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Estado de Minas M�XICO

'Veneza do Novo Mundo': conhe�a a capital asteca antes da coloniza��o espanhola

Perguntamos a dois historiadores o que tornava esta 'cidade dos pal�cios' t�o especial.


22/08/2021 17:16 - atualizado 22/08/2021 22:34

ilustração mostra a praça central e o Templo Maior no século 16: Hernán Cortés descreveu Tenochtitlán como a cidade dos palácios(foto: DEA PICTURE LIBRARY/De Agostini via Getty Images)
ilustra��o mostra a pra�a central e o Templo Maior no s�culo 16: Hern�n Cort�s descreveu Tenochtitl�n como a cidade dos pal�cios (foto: DEA PICTURE LIBRARY/De Agostini via Getty Images)

A hist�ria da Cidade do M�xico � escrita (e constru�da) sobre as ru�nas de Tenochtitl�n, a "Veneza do Novo Mundo", que cativou o conquistador espanhol Hern�n Cort�s h� cinco s�culos.

Era um espet�culo maravilhoso de lagos e canais; uma das maiores cidades do mundo, quase m�stica, e Cort�s e seus homens pronunciavam seu nome como podiam: Tenustit�n, Tenochtitl�n, Tenestec�n ou Temixtit�n.


Mas o que realmente fez com que Cort�s se encantasse com a capital do imp�rio mexica (ou asteca), segundo disse � BBC News Mundo (servi�o em espanhol da BBC) o doutor em Hist�ria da Am�rica Esteban Mira Caballos*, foi o seu aspecto de "cidade dos pal�cios".

O pr�prio Cort�s assim a descreveu depois do seu primeiro encontro com Montezuma 2° em 8 de novembro de 1519, que marcaria para sempre a conquista do territ�rio atual do M�xico.

"Com admira��o, ele descreveu suas ruas que, segundo suas palavras, eram metade de terra e metade de �gua, de forma que a popula��o devia transportar-se em canoas", relata o historiador sevilhano, especialista nas rela��es entre a Espanha e a Am�rica no s�culo 16.

"Ele tamb�m falou das pontes que atravessavam essas vias, que eram t�o largas e s�lidas que permitiam a passagem de 10 cavalos juntos de uma vez", acrescenta.

"O conquistador ficou t�o impressionado com Tenochtitl�n e a confedera��o mexica que, na sua Segunda Carta Narrativa, chegou a sugerir ao imperador Carlos 5° que se proclamasse imperador daquelas terras, o que, segundo ele, n�o seria menos digno que a Coroa Imperial da Alemanha".


'Esta grande cidade de Temixtitán (sic) foi fundada nesta lagoa salgada [...] Ela tem quatro entradas, todas de calçadas feitas a mão. São ruas muito largas e muito retas', escreveu Hernán Cortés ao imperador Carlos 5º em 1520(foto: Getty Images)
'Esta grande cidade de Temixtit�n (sic) foi fundada nesta lagoa salgada [...] Ela tem quatro entradas, todas de cal�adas feitas a m�o. S�o ruas muito largas e muito retas', escreveu Hern�n Cort�s ao imperador Carlos 5� em 1520 (foto: Getty Images)


Ilustração mostra México-Tenochtitlán no início do século 16 - provavelmente baseada em um esboço de Cortés de 1524(foto: Getty Images)
Ilustra��o mostra M�xico-Tenochtitl�n no in�cio do s�culo 16 - provavelmente baseada em um esbo�o de Cort�s de 1524 (foto: Getty Images)

Mas o que sabemos realmente sobre Tenochtitl�n, como era a cidade e por quais fontes?

"Conhecemos a �rea urbana de M�xico-Tenochtitl�n gra�as aos estudos e representa��es cartogr�ficas que v�m sendo feitos desde a �poca do vice-reino", diz o historiador mexicano Andr�s Lira Gonz�lez**.

Ele cita, entre outros, a descri��o e o mapa de antigos bairros ind�genas elaborados pelo sacerdote e cart�grafo mexicano Antonio Alzate em 1789, al�m de relatos de testemunhos, mapas da cidade dos s�culos 16 e 17 e estudos importantes dos arque�logos Eduardo Matos Moctezuma e Leonardo L�pez Luj�n.

Esteban Mira acrescenta que existem mapas "muito pr�ximos da realidade", como o famoso mapa de Nuremberg, editado na cidade alem� em 1524.

"Temos tamb�m as fontes arqueol�gicas que est�o resgatando e analisando muitos dos lugares descritos por esses cronistas, trazendo � luz complexos arqueol�gicos como o impressionante Templo Maior, a constru��o do jogo de bola e o tzompantli - o altar dos cr�nios", conclui Mira.


O 'mapa de Nuremberg', elaborado na Alemanha em 1524, é o mapa mais antigo existente da Cidade do México (na época, Tenochtitlán)(foto: DEA PICTURE LIBRARY/De Agostini via Getty Images)
O 'mapa de Nuremberg', elaborado na Alemanha em 1524, � o mapa mais antigo existente da Cidade do M�xico (na �poca, Tenochtitl�n) (foto: DEA PICTURE LIBRARY/De Agostini via Getty Images)

Al�m dos relatos de Cort�s e do conquistador Bernal D�az, os c�dices ind�genas tamb�m nos permitem ter uma ideia de como era aquela imponente civiliza��o.

"Nas obras de Bernal D�az del Castillo, o leitor encontrar� a impress�o causada aos conquistadores pelo panorama contemplado ao aproximar-se do Vale do M�xico", conta Lira Gonz�lez.

O escritor mexicano afirma que Cort�s, "convencido da grandeza do M�xico, esfor�ou-se para estabelecer ali a capital dos dom�nios j� conquistados e que conquistaria no futuro, apesar dos inconvenientes do solo pantanoso".

"� bom lembrar que Tenochtitl�n e Tlatelolco foram constru�das sobre ilhotas e se ampliaram ganhando espa�o sobre a lagoa e os p�ntanos que ocupavam o "Vale do M�xico" (na verdade, uma bacia hidrogr�fica cercada por montanhas no lado sul, que impediam a sa�da da �gua)", ressalta o escritor.

Sem d�vida, as imponentes constru��es da cidade mexica constru�da sobre aquele lago enorme deixaram os rec�m-chegados deslumbrados.

Mas "� dif�cil imaginar como realmente devia ser Tenochtitl�n quando os espanh�is chegaram", ressalta Mira.

� verdade, mas temos alguns dados.

'A Veneza do Novo Mundo'


Litografia 'Entrada de Cortés no México', de 1892, ilustra primeiro encontro entre Cortés e Montezuma, em 8 de novembro de 1519(foto: Bettmann/Getty Images)
Litografia 'Entrada de Cort�s no M�xico', de 1892, ilustra primeiro encontro entre Cort�s e Montezuma, em 8 de novembro de 1519 (foto: Bettmann/Getty Images)

"Era uma cidade lacustre, a 'Veneza americana' [do Novo Mundo], localizada no meio de um lago, isolada, cujo acesso se resumia a tr�s cal�adas e que precisava ser abastecida do lado externo", explica Mira.

Para que se tenha uma ideia: "ela estava localizada em meio a mais de 2 mil km² de lagos onde havia muitos peixes, enquanto nas terras ao seu redor era praticada uma agricultura muito produtiva que permitia altos �ndices de popula��o na regi�o", afirma o historiador.

"(O escritor e colonizador espanhol) Fern�ndez de Oviedo a descreveu como uma cidade de pal�cios, constru�da no meio do lago Texcoco, com casas principais, porque todos os vassalos de Montezuma costumavam ter resid�ncia na capital, onde viviam uma parte do ano."

"Era uma metr�pole refinada, com banheiros p�blicos e mais de 30 pal�cios que abrigavam finas cer�micas e elegantes artigos de tecido", acrescenta o historiador espanhol.

Mira afirma que o pal�cio de Montezuma, incluindo seus jardins, ocupava dois hectares e meio, ou seja, era maior que muitas fortalezas espanholas.

"Os pr�prios mexicas sentiam orgulho da sua capital e das grandes realiza��es alcan�adas, principalmente nas d�cadas imediatamente anteriores � chegada dos espanh�is", conta o historiador.

"O exemplo mais claro do alto grau de desenvolvimento da sua engenharia �, sem d�vida, o aqueduto de Chapultepec, que abastecia a cidade. Ele trazia o precioso l�quido de uma ponta do lago Texcoco e tinha duas canaliza��es complexas, uma que ficava sempre ativa enquanto a outra era limpa. Tudo isso demonstra os grandes conhecimentos de engenharia hidr�ulica que essa civiliza��o chegou a alcan�ar".


Este desenho mostra uma vista panorâmica de Tenochtitlán e do vale do México, sobre a lagoa de Texcoco(foto: DeAgostini/Getty Images)
Este desenho mostra uma vista panor�mica de Tenochtitl�n e do vale do M�xico, sobre a lagoa de Texcoco (foto: DeAgostini/Getty Images)

Mira acrescenta que o aqueduto foi cortado por Cort�s antes do ataque final � cidade (em 1521), "o que causou extremo sofrimento para a popula��o sitiada, que foi privada de �gua doce em poucas semanas".

Por isso conclui-se que Tenochtitl�n era impressionante, "mas tamb�m extremamente vulner�vel, pois dependia a todo momento de recursos h�dricos e de alimentos provenientes do exterior".

Isso significa que os mexicas "aproveitaram os recursos para orientar e expandir o seu espa�o no meio lacustre deixado por outros povos que se assentaram anteriormente na regi�o, desenvolvendo t�cnicas inovadoras e eficazes para edificar a sua cidade".

"O 'pragmatismo', digamos, dos mexicas revela conhecimentos astron�micos, religiosos e art�sticos palp�veis dos povos da Mesoam�rica", segundo o mexicano.

"Destaca-se uma 'engenharia' original para dominar o espa�o em volta do lago e, devido � sua situa��o e sua cultura guerreira e comercial, o desenvolvimento de atividade expansiva, da qual Hern�n Cort�s foi testemunha e usufrutu�rio h�bil".

Uma metr�pole gigante


As ruínas de Tenochtitlán sobre as quais foi construída a Cidade do México apenas refletem sua grandeza de cinco séculos atrás. A imagem mostra o
As ru�nas de Tenochtitl�n sobre as quais foi constru�da a Cidade do M�xico apenas refletem sua grandeza de cinco s�culos atr�s. A imagem mostra o "muro de serpentes" do Templo Maior. (foto: Werner Forman/Getty Images)

Quantas pessoas viviam em Tenochtitl�n? Lira afirma que n�o � uma resposta f�cil.

"Os c�lculos de popula��o realizados com testemunhas e m�todos muito diferentes, desde os primeiros anos at� os mais recentes, s�o desconcertantes", afirmou ele � BBC News Mundo.

O acad�mico considera "mais corretos" os n�meros mencionados pelo historiador Jos� Luis de Rojas, da Universidade Complutense de Madri (Espanha), no seu livro M�xico-Tenochtitl�n, economia e sociedade no s�culo 15 (em tradu��o livre do espanhol).

De Rojas calcula como mais prov�vel um m�ximo de 200 mil habitantes.

"� preciso considerar, entretanto, que M�xico-Tenochtitl�n e Tlatelolco (sua cidade g�mea) formavam um conjunto humano em movimento em constante rela��o e interpenetra��o".


Esta imagem de Tenochtitlán é obra do artista mexicano Tomás J. Filsinger, radicado nos Estados Unidos, que realizou amplos estudos sobre as mudanças no México ao longo dos séculos(foto: Cortesía de Tomás J. Filsinger)
Esta imagem de Tenochtitl�n � obra do artista mexicano Tom�s J. Filsinger, radicado nos Estados Unidos, que realizou amplos estudos sobre as mudan�as no M�xico ao longo dos s�culos (foto: Cortes�a de Tom�s J. Filsinger)

Esteban Mira concorda com a falta de "fontes confi�veis" e est� de acordo com Lira que "n�o havia menos de 200 mil habitantes".

"Isso significa que era uma das cidades mais povoadas do planeta, bem maior que Roma, Paris ou Sevilha e pouco menor que Pequim, Constantinopla ou Bagd�".

"Para alimentar uma popula��o como essa, eram necess�rios pelo menos 4 mil carregadores por dia, o que ocasionava um tr�fego constante de pessoas e um vast�ssimo mercado", acrescenta o pesquisador.

Uma cidade planejada

Al�m da falta de precis�o sobre a quantidade de habitantes daquela imensa cidade, a escassez de dados alimentou todo tipo de mitos sobre a sua constru��o.

"O principal e mais importante", segundo Andr�s Lira, "� o mito da 'peregrina��o', ordenada e orientada pelo deus Huitzilopochtli para levar o seu povo para o lugar onde sua cidade deveria ser fundada e ampliada".

Assim, os mexicas chegaram ao vale do M�xico, onde encontraram um nopal (tipo de cacto) no qual uma �guia devorava p�ssaros, seguindo as instru��es fornecidas pelo deus.

"Ali encontraram um ba� contendo dois peda�os de madeira e algumas pedras preciosas", prossegue o historiador, mas, por sorteio, permaneceram na ilhota os donos dos peda�os de madeira, que s�o usados para fazer fogo e trabalho, enquanto os beneficiados com as pedras preciosas decidem separar-se e estabelecer-se na ilhota que seria Tlatelolco.

Mas a mitologia n�o coincide com a hist�ria.


Huitzilopochtli era o deus asteca da guerra(foto: Chris Hellier/getty Images)
Huitzilopochtli era o deus asteca da guerra (foto: Chris Hellier/getty Images)

Esteban Mira afirma que, ao contr�rio do mito da peregrina��o, "hoje sabemos que sua funda��o no meio do lago Texcoco, rodeado de p�ntanos e juncos, n�o foi exatamente volunt�ria, mas sim for�ada porque, por serem uma popula��o emigrante, os mexicas haviam sido expulsos de quase todos os lugares".

"Foi nessa regi�o aparentemente in�spita que foi permitido o seu estabelecimento".

A mitologia tamb�m contribuiu com a sua idealiza��o, bem como as narra��es dos escritores da �poca.

"Os cronistas espanh�is t�m o costume de comparar o que veem com o que j� conhecem", conta Mira. "Portanto, as alus�es a cidades europeias costumam ser fruto da sua imagina��o".

Por isso, eles retratavam cidades mexicanas - como Tenochtitl�n e Cholula - ou peruanas - como Cusco, Tumbes ou Cajamarca - "com caracter�sticas arquitet�nicas europeias que absolutamente n�o correspondem � realidade".


O encontro entre Cortés e Montezuma ocorreu em uma passagem elevada que cruzava o lago do México até a capital de Montezuma, Tenochtitlán, coração da atual Cidade do México(foto: Getty Images)
O encontro entre Cort�s e Montezuma ocorreu em uma passagem elevada que cruzava o lago do M�xico at� a capital de Montezuma, Tenochtitl�n, cora��o da atual Cidade do M�xico (foto: Getty Images)

"Tenochtitl�n era uma cidade impressionante pelas suas dimens�es, seus jardins e pelas suas pra�as e pal�cios espa�osos. Mas � preciso lembrar que era muito diferente de qualquer cidade europeia", afirma o historiador espanhol.

"Ela tinha um encanto muito especial, mas n�o se parecia em nada com as cidades ocidentais".

As ru�nas que restaram da antiga capital mexica, destru�da ap�s os combates que deram a vit�ria a Cort�s - com a ajuda de aliados ind�genas - tamb�m n�o se parece em nada com o M�xico moderno.

Mas visitar o que resta do Templo Maior, no cora��o da Cidade do M�xico, continua tendo um encanto especial que recorda a grandeza de um imp�rio extinto.

*Esteban Mira Caballos � doutor em Hist�ria da Am�rica pela Universidade de Sevilha, Espanha. Membro correspondente internacional da Academia Dominicana de Hist�ria (2004) e do Instituto Chileno de Pesquisas Geneal�gicas (2012), especialista nas rela��es entre a Espanha e a Am�rica no s�culo 16. Publicou cerca de vinte livros e mais uma centena de colabora��es em obras coletivas, congressos e revistas de pesquisa.

**Andr�s Lira Gonz�lez � advogado, escritor, historiador, pesquisador e acad�mico mexicano. Autor de "O amparo colonial e o ju�zo de amparo mexicano" (1972) e "Comunidades ind�genas frente � Cidade do M�xico. Tenochtitl�n e Tlatelolco, seus povos e bairros, 1812-1919" (1983) (em tradu��o livre do espanhol), al�m de outros t�tulos e mais de 30 ensaios. Realizou cerca de vinte pref�cios, apresenta��es e estudos introdut�rios de livros de Hist�ria

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