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Estado de Minas 'PORTA DO INFERNO'

A verdade revelada por tr�s da misteriosa 'Porta do Inferno' constru�da pelos romanos

A antiga cidade de Hier�polis escondia um segredo t�xico, mas a ci�ncia moderna finalmente desvendou o que estava por tr�s dos mitos romanos.


25/07/2021 12:28 - atualizado 25/07/2021 14:54

A antiga cidade de Hierápolis escondia um segredo tóxico, mas a ciência moderna finalmente desvendou o que estava por trás dos mitos romanos(foto: Dark_Eni/Getty Images)
A antiga cidade de Hier�polis escondia um segredo t�xico, mas a ci�ncia moderna finalmente desvendou o que estava por tr�s dos mitos romanos (foto: Dark_Eni/Getty Images)

Em Pamukkale, no oeste da Turquia, uma enorme forma��o rochosa branca se ergue sobre uma plan�cie.

A montanha desce em forma de cascatas de calc�rio petrificado at� o fundo do vale, repleta de estalactites congeladas e centenas de piscinas de �gua azul turquesa brilhante.

Essas forma��es rochosas s�o chamadas de travertinos, penhascos de calc�rio criados lentamente ao longo de 400 mil anos pelo borbulhar de fontes minerais.

� medida que a �gua desce pela encosta, ela se desgaseifica, deixando para tr�s um vasto dep�sito de carbonato de c�lcio branco cintilante com quase 3 km de comprimento e 160m de altura.

Este n�o � o �nico lugar do mundo onde h� travertinos — Huanglong, na China, e Mammoth Hot Springs, no Parque Nacional de Yellowstone, nos EUA, s�o outros exemplos famosos.


Mas os de Pamukkale s�o os maiores e indiscutivelmente os mais impressionantes. N�o � � toa que s�o uma das atra��es tur�sticas mais populares do pa�s — e s�o t�o espetaculares que seu nome em turco significa "castelo de algod�o".

At� a chegada da pandemia de covid-19, mais de 2,5 milh�es de pessoas visitavam por ano Pamukkale a partir de Izmir ou Istambul, desembarcando de �nibus de turismo no topo do planalto e se espalhando pela paisagem como formigas em um monte gigantesco de a��car antes de voltarem ao ve�culo e seguirem para as praias de Bodrum ou as ru�nas hist�ricas de �feso.

Mas os visitantes que simplesmente molham os p�s nas piscinas de �guas termais e tiram uma selfie em frente �s colunas naturais gotejantes antes de seguir viagem est�o perdendo algo.

No topo dos penhascos brancos de Pamukkale, est� uma atra��o ainda mais fascinante: as ru�nas da antiga cidade de Hier�polis.

Hier�polis foi fundada pela dinastia at�lida de P�rgamo no fim do s�culo 2 a.C. antes de ser conquistada pelos romanos em 133 d.C.

Sob o dom�nio romano, se tornou uma pr�spera cidade termal; no s�culo 3, visitantes chegavam de todo o Imp�rio para admirar a paisagem e se banhar nas �guas supostamente curativas.

O sucesso da cidade ainda � vis�vel em seu impressionante port�o de entrada em forma de arco, sua rua principal com colunas e seu anfiteatro lindamente restaurado, todos constru�dos com a mesma rocha calc�ria local que reluz sob o sol quente da Turquia.

"As �guas termais s�o provavelmente uma das principais raz�es para a funda��o da cidade", diz Sarah Yeomans, arque�loga da Universidade do Sul da Calif�rnia, nos EUA, que se especializou no Imp�rio Romano.

"Em meados do s�culo 2, Hier�polis deve ter sido uma bela e movimentada cidade termal com o que imagino ser uma popula��o mais din�mica e diversa do que a maioria, dada a popularidade de tais lugares entre os visitantes."


Pamukkale com suas piscinas termais é um dos cartões-postais da Turquia(foto: Feng Wei Photography/Getty Images)
Pamukkale com suas piscinas termais � um dos cart�es-postais da Turquia (foto: Feng Wei Photography/Getty Images)

Mas Hier�polis tamb�m era conhecida em todo o mundo romano por outro motivo mais sinistro.

Dizia-se que era onde estava o "Port�o do Inferno", um portal para o submundo onde o h�lito t�xico do c�o de tr�s cabe�as Cerberus escapava do solo, fazendo v�timas inocentes em nome de seu mestre, o deus Plut�o (ou Hades, na mitologia grega).

Um santu�rio — chamado Ploutonion — foi constru�do no local, e peregrinos de toda a regi�o pagavam os sacerdotes do templo para fazerem sacrif�cios a Plut�o em seu nome.

Os escritores da �poca, incluindo Pl�nio, o Velho, e o ge�grafo grego Estrab�o, descreveram esses sacrif�cios como um espet�culo de arrepiar.

Os sacerdotes levavam um animal, como uma ovelha ou um touro, para o santu�rio. E, como se fosse pelas m�os do deus, o animal ca�a instantaneamente morto, enquanto o sacerdote sa�a vivo.

"Joguei pardais, e eles imediatamente deram o �ltimo suspiro e ca�ram", escreveu Estrab�o no Livro 13 de sua enciclop�dia Geografia, claramente espantado com o que acabara de testemunhar.

Quando voc� visita o Ploutonion hoje, � dif�cil imaginar essas cenas dram�ticas como sendo reais.

Agora escavado e restaurado, � um lugar tranquilo, que inclui um recinto retangular com �gua cristalina, coberta com uma suave espuma mineral flutuante, e uma pequena entrada em forma de arco de um lado. Acima dela, h� uma arquibancada para os espectadores, e uma r�plica da est�tua de Plut�o.

Quando visitei, n�o conseguia entender como poderia ser um lugar de morte. Sem d�vida, s�o hist�rias inventadas, pensei. Como os sacerdotes poderiam sobreviver enquanto os animais morriam?

Estas perguntas tamb�m intrigaram Hardy Pfanz, bi�logo de vulc�es da Universidade de Duisburg-Essen, na Alemanha, que estuda gases geog�nicos — gases liberados durante processos geol�gicos.

"Quando li as descri��es dos escritores antigos, comecei a me perguntar se poderia haver uma explica��o cient�fica", diz ele.


O santuário de Plutão foi construído onde acreditava-se estar localizado o 'Portão do Inferno'(foto: Bella Falk)
O santu�rio de Plut�o foi constru�do onde acreditava-se estar localizado o 'Port�o do Inferno' (foto: Bella Falk)

"Me perguntei, este 'Port�o do Inferno' poderia ser uma abertura vulc�nica?"

Ansioso para testar sua teoria, Pfanz viajou para Hier�polis em 2013.

"N�o t�nhamos certeza do que encontrar�amos. Podia ter sido inventado, podia n�o ser nada", ele ri.

"Certamente n�o esper�vamos obter uma resposta t�o r�pido."

Mas ele conseguiu uma resposta, quase imediatamente.

"Vimos dezenas de criaturas mortas ao redor da entrada: ratos, pardais, melros, v�rios besouros, vespas e outros insetos. Ent�o, soubemos de cara que as hist�rias eram verdadeiras."

Quando Pfanz testou o ar em torno da abertura com um analisador de g�s port�til, descobriu o motivo: n�veis t�xicos de di�xido de carbono.

O ar normal cont�m apenas 0,04% de CO2, mas Pfanz ficou chocado ao descobrir que a concentra��o ao redor do santu�rio chegava a impressionantes 80%.

"Apenas alguns minutos de exposi��o a 10% de di�xido de carbono podem matar voc�", diz ele, "ent�o os n�veis aqui s�o realmente mortais".

Esses n�veis ultra-altos de di�xido de carbono s�o causados %u200B%u200Bpelo mesmo sistema geol�gico que criou as fontes termais e os dram�ticos terra�os de travertino da regi�o.


Pessoas de todo o Império Romano iam até a cidade termal para mergulhar nas águas geotérmicas ricas em minerais(foto: Sebastian Condrea/Getty Images)
Pessoas de todo o Imp�rio Romano iam at� a cidade termal para mergulhar nas �guas geot�rmicas ricas em minerais (foto: Sebastian Condrea/Getty Images)

Hier�polis foi constru�da na falha de Pamukkale, uma zona tect�nica ativa de 35 km onde rachaduras na crosta terrestre permitem que �gua rica em minerais e gases mortais escapem para a superf�cie.

Uma delas passa diretamente por baixo do centro da cidade e entra no Ploutonion.

"� quase certo que a escolha da localiza��o do Ploutonion estava diretamente relacionada �s aberturas de g�s s�smico que existem aqui", diz Yeomans.

"Dado que o submundo e as divindades e mitos associados a ele eram uma parte significativa de seu ethos religioso, faz sentido que eles constru�ssem templos e santu�rios em lugares que mais evocassem o mundo que eles acreditavam estar sob seus p�s."

Mas tal proximidade com as for�as da natureza teve um pre�o: uma zona tect�nica ativa tamb�m causa terremotos — a cidade foi arrasada por tremores em 17 d.C, 60 d.C, e novamente nos s�culos 17 e 14.

Por fim, Hier�polis foi abandonada.

Mas Pfanz ainda estava intrigado com uma coisa: se esta �rea � t�o mortal, por que os sacerdotes do Ploutonion n�o morriam tamb�m?

Ele voltou para Hier�polis no ano seguinte e, desta vez, estudou as concentra��es do g�s em diferentes momentos do dia.


Pamukkale é uma das atrações turísticas mais populares do país(foto: Petekarici/Getty Images)
Pamukkale � uma das atra��es tur�sticas mais populares do pa�s (foto: Petekarici/Getty Images)

"Percebemos que durante o dia, quando est� quente e ensolarado, o di�xido de carbono se dissipa rapidamente", diz ele.

"Mas como o di�xido de carbono � mais pesado que o ar, � noite, quando est� mais frio, ele se acumula na arena, criando um lago de g�s letal a n�vel do solo."

Sua conclus�o: os animais, com o nariz pr�ximo ao solo, rapidamente sufocavam nessa nuvem t�xica, mas os sacerdotes, mais altos, respiravam n�veis muito mais baixos de CO2 e conseguiam sobreviver.

Ser� ent�o que este espet�culo era um grande conto do vig�rio para arrecadar dinheiro ou os sacerdotes realmente acreditavam que estavam se comunicando com os deuses?

"N�o h� d�vida de que o Ploutonion em Hier�polis era um grande neg�cio", afirma Yeomans, "mas � dif�cil ter certeza se os sacerdotes realmente entendiam o que estava acontecendo".

"Alguns podem muito bem ter atribu�do sua sobreviv�ncia ao favor divino, enquanto outros podem ter considerado isso um fen�meno natural — embora enigm�tico — que poderia ser observado e, pelo menos em certa medida, previsto. "

Hoje, o Ploutonion est� tapado e uma passarela foi constru�da recentemente ao redor do local para oferecer aos visitantes a chance de ver esta arena lend�ria sem chegar muito perto da fonte de g�s mortal.

Mas mesmo com esses adere�os modernos, � emocionante poder seguir os passos dos peregrinos gregos e romanos e olhar para o lugar onde a mitologia e a realidade se encontram; onde os deuses antigos alcan�aram e tocaram a vida das pessoas.

"Quando identifiquei pela primeira vez que a lend�ria respira��o do Cerberus era, na verdade, di�xido de carbono, estava parado bem na frente do arco", conta Pfanz.

"Naquele momento, percebi que hav�amos resolvido esse antigo mist�rio; foi uma sensa��o realmente fant�stica."

Leia a vers�o original desta reportagem (em ingl�s) no site BBC Travel.

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