A hist�ria de como desceu os 105 andares, que mant�m v�vida na mem�ria 20 anos depois, se assemelha a uma epopeia tr�gica. Este pai de quatro filhos, que participava naquele dia de uma reuni�o de corretores de seguros em uma sala sem janelas, deve sua sobreviv�ncia a decis�es que tomou em quest�o de segundos.
Quando o primeiro avi�o sequestrado por extremistas isl�micos se chocou contra a torre norte, os 54 participantes da reuni�o s� viram a luz falhar. Foi s� no 90� andar, ap�s reclamarem dos chamados para evacua��o, que viram por uma janela o drama na torre norte.
"Foram os piores 30 a 40 segundos da minha vida (...) Vimos m�veis, pap�is, gente que se jogou no vazio, coisas apavorantes, terr�veis. Senti muito medo", conta.
Natural da Filad�lfia, ent�o radicado em Chicago, Dittmar n�o conseguia evitar um pensamento: "Cada vez que venho a esta cidade, algo acontece!"
Ele volta para as escadas, encontra com um colega, um "gigante" ex-jogador de futebol americano, Ludwig Picarro, que quis ir ao banheiro. A decis�o lhe custou a vida.
No 78� andar, uma colega sugere que pegue com ela o elevador expresso para descerem mais r�pido.
Mas este corretor de seguros sabe que elevadores devem ser evitados em caso de inc�ndio. E continua descendo as escadas. Foi "a melhor decis�o da minha vida", afirma.
"Em algum momento, entre os andares 74 e 75", a caixa da escada "come�a a oscilar violentamente, os corrim�os se soltam da parede, os degraus ondulam debaixo dos nossos p�s como ondas em um oceano, sentimos uma parede de calor, sentimos cheiro de combust�vel", lembra.
Outro avi�o tinha acabado de se chocar contra a sua torre logo acima deles, entre os andares 77 e 82.
- "Como podemos ser t�o fortes?" -
Apesar do medo, ele se lembra de uma "solidariedade" incr�vel, como a de um homem que carregava uma mulher portadora de defici�ncia nas costas.
Mas as l�grimas voltam quando ele lembra dos "verdadeiros her�is" com quem cruzou nas escadas aos cerca de 50 minutos da descida, a come�ar pelos bombeiros e socorristas do 31� andar, que subiam para tentar salvar pessoas presas.
"Seu olhar revelava que n�o havia mais esperan�a (...) Sabiam que n�o voltariam", disse. "Como podemos ser t�o corajosos, t�o fortes?", pergunta-se.
No 15� andar, ele ouve um seguran�a cantar em um megafone "God Bless America", enquanto pede, com humor, que o pr�dio seja evacuado.
Ele cantava "muito mal", mas "tentava desarmar os �nimos das pessoas (...), como o capit�o do Titanic que fazia seus m�sicos tocarem enquanto as pessoas embarcavam nos botes de emerg�ncia".
Ao chegar ao t�rreo, Dittmar e um colega atravessam o centro comercial subterr�neo do WTC e chegam � superf�cie.
De repente ouvem um estrondo atr�s deles. � o colapso da torre sul. E ouvem os gritos de dezenas de milhares de pessoas.
Esse barulho, esses gritos, Dittmar ainda ouve "todos os dias".
- "Continuar contando" -
Dittmar contou sua hist�ria centenas de vezes a estudantes pelo pa�s.
"� a minha terapia", diz. "Soube logo que para sobreviver devia continuar contando".
Com a data "911" tatuada no pulso, um broche das torres g�meas na gola da camisa e uma pedra que leva sempre no bolso, o o acompanha "como uma sombra".
Dittmar, que continua trabalhando com seguros mas se mudou para Delaware, diz admirar imensamente os nova-iorquinos.
"S�o incrivelmente resilientes, n�o t�m medo de nada (...) Aprendi a am�-los".
Ele, que � diab�tico, teve covid, mas resistiu. Com a ajuda da mulher, come�ou a comer melhor, a caminhar 5 km por dia e perdeu 23 quilos.
"A pandemia, um pouco como o 11 de setembro, me transformou. Disse a mim mesmo que posso melhorar".
NOVA YORK