(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas INTERNACIONAL

Um ano depois da explos�o no porto de Beirute, L�bano afunda no caos


04/08/2021 14:11

Em 4 de agosto de 2020, um inc�ndio no porto da capital do L�bano, Beirute, causou uma das mais poderosas explos�es n�o nucleares da Hist�ria. Ele desfigurou a cidade, matou 200 pessoas e traumatizou toda a na��o. O cataclismo foi sentido at� no Chipre, a cerca de 200 km de dist�ncia.

A magnitude do dano, semelhante ao de uma guerra ou de uma cat�strofe natural, chocou o mundo. Um desastre pelo qual ningu�m, ou quase ningu�m, prestou contas, e pelo qual ningu�m foi julgado. Em muitos casos, as fam�lias das v�timas nem sequer receberam visitas ou explica��es das autoridades.

O L�bano j� estava � beira do colapso antes da explos�o, com uma economia deprimida, um setor de sa�de saturado pela pandemia e um futuro obscurecido pela fuga de c�rebros.

"Pensamos que hav�amos chegado ao fundo do po�o. Como a situa��o poderia piorar?", disse Rima Rantisi, professora da Universidade Americana de Beirute.

A popula��o acusa os dirigentes - muitos deles no poder h� d�cadas - de corrup��o e incompet�ncia e, sobretudo, de deixar o pa�s afundar.

Um ano ap�s a trag�dia, o pa�s ainda n�o tem um governo est�vel que o tire da pior crise socioecon�mica que j� vivenciou. Bilh�es em ajuda do exterior continuam bloqueados por falta de reformas.

Um ano atr�s, no dia 4 de agosto, �s 18h, centenas de toneladas de nitrato de am�nio armazenadas no porto sem medidas de prote��o - como as pr�prias autoridades reconheceram - pegaram fogo e provocaram a explos�o.

As imagens do cogumelo no c�u de Beirute lembravam os bombardeios at�micos americanos de Hiroshima e Nagasaki em 1945.

'Nossa vida parou'

A popula��o atribui a trag�dia no hangar n�mero 12 � neglig�ncia e � corrup��o das autoridades, que permitiram o armazenamento de materiais perigosos por anos perto de bairros residenciais.

"O que ficou claro para mim naquele dia � que aqueles que governam este pa�s s�o criminosos e assassinos", disse Rima Rantisi. "Depois da explos�o, entendemos perfeitamente: enquanto eles permanecerem no poder, nada se resolver�."

A trag�dia deixou 214 mortos, de acordo com um balan�o oficial, mais de 6.500 feridos, pessoas incapacitadas para o resto da vida e dezenas de milhares de desabrigados.

Nesta quarta-feira, quando se completa um ano da explos�o, as fam�lias das v�timas far�o uma missa no porto e manifesta��es ser�o convocadas contra os governantes.

"Nossa vida parou no dia 4 de agosto, perdemos tudo", resume Karlen Hiti Karam, de 26 anos, em luto pelo marido, irm�o e prima, todos bombeiros enviados ao porto para ajudar a apagar as chamas. "Nada pode aliviar nossa dor e sinto mais falta deles a cada dia. Antes da explos�o, o colapso econ�mico j� havia come�ado. Os respons�veis por tudo isso s�o os mesmos. Eles devem ser responsabilizados."

Mas, em um pa�s que registrou v�rios assassinatos pol�ticos pelos quais ningu�m foi julgado ou detido, � dif�cil pensar que a justi�a seja poss�vel.

O primeiro juiz encarregado do dossi� da explos�o, Fadi Sawan, foi afastado em fevereiro ap�s causar um alvoro�o pol�tico ao acusar o chefe do governo demission�rio, Hassan Diab, e tr�s ex-ministros de neglig�ncia. As tentativas de seu sucessor, Tarek Bitar, de fazer o mesmo se chocaram com novas manobras para evit�-lo.

Estado falido

Para os libaneses, a explos�o de 4 de agosto foi a gota d'�gua. Eles j� estavam decepcionados com a falta de resultados dos protestos de outubro de 2019, quando a ira popular irrompeu contra a elite governante do pa�s. As manifesta��es levaram ao pedido de ren�ncia de Saad Hariri, ent�o primeiro-ministro, que entregou o cargo para apaziguar o ambiente interno. Em seu lugar, assumiu o comando do Executivo Hassan Diab, que era o premi� quando houve a explos�o.

Todo o gabinete de Diab entregou o cargo ap�s a trag�dia em Beirute, o que levou ao cargo Mustapha Adib, que era embaixador do L�bano na Alemanha. A ascen��o de Adib foi endossada por pot�ncias ocidentais - e mais diretamente pelo presidente franc�s, Emmanuel Macron -, mas o diplomata deixou o cargo no m�s seguinte, alegando dificuldade para formar o novo governo.

Com isso, o presidente liban�s, Michel Aoun, anunciou a volta da Saad Hariri ao cargo, ap�s conversa com parlamentares. Hariri se manteve no poder por quase um ano, mas renunciou no �ltimo dia 15, em um novo aprofundamento da crise pol�tica do pa�s.

Atualmente, a economia vai de mal a pior, com o colapso da libra libanesa e restri��es banc�rias sem precedentes causando longas filas para se conseguir dinheiro. Filas tamb�m s�o formadas em frente aos postos de gasolina e os moradores sofrem cortes de energia, com blecautes que afetam at� o aeroporto internacional de Beirute, onde expatriados libaneses chegam com malas carregadas de rem�dios imposs�veis de serem encontrados no pa�s. Hospitais alertam para uma cat�strofe de sa�de devido � falta de energia.

O bairro de Mar Mikhael, na regi�o portu�ria de Beirute, recuperou uma apar�ncia de normalidade, com lojas e bares abertos.Mas as autoridades pouco ou nada fizeram para ajudar as v�timas e reconstruir uma cidade devastada. O fardo da limpeza dos escombros recaiu sobre um ex�rcito de jovens volunt�rios e ONGs. Apesar das obras de reconstru��o e reparo, a cat�strofe deixou cicatrizes nos bairros mais atingidos, que abrigam museus, galerias de arte e joias hist�ricas.

"Todas as pessoas que conhe�o t�m problemas de sono e lutam diariamente, agarrando-se ao que lhes resta", disse Rima Rantisi. "Todos os dias acordamos com algo pior do que no dia anterior."

O L�bano, antes considerado "a Su��a do Oriente M�dio", tornou-se um Estado falido. E quem viveu uma guerra civil diz que a crise atual � pior.

'Dirigido por loucos'

O artista Bernard Hage relata esse decl�nio em quadrinhos publicados no jornal independente L'Orient-Le Jour . "Imagine um hospital psiqui�trico mal equipado dirigido por loucos", escreveu Hage recentemente. "Eu realmente vejo uma distopia, � a �nica palavra que consigo pensar para descrever o L�bano. � o seu pior pesadelo e voc� n�o tem controle sobre ele."

Mas, como muitos ativistas, ele n�o perdeu as esperan�as. A solidariedade da popula��o lembrou que o pulso da "revolu��o" de 2019 ainda estava batendo. Alguns candidatos antigovernamentais chegam a sonhar com um avan�o nas elei��es legislativas marcadas para 2022.

Bernard Hage aposta acima de tudo em uma investiga��o para finalmente ver um l�der na pris�o. "Se essa explos�o for capaz de derrubar pelo menos um, pode ser o in�cio de uma s�rie. Seria o primeiro efeito domin� a derrubar o sistema. A brecha no muro", afirmou. (Com ag�ncias internacionais)


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)