
Este � um grande ano para se falar sobre o meio ambiente.
O dia 22 de abril marca o Dia da Terra e o in�cio da C�pula dos L�deres sobre o clima — um evento virtual de dois dias convocado pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, com uma lista de convidados que inclui 40 l�deres mundiais. O evento contar� tamb�m com participa��o do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro.
Mas � a t�o esperada confer�ncia COP26 das Na��es Unidas (ONU), em novembro, que provavelmente ter� o maior impacto, estabelecendo novas metas de longo prazo para enfrentar a crise.
Na expectativa desses eventos importantes sobre clima, cinco jovens manifestantes explicaram para a BBC por que o ativismo � importante para elas, o que elas fazem para promover mudan�as no mundo e suas esperan�as para o futuro.
'Eu tive que agir'
Shaama Sandooyea realizou o primeiro protesto subaqu�tico do mundo em mar�o, como parte de sua luta para proteger um dos maiores prados de ervas marinhas do mundo.
Segurando um cartaz que dizia "Greve dos Jovens pelo Clima", a jovem de 24 anos mergulhou no Oceano �ndico no banco de Saya de Malha, a 735 km da costa de Seicheles.
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"Esta �rea tem uma rica biodiversidade, mas agora est� passando pelas mudan�as da crise clim�tica", diz Shaama, que � cientista marinho. "Descobrimos que os corais est�o crescendo muito perto das ervas marinhas [que] n�o se adaptariam ao aumento das temperaturas."
A erva marinha � um dos maiores coletores de carbono em alto mar. � um ambiente natural capaz de absorver muito mais di�xido de carbono da atmosfera do que a mesma quantidade da floresta amaz�nica. Os cientistas dizem que � crucial proteger essas �reas se quisermos evitar um aquecimento perigoso acima de 1,5°C.

Milhares de esp�cies marinhas, incluindo tartarugas verdes, golfinhos e peixes-coelho amea�ados de extin��o, dependem das ervas marinhas para se alimentar e tamb�m para seu habitat.
Shaama, que � de Maur�cia, pesquisou a �rea com uma equipe de cientistas e ambientalistas em um navio do Greenpeace. Ela diz que ficou maravilhada com o que viu no fundo do mar — "como um prado na �gua".

O objetivo de seu protesto era exortar os l�deres globais a "se comprometerem com uma rede de santu�rios oce�nicos protegendo pelo menos 30% de nossos oceanos".
"Se os peixes est�o migrando para outro lugar por causa do aumento da temperatura do mar, isso afetar� diretamente a biodiversidade em Saya de Malha", diz Shaama, enfatizando a import�ncia da exist�ncia de oceanos saud�veis "n�o apenas para o nosso clima, mas para os bilh�es de pessoas no hemisf�rio sul que dependem deles".
Maur�cia compartilha jurisdi��o sobre o fundo do mar circundante com as Seicheles. Mas, embora a dist�ncia dos campos de ervas marinhas a centenas de quil�metros da costa tenha fornecido alguma prote��o at� agora, Shaama teme que isso possa mudar se os oceanos ficarem mais ocupados, destacando a pesca ilegal como outra preocupa��o.
O tr�fego mar�timo global quadruplicou entre 1992 e 2012, com o Oceano �ndico registrando um dos maiores aumentos, de acordo com um estudo de 2014 publicado no peri�dico Geophysical Research Letters.

"Estou realmente esperan�osa de que esta [greve] trar� mudan�as radicais para proteger Saya de Malha", disse Shaama. "Estamos sentindo as mudan�as. Precisamos resolver isso agora."
Shaama n�o est� apenas conclamando os governos regionais, mas tamb�m as pessoas que vivem na �rea, a proteger seu meio ambiente.
"Muito em breve os l�deres mundiais estar�o tendo uma reuni�o sobre um tratado global da ONU [COP26]. Esse tratado � capaz de proteger o alto mar (...) ao empregar os recursos para monitorar e garantir que n�o haja pesca ilegal", diz.
"Agora � responsabilidade de todos proteger Saya de Malha. Precisamos que todos se unam e exijam a��o."
'Eu falo sobre a destrui��o que vejo'

Bhagya Abeyratne ganhou as manchetes no Sri Lanka quando revelou na vers�o do pa�s do programa Show do Milh�o que acredita que o ecossistema da reserva florestal de Sinharaja est� sob amea�a de desmatamento e projetos de constru��o.
A residente de Rakwana, de 19 anos, um vilarejo adjacente � reserva florestal, que � Patrim�nio Mundial da UNESCO, fez a cr�tica quando participava do programa de TV. Defensores e ativistas ambientais desde ent�o v�m aplaudindo suas a��es.
Mas as autoridades governamentais a acusaram de falar mentiras. A pol�cia e funcion�rios do departamento florestal visitaram sua casa e a questionaram. O ministro encarregado em proteger a vida selvagem disse que Bhagya citava fatos incorretos, segundo a imprensa local. Apesar disso, ela n�o se intimidou.
"Falo da destrui��o ambiental que vejo com meus pr�prios olhos, todas as manh�s e todas as noites", disse ela � BBC. "Se essa tend�ncia no pa�s continuar, os desertos se espalhar�o por todo o pa�s".

Negando as acusa��es em uma recente reuni�o p�blica, o presidente Gotabhaya Rajapaksa insistiu que � necess�rio haver um equil�brio entre proteger o meio ambiente e permitir que os agricultores cultivem suas safras.
Ele disse que instruiu as autoridades regionais a tomarem medidas imediatas caso detectem algum desmatamento.
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"O governo n�o permite que ningu�m corte �rvores ou destrua o meio ambiente", acrescentou. "A oposi��o tem espalhado falsidades."

Bhagya, que se tornou uma estrela nas redes sociais e muitas vezes aparece na imprensa do Sri Lanka, onde foi comparada a Greta Thunberg, diz que continuar� a fazer campanha e proteger as "�rvores e animais que me fornecem ar para respirar".
Ela est� pedindo a todos os jovens do Sri Lanka que relatem qualquer coisa que virem que destrua o meio ambiente em suas �reas. Do contr�rio, avisa, "amanh� n�o haver� pa�s para n�s".
'Vai muito al�m de ursos polares e calotas polares'

Katie Hodjetts tinha 18 anos quando percebeu que a crise clim�tica n�o era apenas algo que acontece longe de sua casa em Bristol, no Reino Unido.
"Quando eu era adolescente, a imagem do urso polar nas calotas polares derretendo me fazia pensar que isso n�o tinha nada a ver comigo ou com meu estilo de vida", diz ela.
Isso mudou quando ela foi para a universidade e estudou uma cadeira chamada Pol�tica das Mudan�as Clim�ticas.
"Foi ent�o que percebi que a crise clim�tica ia muito al�m dos ursos polares: era uma hist�ria de pol�tica, injusti�a e capitalismo", diz ela.
Katie juntou-se ao grupo UK Youth Climate Coalition e coordenou sua campanha anti-fraturamento em 2018, que envolveu o bloqueio de um local de fraturamento hidr�ulico por tr�s dias.
No ano seguinte, ela se tornou uma das primeiras organizadoras do movimento Clima Bristol Youth Strike 4, mobilizando milhares de jovens para protestar contra a expans�o do aeroporto da cidade e falando para multid�es de at� 30 mil pessoas ao lado de Greta Thunberg.

Em 2020, ela fundou o Projeto Resili�ncia, que oferece cursos no Reino Unido explorando temas como ansiedade ecol�gica, burnout e organiza��o clim�tica sustent�vel. No final deste ano, ela estar� trabalhando com outros grupos de jovens antes, durante e depois da COP26.
"Pela minha experi�ncia nos �ltimos cinco anos de trabalho com jovens, percebi que a sa�de mental est� sofrendo e n�o existe nenhuma iniciativa dos jovens para ajudar outros jovens", explica Katie, que tem 25 anos.
"� por isso que comecei o Projeto Resili�ncia. � um programa para capacitar os jovens em suas pr�prias a��es (...) para orient�-los a percorrer seus pr�prios caminhos de resili�ncia."
Katie diz que "conviver com a culpa e o fardo de viver um estilo de vida de carbono zero" � dif�cil para as gera��es mais jovens, ent�o ela se concentra mais em tentar promover uma mudan�a sist�mica do que uma mudan�a de comportamento individual.
"Meu foco � desenvolver a capacidade dos jovens de exigir que os governos ajam agora. Trata-se de reformular o que � a 'vida boa' para pessoas como eu nos pa�ses ocidentais."
"Quero comunicar a eles que voc� pode viver uma vida plena e abundante, mas ainda com baixas emiss�es de carbono. Por exemplo, voc� pode n�o acreditar em mim, mas um feriado na Esc�cia pode ser t�o m�gico quanto um feriado nas Bahamas."
'Foi horr�vel para a sa�de deles'

Sophia Kianni aprendeu sobre mudan�as clim�ticas na sexta s�rie, mas foi durante uma viagem a Teer�, quando tinha 12 anos, que a jovem, que tem dupla cidadania do Ir� e dos EUA, percebeu o qu�o grave era a crise. Uma noite, ela olhou para o c�u e n�o conseguiu ver nenhuma estrela devido � polui��o do ar.
"A polui��o l� era terr�vel, mas percebi que meus parentes n�o entendiam nada sobre isso."
"Eles disseram que Teer� era uma cidade importante, e que a qualidade do ar era assim por causa da ind�stria. Eles eram muito indiferentes, aceitando tudo sem perceber como isso � horr�vel para sua sa�de."
De acordo com o site Carbon Brief, o Ir� foi o oitavo maior emissor de gases de efeito estufa em 2015. Em novembro de 2019, todas as escolas em Teer� foram fechadas devido � polui��o do ar.
Mas um estudo recente no jornal Acta Medica Iranica afirma que quase 95% de estudantes universit�rios no Ir� n�o sabem explicar corretamente os efeitos das emiss�es de gases do efeito estufa.

Sophia formou o Climate Cardinals para educar as pessoas em todo o mundo sobre o impacto da mudan�a clim�tica. Em vez de distribuir informa��es em ingl�s, ela percebeu a necessidade de serem produzidos materiais nos idiomas locais.
"A ONU fornece material apenas em seis idiomas, ent�o eu queria expandir esse alcance", disse Sophia. "Com mais de 8 mil volunt�rios trabalhando em mais de 40 pa�ses, traduzimos material [em mais de] 100 idiomas."
A iniciativa come�ou explicando os conceitos b�sicos de mudan�a clim�tica e gases de efeito estufa, mas desde ent�o come�ou a traduzir documentos e relat�rios emitidos pela ONU.
Como resultado, Sophia foi escolhida como membro do Grupo de Aconselhamento Juvenil do Secret�rio-Geral da ONU sobre Mudan�as Clim�ticas. Ela representa os Estados Unidos e o Oriente M�dio e est� entre os membros mais jovens.

"Meu objetivo � aumentar a alfabetiza��o clim�tica no mundo, quero que as pessoas entendam o que � a mudan�a clim�tica, para que possam pressionar os governantes eleitos a agirem sobre a legisla��o clim�tica."
"Isso inclui participar de manifesta��es, fazer doa��es para campanhas de candidatos que apoiam a legisla��o clim�tica e, acima de tudo, votar em candidatos que afirmam que as mudan�as clim�ticas s�o reais e que v�o fazer algo a respeito disso."
'Os l�deres mundiais n�o est�o fazendo o suficiente'

Sarah Goody tinha 12 anos quando uma aula de ci�ncias sobre as mudan�as clim�ticas teve um grande impacto em sua vida.
"Naquele dia percebi como � importante proteger o clima", diz ela. A turma ent�o passou um m�s estudando as mudan�as clim�ticas e seu impacto na vida selvagem, na natureza e na ra�a humana.
"Foi a primeira vez que comecei a entender o qu�o grande era o problema do aquecimento global e comecei a fazer conex�es entre minhas experi�ncias de vida e os desastres clim�ticos. Comecei a assistir document�rios, lendo e fazendo minhas pr�prias pesquisas."
Aos 14 anos, ela fundou a Climate Now, uma organiza��o internacional liderada por jovens com foco na educa��o e capacita��o de jovens para que realizem a��es clim�ticas. A entidade tem 30 jovens volunt�rios de todo o mundo e j� fez apresenta��es para 10 mil alunos.
No ano passado, Sarah foi uma das ganhadoras do Pr�mio Princesa Diana, que reconhece jovens por a��es humanit�rias. A organiza��o a descreveu como "fortemente comprometida com o movimento clim�tico liderado por jovens" e creditando-a por inspirar "milhares a entender melhor a crise clim�tica, ajudando-os a agir e come�ar a criar um futuro melhor".

A adolescente, que sofre de depress�o cl�nica e � asm�tica, mora em S�o Francisco, onde os inc�ndios florestais do ano passado contribu�ram para n�veis perigosos de qualidade do ar. Ela preside o Comit� de A��o Clim�tica de Corte Madera da cidade e teve seu trabalho sobre mudan�a clim�tica publicado na revista Teen Vogue.
Ela faz campanha por meio de semin�rios e eventos.
"Acho que os l�deres mundiais n�o est�o fazendo o suficiente. Em primeiro lugar, [eles] precisam declarar uma emerg�ncia clim�tica", diz Sarah. "Em segundo lugar, [eles] precisam se unir e colocar em a��o um plano para reduzir drasticamente as emiss�es globais de carbono. As conversas sobre a mudan�a clim�tica precisam ser sustentadas al�m da COP26."
Ela diz que todos podem contribuir para reduzir sua pegada ambiental ao compreender como as a��es pessoais contribuem.
"� dif�cil prever o futuro, mas veremos mais jovens se juntarem a n�s, trazendo urg�ncia � situa��o. Esperan�osamente, juntos, seremos capazes de reduzir a pegada ambiental."
Reportagem adicional de Shirly Upul Kumara, da BBC Sinhala
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