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Estado de Minas PARIS

Depois da covid, ondas de calor podem ser o pr�ximo grande assassino?


22/06/2021 23:08

Um calor abrasador, implac�vel castiga grandes regi�es da Terra, matando milh�es que n�o t�m como escapar. As sombras n�o t�m serventia e os corpos h�dricos superficiais s�o mais quentes do que o sangue que corre nas veias.

Esta � uma cena de "The Ministry for the Future", novo romance de fic��o cient�fica de Kim Stanley Robinson. Mas o terror sufocante que o livro descreve pode estar mais perto da ci�ncia do que da fic��o, segundo o esbo�o de um relat�rio do IPCC, painel consultivo de cientistas clim�ticos da ONU, obtido com exclusividade pela AFP.

No documento, os especialistas alertam para as consequ�ncias catastr�ficas de um aquecimento planet�rio sem controle para bilh�es de pessoas.

Modelos clim�ticos mais antigos sugeriam que levaria quase outro s�culo de maci�as emiss�es de carbono para que se gerassem ondas de calor que excedessem o limite absoluto da toler�ncia humana.

Mas proje��es atualizadas alertam que ondas de calor sem precedentes est�o mais perto, de acordo com o relat�rio de 4.000 p�ginas do Painel Intergovernamental de Mudan�as Clim�ticas (IPCC), ao qual a AFP teve acesso com exclusividade e que tem publica��o prevista em fevereiro de 2022.

O documento arrepiante pinta um retrato sombrio e mortal de um planeta em aquecimento.

Em um mundo 1,5�C mais quente, 14% da popula��o estar� exposta a fortes ondas de calor ao menos uma vez a cada cinco anos, "um aumento significativo na magnitude das ondas de calor", de acordo com pesquisa citada pelo IPCC.

Aumente a temperatura para mais meio grau, chegando aos 2�C, e as coisas ficam ainda piores.

As mais afetadas ser�o as florescentes megacidades do mundo em desenvolvimento, que geram calor adicional por contra pr�pria, de Karachi a Kinhsasa, de Manila a Mumbai, do Laos a Manaus.

As leituras dos term�metros n�o s�o o �nico a fazer diferen�a. O calor costuma ser mais letal quando combinado com alta umidade.

Em outras palavras, � mais f�cil sobreviver a um dia de temperaturas elevadas em um ambiente seco do que faz�-lo em outro de umidade muito alta.

Esta combina��o de banho a vapor tem sua pr�pria medida, denominada temperatura de bulbo �mido.

Especialistas concordam que uma temperatura de bulbo �mido de 35�C est� acima da capacidade de um adulto humano saud�vel lidar com a situa��o, mesmo na sombra e com um suprimento ilimitado de �gua pot�vel.

"Quando as temperaturas de bulbo �mido est�o extremamente altas, h� tanta umidade no ar que o suor se torna ineficaz na remo��o do excesso de calor do corpo", explica Colin Raymond, principal autor de um estudo recente que identificou dois locais no Golfo P�rsico onde os 35�C (TW) nesse tipo de medi��o foram alcan�ados.

"Em algum ponto, talvez depois de seis ou mais horas, isso levar� � fal�ncia de �rg�os e morte na aus�ncia de acesso a resfriamento artificial".

- Derrames por calor e ataques card�acos -

N�s j� vimos o impacto do calor �mido e letal com temperaturas bem mais baixas, especialmente entre os idosos e enfermos.

Em junho de 2015, duas ondas de calor de 30�C (TW) na �ndia e no Paquist�o deixaram mais de 4.000 mortos.

E a onda de calor de 2003 que matou mais de 50.000 pessoas na Europa Ocidental registrou temperaturas de bulbo �mido apenas na casa dos 20�C (TW).

Ondas de calor escaldantes que atingiram o hemisf�rio norte em 2019 - o segundo ano mais quente registrado no mundo - tamb�m causaram um grande n�mero de mortes excedentes, mas ainda faltam os dados de bulbo �mido.

Um estudo do Instituto de M�tricas e Avalia��es de Sa�de (IHME) relatou pouco mais de 300.000 mortes relacionadas � temperatura em todo o mundo por todas as causas em 2019.

Cerca de 37% das mortes relacionadas com o calor - pouco mais de 100.000 - podem ser atribu�das ao aquecimento global, segundo os cientistas dirigidos por Antonio Gasparrini, da London School of Hygiene & Tropical Medicine.

Em meia d�zia de pa�ses - Brasil, Peru, Col�mbia, Filipinas, Kuwait e Guatemala - o percentual foi de 60% ou mais.

A maioria destas mortes provavelmente foi causada por derrames relacionados com o calor, ataques card�acos e desidrata��o provocada por sudorese intensa, e muitas provavelmente seriam evit�veis.

- Cidades em risco -

Picos perigosos acima de 27�C (TW) mais que dobraram desde 1979, segundo as descobertas de Raymond.

Seu estudo prev� que as temperaturas de bulbo �mido "exceder�o regularmente" 35�C (TW) em alguns locais nas pr�ximas d�cadas se o planeta esquentar 2,5 graus com base nos n�veis pr�-industriais.

As atividades humanas j� fizeram as temperaturas subirem 1,1�C at� agora.

O Acordo de Paris requer um limite m�ximo para o aumento "bem abaixo" de 2�C, 1,5�C se poss�vel.

Mesmo se as metas de temperatura do acordo de Paris forem cumpridas, centenas de milh�es de habitantes das cidades na �frica Subsaariana, assim como no sul e sudeste da �sia, provavelmente ser�o atingidos por ao menos 30 dias de calor mortal todos os anos at� 2080, de acordo com o relat�rio.

"Nessas regi�es, a popula��o das cidades est� crescendo dramaticamente e a amea�a de calor mortal est� se aproximando", observa Steffen Lohrey, principal autor do estudo, ainda em revis�o por pares, do qual os n�meros foram extra�dos.

Esses c�lculos, acrescentou Lohrey, nem levam em considera��o o chamado efeito de ilha de calor urbana, que acrescenta 1,5�C em m�dia durante as ondas de calor em compara��o �s �reas pr�ximas.

Asfalto e edif�cios que absorvem calor, sistemas de exaust�o de ar condicionado e a densidade da habita��o urbana contribuem para este aumento nas cidades.

- �reas mais suscet�veis a ondas de calor -

A �frica Subsaariana � especialmente vulner�vel a ondas de calor letais, porque � projetada para suportar o maior n�mero de dias letais do que qualquer regi�o, exceto o sudeste da �sia, mas tamb�m porque est� menos preparada para lidar com elas.

"Tanto as observa��es do mundo real quanto a modelagem clim�tica mostram a �frica Subsaariana como um ponto principal para a atividade das ondas de calor", explica Luke Harrington, pesquisador de p�s-doutorado do Instituto de Mudan�a Ambiental da Universidade de Oxford e autor de um estudo sobre a falta de dados do continente.

Enquanto isso, na China central e no oeste da �sia, "as temperaturas extremas de bulbo �mido est�o previstas e possivelmente ultrapassar�o os limites fisiol�gicos para a adaptabilidade humana", advertiu o IPCC.

O Mediterr�neo tamb�m � vulner�vel �s mortais jornadas de um clima mais quente.

"Na Europa, at� 200 milh�es de pessoas estar�o sob alto risco de estresse por calor em meados do s�culo se o mundo tiver um aumento de temperatura de at� 2�C at� 2100", observou o relat�rio.

Fundamental para as taxas de mortalidade � a capacidade de adapta��o da popula��o, explica Jeff Stanaway, pesquisador do IHME.

"H� uma maior sensibilidade ao calor no oeste da Europa e na Am�rica do Norte", diz ele � AFP.

"Isso porque na Am�rica do Norte todo mundo tem ar-condicionado e edif�cios modernos e bem isolados. � apenas uma diferen�a na infraestrutura", afirma.

- 'Lacuna de resfriamento' -

Mas assim como muitos impactos relacionados �s mudan�as clim�ticas, os efeitos das ondas de calor n�o v�o ser sentidos por todos da mesma forma.

Em alguns pa�ses em desenvolvimento, o desenvolvimento econ�mico n�o acompanha os custos de resfriamento da popula��o, expondo uma corrida entre o aquecimento global e a capacidade de se adaptar a ele.

Um estudo de t�cnicas de adapta��o em Han�i, no Vietn�, descobriu que muitas pessoas n�o usavam ar condicionado em seus quartos por causa de seu custo elevado de eletricidade. Como alternativa, alguns se embrulham em len��is molhados antes de dormir durante ondas de calor severas.

Em resumo, as altas temperaturas quase certamente destruir�o mais vidas de forma indireta, em vez de chegar a n�veis nos quais o corpo simplesmente deixa de funcionar, diz o relat�rio.

Temperaturas mais altas ser�o vetores de doen�as, reduzir�o o rendimento das colheitas e os valores dos nutrientes, al�m de diminuir � metade a produtividade no trabalho e tornar� as atividades ao ar livre potencialmente fatais.

Se o mundo quiser evitar o cataclismo imaginado por Robinson, os pa�ses precisar�o honrar o acordo clim�tico de Paris e limitar o aquecimento global o mais pr�ximo poss�vel de 1,5�C, ressaltam os cientistas.

Mas mesmo assim, com as temperaturas aumentando duas vezes a m�dia global em muitas regi�es, alguns impactos severos est�o a caminho.

"As crian�as de hoje v�o testemunhar mais dias com calor extremo, quando o trabalho manual em ambientes externos ser� fisiologicamente imposs�vel", adverte o informe do IPCC.


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