Osso esculpido por neandertal pode ilustrar atividade simb�lica

A descoberta de um osso esculpido por um neandertal h� 51 mil anos refor�a a ideia de que essa esp�cie humana era capaz de atividade simb�lica, h� muito considerada uma capacidade �nica ao Homo sapiens, de acordo com um estudo publicado nesta segunda-feira (5).

Trata-se de um pequeno peda�o de osso encontrado durante escava��es no norte da Alemanha em um local pr�ximo a Einhornh�hle.

Com cerca de seis cent�metros de comprimento e quatro de largura, possui dez linhas gravadas em um lado, seis das quais formam cinco divisas. Com uma precis�o que exclui um gesto acidental.

Este desenho "provavelmente simboliza algo que tinha significado para os neandertais como um grupo", disse � AFP o Dr. Dirk Leder, arque�logo do Escrit�rio do Patrim�nio da Baixa Sax�nia.

As descobertas ligadas aos neandertais, ramo do g�nero Homo que desapareceu h� cerca de 40.000 anos, t�m aumentado nos �ltimos anos. Assim como a curiosidade a respeito deste "primo" do homem moderno, h� muito considerado sua vers�o mais crua.

Em artigo que acompanha o estudo, publicado na Nature, a paleoantrop�loga brit�nica Silvia Bello lembra que os neandertais sabiam fazer ferramentas com ossos para tratar peles de animais e podiam realizar rituais f�nebres.

Mas muito poucas formas de arte foram atribu�das a eles. No caso presente, "tudo indica um conhecimento sofisticado e uma grande habilidade de trabalhar o osso".

Os autores do estudo admitem n�o compreender o significado da grava��o, "mas estamos convencidos de que ele comunica uma ideia, uma hist�ria, algo que fazia sentido para um grupo", observa Leder.

Eles apontam como prova a escolha do suporte, uma falange de Megaceros, uma esp�cie de cervo gigante, agora extinta, e que naquela �poca raramente se aventurava a t�o alta latitude.

Silvia Bello v� nisso "a escolha de um animal bastante especial, com um significado simb�lico".

- Raridade -

O objeto, quando colocado em sua base "forma uma figura, com as vigas voltadas para cima", observa Bruno Maureille, paleoantrop�logo da Universidade de Bordeaux.

Mas mesmo sendo um daqueles que "consideram que os neandertais tinham as mesmas capacidades cognitivas de seus contempor�neos", ele mant�m "muita prud�ncia" a respeito do car�ter simb�lico do objeto.

"Como esses objetos s�o muito raros, � dif�cil saber por que foram feitos, o que n�o significa que n�o tenham valor simb�lico", disse � AFP.

Mais tarde, a partir de 40.000 anos atr�s, quando os neandertais deram lugar ao Homo sapiens na Europa, este deixou uma abund�ncia de representa��es pict�ricas ou objetos que n�o deixam d�vidas sobre seu car�ter simb�lico.

A escassez de obras atribu�das aos neandertais talvez tenha uma causa bastante prosaica, segundo o Dr. Leder. A sua popula��o "vivia em grupos separados, n�o muito interligados" e assim, "as suas produ��es poderiam ter desaparecido como ideia", por falta de transmiss�o.

Junto com o prof. Thomas Terberger, historiador da Universidade de G�ttingen e principal co-autor do estudo, eles descartam que o trabalho do gravador do osso resulte de uma influ�ncia do Homo sapiens. Simplesmente porque foi executado alguns milhares de anos antes que este tamb�m se aventurasse para o norte.

O assunto continua sens�vel, observa o Dr. Leder, lembrando que at� pouco tempo a ideia prevalecente era que "o 'grande' Homo sapiens forneceu ideias inteligentes para outras esp�cies".

Mas, no caso presente, segundo Maryl�ne Patou-Mathis, historiadora do Museu Nacional de Hist�ria Natural, "devemos abandonar a ideia de uma influ�ncia do Homo sapiens".

Ela � t�o cautelosa quanto alguns de seus colegas sobre o significado a ser dado ao osso esculpido, que permanece "enigm�tico". Mas n�o duvida "que com os neandertais, ainda n�o chegamos ao fim das surpresas".