Deambula��o m�dica, medo e desamparo. Foi o que sentiu por muito tempo Lorena Garc�a, uma espanhola de 30 anos com endometriose, doen�a que atinge uma em cada dez mulheres no mundo, segundo a Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS).
Tudo come�ou h� mais de dez anos, quando, de repente, Garc�a sentiu fortes dores durante a menstrua��o. A� come�ou a jornada que a levou a visitar uma d�zia de m�dicos, muitos dos quais disseram que era normal.
"Os m�dicos olham para voc� de cima, tratam voc� como louca e �s vezes at� dizem que voc� est� hist�rica... Foi um inferno. Eu me senti muito sozinha", explicou � AFP.
Essa doen�a � causada pela migra��o de c�lulas do endom�trio, uma mucosa que reveste o interior do �tero, para o exterior da cavidade uterina. Mas, ao se mover, essas c�lulas geram les�es, ou at� cistos, que podem ser muito dolorosos e causar esterilidade.
- Come�ar "do zero" -
At� o momento, n�o existe um tratamento definitivo, por falta de pesquisas cient�ficas, dizem v�rios especialistas � AFP.
"Durante s�culos, pensou-se que era normal que as mulheres sofressem durante a menstrua��o, o que explica o atraso consider�vel que temos nessa doen�a", explicou � AFP a diretora-geral da World Endometriosis Society (WES), Lone Hummelshoj.
Em 1997, essa consultora fundou a Sociedade Dinamarquesa de Endometriose, projeto que permitiu ao pa�s n�rdico adotar, cinco anos depois e de forma pioneira, medidas de combate � enfermidade.
A iniciativa teve eco em outros pa�ses. A Austr�lia lan�ou um plano nacional em 2017, e a Fran�a lan�ou uma estrat�gia dois anos depois.
No Reino Unido, os casos graves de endometriose s�o tratados em centros especializados desde 2013.
Esses planos nacionais s�o a resposta para a liberta��o da voz das mulheres.
Na Fran�a, a ginecologista Chrysoula Zacharopoulou lan�ou uma primeira campanha de conscientiza��o em 2016.
"Foi uma tarefa dif�cil porque partimos do zero. Tudo tinha que ser feito", recordou Zacharopoulou, agora respons�vel pela estrat�gia nacional.
Paralelamente, v�rias mulheres famosas come�aram a falar sobre o assunto, como a estilista e autora de "It" Alexa Chung, ou a modelo Chrissy Teigen. Em mar�o de 2018, a atriz de "Girls" Lena Dunham revelou que fez uma abla��o do �tero na esperan�a de acabar com anos de endometriose.
- "Sem tr�gua" -
O que a torna dif�cil de detectar e tratar � que existem v�rias formas de endometriose, desde as assintom�ticas e relativamente dolorosas, at� as extremamente graves.
� o caso de Anne (cujo nome foi alterado), uma francesa de 43 anos que, ap�s oito opera��es, uma delas de abla��o do �tero, ainda n�o consegue ver o fim do t�nel.
Enxaqueca, cansa�o, dores p�lvicas... A mulher, que se apoia em uma bengala, teve de desistir da carreira acad�mica e tem uma vida pessoal "quebrada" pela doen�a.
"A endometriose me destruiu. Desde o in�cio da doen�a, n�o tenho tido tr�gua, tem sido ininterrupta. E os m�dicos ainda n�o sabem o que �, nem como me ajudar a melhorar", lamentou.
Nos piores momentos de crise, ela tem ideias suicidas. Um caso que n�o � �nico, segundo Caroline Law, pesquisadora da Universidade de Montfort (Leicester), que junto com outros cientistas dirigiu um estudo de refer�ncia sobre o impacto da doen�a na sa�de mental das mulheres.
"Depress�o, impot�ncia, culpa pela ideia de n�o poder dar � luz... A doen�a tem consequ�ncias dram�ticas na sa�de mental da mulher", garante a especialista.
PARIS