(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas VOSLOORUS

Na �frica do Sul, um morto, papel�o molhado e mis�ria


14/07/2021 09:10

"H� um corpo atr�s", relata um bombeiro, com poucas palavras. Atr�s das lojas de um devastado shopping center na periferia de Joanesburgo, entre paletes, no ch�o gelado, um papel�o cobre o homem, em uma po�a de sangue na altura das pernas.

Morto no saque do dia anterior.

Como? Ningu�m sabe dizer. Do mesmo modo que em outras partes da �frica do Sul, onde milhares de pessoas saquearam lojas nos �ltimos dias, ocorreram debandadas mortais. Mas tamb�m tiros de balas de borracha, por policiais sobrecarregados.

No estacionamento abandonado, um �nico carro com vidros quebrados. Uma multid�o se junta, av�s, jovens e at� algumas crian�as. Vasculham entre os destro�os para encontrar o que pode ser salvo. E tamb�m v�o �s lojas para esvaziar as �ltimas prateleiras. Em um ritmo vagaroso nesta manh� gelada de inverno.

"N�o peguei nada de dentro, s� o que estava no ch�o", justifica uma senhora de 56 anos que n�o quis dizer seu nome. "Essa bagun�a � feia".

Casaco com capuz e um cobertor amarrado na cintura, como muitas mulheres ali, ela insiste: n�o � uma ladra. "Moro n�o muito longe, vim ver". Em sua sacola pl�stica, alguns materiais de escrit�rio e uma toalha de banho ainda na embalagem.

No estacionamento, entre rastros de farinha e a��car, cabides e caixas de papel�o encharcadas. E sapatos solit�rios: um chinelo rosa gasto, perdido na corrida nos �ltimos dias, mas tamb�m sand�lias novas, ca�das de uma caixa.

Tudo o que tem rodas � utilizado para o transporte de mercadorias recuperadas. Uma cadeira de escrit�rio desliza, carregada com um guarda-chuva e bebidas energ�ticas. Um pouco mais adiante, uma mulher em um roup�o atoalhado rosa e chap�u combinando empurra um balde de esfreg�o transbordando de comida.

- "N�o quebramos, pegamos" -

Dentro das lojas, soa um alarme estridente e intermitente que n�o perturba ningu�m.

Um cano cedeu, � preciso passar por cima das estantes no ch�o para evitar po�as. Um fluxo cont�nuo de respigadores cruza a loja destru�da, que � iluminada com telefones celulares.

Uma adolescente t�mida pega blusas floridas. Um homem sorridente sai com uma bolsa no ombro. Sapato? "Sim, 'mam�e', s�o meus filhos que v�o us�-los!".

"N�o estou roubando, estou com fome", diz uma m�e, desviando o olhar. "N�s n�o quebramos, n�s pegamos".

Dois meninos brincam no estacionamento. Eles t�m um estoque de casacos nas m�os. Cada um deles colocou um, as dobras ainda vis�veis. "Voc� pode me dar um?", pergunta uma jovem. Eles entregam a ela sem reclamar.

Questionados sobre o gatilho inicial para os dist�rbios nos �ltimos dias, a pris�o do ex-presidente Jacob Zuma, eles come�am a rir. "Libertem Zuma! Zuma fora!", gritam Shine e Cwebezela, em tom de deboche. "Voc� v�, estamos protestando aqui!".

Um homem alto e corpulento encontrou a caixa registradora de uma loja. Ele a sacode, ouve o estalo de moedas dentro. Levanta acima da cabe�a para lan��-la contra uma barreira de metal. Perda de tempo, ela se recusa a ceder.

No estacionamento, outros se ocupam do carro com as janelas quebradas. Um cabo est� conectado a um Toyota cinza. Moradores que saber�o o que fazer com suas pe�as sobressalentes. Nada se perde.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)