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Estado de Minas AFEGANIST�O

Biden sobre retorno do Talib� ao poder: 'A responsabilidade � minha'

Presidente assume responsabilidade pela volta do Talib�, defende retirada, diz que os EUA jamais planejavam reconstruir o Afeganist�o e alerta contra terrorismo


17/08/2021 08:41 - atualizado 17/08/2021 08:51

(foto: BRENDAN SMIALOWSKI)
(foto: BRENDAN SMIALOWSKI)
A miss�o dos Estados Unidos no Afeganist�o jamais envolveu reconstruir o Afeganist�o, que, no domingo (15/8), mergulhou na sombra do extremismo. Teve como foco impedir a rede terrorista Al-Qaeda de usar o territ�rio como base para planejar atentados. Washington nunca mostrou a pretens�o de criar uma democracia unificada e centralizada para os afeg�os.

Durante 18 minutos, esta foi a t�nica do discurso de Joe Biden, for�ado a interromper as f�rias em Camp David para explicar a volta da mil�cia fundamentalista isl�mica Talib� ao poder e ao defender a retirada militar, enquanto o caos reinava no Aeroporto Internacional Hamid Karzai, em Cabul.

"Sou o presidente dos Estados Unidos, e a responsabilidade � minha. (...) Sustento firmemente minha decis�o. Depois de 20 anos, aprendi a duras penas que nunca houve um bom momento para retirar as for�as americanas", declarou o democrata. "A verdade � que isto (a volta do Talib�) ocorreu mais r�pido do que prev�amos." Ele disse que os EUA agir�o "rapidamente" contra o terrorismo no Afeganist�o, "se necess�rio".

Segundo o presidente, uma rela��o com o Afeganist�o depender� "das a��es do Talib�". "Um futuro governo afeg�o que defenda os direitos b�sicos do seu povo, que n�o receba terroristas e que proteja os direitos b�sicos da metade da sua popula��o - suas mulheres e meninas -, este seria um governo com qual estar�amos dispostos a trabalhar", assegurou.

Caso os talib�s ataquem interesses dos EUA ou atrapalhem a retirada dos milhares de diplomatas americanos, Biden avisou que responder� com "for�a devastadora, se necess�rio". Ele prometeu, ainda, "falar abertamente" pelas mulheres afeg�s.

Estudante da Universidade de Cabul, Aisha, 22 anos, � uma delas. Nas �ltimas 48 horas, tentou fugir por duas vezes do Afeganist�o. Enviou � reportagem uma foto que mostra o p� esquerdo com feridas. "As pessoas corriam dentro do aeroporto, aos milhares. Meus joelhos e minhas m�os sangram. A situa��o no aeroporto � p�ssima. Houve disparos l�", contou.

Afeg�os escalaram uma aeronave da companhia a�rea Kam Air e o finger (equipamento que liga o terminal de passageiros � porta da aeronave). Em uma cena ic�nica, centenas de civis correram ao lado de um cargueiro norte-americano enquanto decolava. Alguns se abrigaram no trem de pouso, e dois despencaram do c�u para a morte, diante das c�meras.

Soldados americanos mataram dois homens armados no aeroporto. "Biden insiste sobre seus erros e n�o aceita o mau gerenciamento da situa��o em meu pa�s. Os respons�veis pelo que vivemos hoje s�o Ashraf Ghani (o presidente que fugiu no s�bado), Zalmai Khalizad (emiss�rio americano para o Afeganist�o) e Biden", disse Aisha.

Com o mundo at�nito, a China foi o primeiro pa�s a expressar o desejo de manter "rela��es amistosas" com o governo afeg�o. O presidente da Fran�a, Emmanuel Macron, alertou o Afeganist�o a n�o se tornar "santu�rio do terrorismo" e prometeu encampar uma iniciativa da Uni�o Europeia (UE) para proteger migrantes afeg�os. A chanceler alem�, Angela Merkel, lamentou que a miss�o no Afeganist�o "n�o foi exitosa".

C�lculo

Professor de rela��es internacionais da ESPM Porto Alegre, Roberto Uebel disse que chamou a aten��o o fato de Biden afirmar que a queda de Cabul ocorreu mais r�pido do que o previsto. "Havia um c�lculo estrat�gico dos Estados Unidos de que o Talib� tomaria o poder com o an�ncio da sa�da das tropas. Essa declara��o do presidente oferece ind�cios de que o Talib� tomaria o poder de volta assim que os EUA sa�ssem", avaliou.

Uebel lembra que o Talib� jamais deixou de existir. "Desde 2001, a presen�a norte-americana no Afeganist�o representava, para os talib�s, algo como uma invas�o territorial. Nos �ltimos anos, desde o fim do governo de Barack Obama, havia a perspectiva de que os Estados Unidos deixassem o Afeganist�o. Na gest�o de Donald Trump, existiu chance de di�logo com os talib�s. Durante a campanha eleitoral, Biden prometeu a retirada das tropas americanas", explicou � reportagem.

Ele aponta a sinaliza��o da China e da R�ssia em reconhecer a soberania talib� sobre o territ�rio afeg�o como fator decisivo para a reconquista do poder.

(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)

Para Farzana Kochai (leia Duas perguntas para), membro do Parlamento do Afeganist�o, o mundo fracassou em n�o implementar bons governos no pa�s e por n�o atuar com transpar�ncia. "A confer�ncia organizada pelo Banco Mundial para debater a reconstru��o do Afeganist�o n�o foi um processo inclusivo. As coisas que ocorreram recentemente, no que diz respeito �s conversas de paz e � legitimidade oferecidas por esse di�logo, levaram a essa situa��o", afirmou � reportagem, por telefone.

A parlamentar jamais esperava a r�pida tomada da capital afeg� e n�o escondeu o medo. "H� milhares de perguntas sobre o que ocorrer� com as crian�as, as garotas e as mulheres. Se elas ter�o permiss�o para buscarem uma boa educa��o, para serem livres, para usufru�rem de seus direitos, para viajarem e viverem da forma como merecem."

Ao ser questionada sobre o discurso de Biden, Farzana disse que "n�o viu nada de novo". A parlamentar reconhece um v�cuo de poder no Afeganist�o, mas afirmou acreditar que l�deres como o ex-presidente Hamid Karzai e o ex-vice Abdullah Abdullah dialogam com o Talib�. "Os ministros da Ind�stria e da Sa�de ainda est�o em seus postos; o Parlamento n�o desmoronou, mas enfrenta futuro incerto."

Farzana descarta abandonar Cabul. Disse ter esperan�a de encontrar respostas para muitas de suas perguntas. "Quero saber se as mulheres poder�o sobreviver neste lugar. N�o tenho planos. Apenas desejo ficar por aqui e ver se posso fazer algo, ainda que pequenas coisas, para o meu povo e o meu pa�s ficarem em seguran�a."

Duas perguntas/Farzana Kochai - parlamentar afeg� desde 2019, moradora de Cabul

Na condi��o de mulher e parlamentar, como a senhora imagina que ser� o futuro das afeg�s, ap�s a tomada de poder pelo Talib�?
O futuro das mulheres depender� da forma��o do pr�ximo governo, do tipo de governo que teremos. Se ser� um governo democr�tico, que confia e acredita nos direitos das mulheres. Ou se ser� como uma ditadura, um regime tir�nico, como antes de 2001. Naquela ocasi�o, o Afeganist�o n�o tinha mais liga��es com o mundo, nenhuma rela��o diplom�tica. Eles (talib�s) preferir�o governar como quando estiveram aqui, duas d�cadas atr�s, ou comandar�o o pa�s de forma diferente? Se quiserem agir de modo diferente, ter�o de ser um governo inclusivo, transparente, e deixar que as mulheres tenham acesso aos seus pr�prios direitos. Tudo depender� da forma de governo a ser implementada.

A senhora culpa os Estados Unidos e o governo Joe Biden pela r�pida queda de Cabul?
N�s podemos culpar os Estados Unidos e os ocidentais que estiveram ao lado dos norte-americanos. Os aliados deveriam ter cobrado dos EUA transpar�ncia e responsabilidade ante o que ocorre em meu pa�s. As na��es ocidentais, o governo afeg�o e o nosso povo, de alguma forma, nos sentimos parte de tudo isso. Os pa�ses do Ocidente deram uma pequena contribui��o para que nossa vida melhorasse. No entanto, t�m responsabilidade menor do que os norte-americanos. � claro que os EUA e seus aliados s�o respons�veis por tudo isso.


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