Ap�s os ataques de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, Karzai encarnou o novo rosto do Afeganist�o. Sua aura de modernizador, seu ingl�s perfeito, o fato de pertencer a uma antiga fam�lia pashtun e seus la�os com as tribos afeg�s transformaram ele no candidato ideal para mudar uma na��o paralisada.
Em dezembro de 2001, ap�s a expuls�o dos talib�s, ele foi nomeado presidente de um governo de transi��o durante negocia��es com media��o da ONU em Bonn, Alemanha. Esta administra��o se comprometeu a trabalhar em prol da democracia.
Depois, uma assembleia afeg� tradicional ratificou o presidente Karzai no cargo, o que gerou uma certa esperan�a de que que, talvez, uma nova era se aproximava no Afeganist�o.
Mas as cr�ticas n�o demoraram a ofuscar os elogios.
Apesar das acusa��es de fraude, Karzai venceu as segundas elei��es presidenciais no pa�s, depois que seu rival, Abullah Abdullah, desistiu de disputar o segundo turno.
Ap�s a elei��o de Barack Obama em 2008 e da sa�da do poder de George W. Bush, o governo dos Estados Unidos iniciou uma grande opera��o e enviou mais de 100.000 soldados ao Afeganist�o para lutar contra os talib�s.
Durante anos, Karzai advertiu que a contra-insurrei��o americana nos redutos dos talib�s no sul do pa�s apenas estimulariam o movimento islamita radical.
Em v�o, ele suplicou a Washington que concentrasse os esfor�os em tentar convencer o governo paquistan�s a parar de apoiar os l�deres talib�s exilados em seu territ�rio.
Mas com os ataques dos insurgentes em Cabul, Karzai insistia que o que deveria ser feito era reincorporar os talib�s � vida pol�tica. Ele recebeu fortes cr�ticas ao cham�-los de "irm�os".
- "Figura unificadora" -
Karzai perdeu o apoio do Ocidente. As autoridades e a imprensa dos Estados Unidos o ridicularizaram, com acusa��es de corrup��o, enquanto Washington gastava bilh�es de d�lares em uma economia afeg� arruinada, o que tornava as fraudes praticamente inevit�veis.
Ele caiu em desgra�a em Washington e foi sucedido por seu ex-ministro das Finan�as Ashraf Ghani, que presidiu o pa�s de 2014 at� a semana passada, quando fugiu para os Emirados �rabes Unidos.
Quando os talib�s assumiram o poder, Karzai retornou a um papel que conhece bem, correndo de reuni�o em reuni�o, em busca de aliados, para tentar obter uma esp�cie de acordo com os velhos inimigos.
No domingo, ele apareceu, ao lado das filhas, em um v�deo muito compartilhado nas redes sociais no qual destacou sua mobiliza��o e a de sua fam�lia pelo pa�s.
"Espero que os problemas do pa�s sejam resolvidos com di�logos e negocia��es", declarou, utilizando o tom pragm�tico que empregou durante seus anos no poder.
"Tamb�m pe�o a todas as for�as de seguran�a e aos talib�s, estejam onde estiverem, que protejam as vidas e os bens da popula��o e que se concentrem na seguran�a das pessoas", completou.
Na quarta-feira, Karzai se reuniu com uma delega��o de talib�s. Entre os insurgentes estava Anas Haqqani, irm�o mais novo de Sirajuddin Haqqani, l�der da rede de mesmo nome e considerado "terrorista" por Washington. Ele executou atentados suicidas e ataques brutais em Cabul durante a presid�ncia de Karzai.
"Se queremos ver uma solu��o pol�tica, Hamid Karzai ter� que desempenhar um papel chave", afirmou Ibraheem Thurial Bahiss, consultor no International Crisis Group.
"� uma figura unificadora em muitos sentidos", completou, antes de recordar que Karzai tem a fama de ter conseguido reunir "diversas fac��es" durante seu mandato.
CABUL