu John Kerry para comandar esse esfor�o, enviou uma mensagem clara ao mundo. Kerry � algu�m de alto n�vel que entende o que precisa ser feito e tem a determina��o para fazer", diz Tom Shannon, que foi embaixador dos EUA no Brasil durante parte do governo de Barack Obama.
Negocia��es. Em todas as conversas com diplomatas e assessores do alto escal�o do governo brasileiro, os americanos deixaram claro que a quest�o ambiental � a nova prioridade na rela��o com o Brasil. O assunto fez parte de telefonemas entre Kerry e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, entre o ministro da Economia, Paulo Guedes, e a secret�ria do Tesouro, Janet Yellen, e entre Ernesto Ara�jo, ent�o chanceler, e Antony Blinken, secret�rio de Estado dos EUA.
Nos �ltimos dois meses, Brasil e EUA negociaram semanalmente temas como monitoramento de queimadas e desenvolvimento de bioeconomia. "Os dois pa�ses fizeram esfor�os reais para remodelar a rela��o e os dois perceberam que � uma rela��o importante demais para falhar nessa tentativa. Isso � positivo, mas ainda h� muito trabalho para fazer", afirma Shannon.
O fluxo de comunica��o � intenso e o tom das conversas, segundo fontes dos dois lados, � amistoso. Mas os americanos t�m cobrado - nos bastidores e publicamente - que o governo brasileiro se comprometa com metas mais ambiciosas. Enquanto isso, o Brasil pede financiamento para bancar programas de preserva��o.
Press�o pol�tica. Em entrevista ao Estad�o, Salles disse ter pedido US$ 1 bilh�o para reduzir a devasta��o da Amaz�nia em at� 40% em 12 meses. Mas os EUA indicam que a verba deve ser atrelada � entrega de resultados primeiro - e ainda neste ano. "O plano � US$ 1 bilh�o por 12 meses, sendo um ter�o para a��es de comando e controle, e dois ter�os para as a��es de desenvolvimento econ�mico", disse o ministro. "Se esse recurso estiver dispon�vel para usarmos desse modo, nos comprometemos a reduzir de 30% a 40% em 12 meses."
Ambientalistas e comunidades ind�genas, no entanto, temem que Biden financie programas ambientais de Bolsonaro que ser�o comandados por Salles. "Um acordo traria prest�gio pol�tico na �rea de clima, onde o governo brasileiro n�o perdeu uma oportunidade de chafurdar na lama", afirma Marcio Astrini, secret�rio executivo do Observat�rio do Clima.
"Eu at� consigo compreender a raz�o de os EUA quererem fazer isso, que � colocar em cima da mesa uma cenoura para o Brasil mudar o comportamento. Mas seria um gesto de empoderamento pol�tico do Brasil com potencial de causar um estrago muito grande internamente."
Diante de sinais dos EUA de que a assist�ncia financeira depende de metas concretas e imediatas, nos �ltimos dias, integrantes do alto escal�o do governo Bolsonaro tentaram minimizar a import�ncia da reuni�o. Em Bras�lia, auxiliares do presidente t�m defendido nos bastidores que o encontro apenas pavimentar� o caminho para a C�pula do Clima da ONU, a COP-26, marcada para novembro em Glasgow, no Reino Unido.
Isso abriria uma brecha para o Brasil indicar que, at� o fim do ano, por exemplo, far� novas concess�es com rela��o � prote��o ambiental. Tamb�m h� quem diga no governo brasileiro que o evento desta semana � importante para os EUA se reabilitarem como l�deres mundiais na quest�o ambiental, ap�s quatro anos em que Trump retirou os americanos das discuss�es - o Brasil, portanto, n�o estaria nos holofotes.
Objetivos. Os americanos, de fato, apresentaram a c�pula como um preparat�rio para a reuni�o de Glasgow. No entanto, integrantes do governo Biden e especialistas que acompanham o assunto dizem que n�o se deve subestimar a busca da Casa Branca por vit�rias diplom�ticas concretas ainda nesta semana.
"Mostrar que os EUA est�o de volta � algo importante, mas seria um erro pensar que a confer�ncia e tudo o que Kerry tem feito s�o um show apenas para prop�sitos dom�sticos. Essa n�o � a forma que Biden ou Kerry operam. Eles est�o determinados a causar impacto. Para isso, querem o Brasil como parceiro", diz Shannon.
As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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