"Para toda a na��o, ver como tudo desabou em um instante foi o fim do mundo", confessou esta estudante afeg� � AFP na manh� de segunda-feira, poucas horas ap�s a entrada do Talib� em Cabul.
Khurram, que representa a juventude afeg� na ONU, deveria concluir seus estudos na Universidade de Cabul nos pr�ximos meses. Mas, na manh� de domingo, ela e seus companheiros n�o puderam voltar ao campus e seu futuro � mais incerto do que nunca.
"O mundo e os l�deres afeg�os abandonaram a juventude do pa�s da maneira mais cruel que podemos imaginar", explica. "� um pesadelo para as mulheres que estudaram, que pensam em um amanh� melhor para si e para as gera��es futuras".
Durante 1996 e 2001, o governo Talib� imp�s uma vis�o ultraortodoxa da lei isl�mica que impedia as mulheres de estudar ou trabalhar, sair de casa se n�o acompanhadas por um membro de sua fam�lia do sexo masculino e obrig�-las a usar a burca em p�blico.
Flagela��es e execu��es, incluindo apedrejamento por adult�rio, eram pr�ticas comuns em pra�as e est�dios da cidade.
No entanto, a situa��o, especialmente nas �reas rurais, n�o melhorou substancialmente para as mulheres com a sa�da dos talib�s em 2001.
- Medo -
O Talib� afirmou repetidamente que respeitaria os direitos humanos se retornassem ao poder no Afeganist�o, enfatizando os das mulheres, mas de acordo com os "valores isl�micos".
As afeg�s, no entanto, veem essas promessas com desconfian�a, especialmente aquelas que por duas d�cadas puderam ir para a universidade, ocuparam cargos de responsabilidade na pol�tica, no jornalismo e at� mesmo no judici�rio e nas ag�ncias de seguran�a p�blica.
Nas �ltimas 24 horas, mulheres conhecidas em Cabul expressaram nas redes sociais sua tristeza por ver seu pa�s e todas as suas vidas destru�das pelas m�os dos talib�s.
"Comecei o dia olhando para as ruas vazias de Cabul, horrorizada", escreve Fawzia Koofi, ativista de direitos humanos e ex-vice-presidente do Parlamento afeg�o. "A hist�ria se repete t�o r�pido".
"O medo est� impresso em voc�, est� aqui como um p�ssaro preto", acrescenta Muska Dastageer, professora da Universidade Americana do Afeganist�o, inaugurada cinco anos ap�s a sa�da do Talib�.
- "Apagar as mulheres" -
Em um post na conta do Twitter de Rada Akbar, uma mulher de 33 anos, vemos a imagem - j� viral - de um homem cobrindo com tinta branca a foto em uma vitrine de uma mulher sorridente em um vestido de noiva.
Para Akbar, esse gesto mostra que eles buscam "apagar as mulheres do espa�o p�blico", pois o Talib� n�o permite a reprodu��o de imagens de mulheres.
Rada Akbar, pintora e fot�grafa, � conhecida por seus retratos, uma reivindica��o da independ�ncia e heran�a do Afeganist�o. Este ano, teve que organizar sua exposi��o de homenagem a importantes mulheres afeg�s online, depois de receber amea�as.
Na segunda-feira de manh�, seu medo era palp�vel. "Quero me tornar invis�vel e me esconder do mundo", escreveu em um de seus �ltimos tweets.
No s�bado, o secret�rio-geral das Na��es Unidas, Antonio Guterres, disse que ficou "horrorizado" ao "ver como desaparecem os direitos t�o duramente conquistados pelas meninas e mulheres do Afeganist�o".
Sahraa Karimi, uma das cineastas afeg�s mais famosas, disse que n�o tinha inten��o de deixar o Afeganist�o. "N�o abandonarei meu pa�s", declarou, enxugando as l�grimas em um v�deo postado no Twitter.
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