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Estado de Minas PARIS

Fugir do Afeganist�o, uma viagem marcada pelo medo, viol�ncia e culpa


23/08/2021 10:24

Na entrada do aeroporto, soldados americanos e franceses apontam para os que poder�o embarcar em um dos voos de retirada: "ele est� conosco, ele, n�o...". Os que conseguem passar pela barreira ter�o a chance de fugir de Cabul, conta Mohamed. Os demais ter�o de permanecer no Afeganist�o.

Mohamed � um dos muitos afeg�os que foram levados para a Fran�a nos �ltimos dias, ap�s a tomada de poder pelos talib�s. Alguns deles recordaram � AFP seus �ltimos momentos no Afeganist�o, marcados pelo medo, pela tristeza, mas tamb�m pelo al�vio.

"Tentei entrar na embaixada (francesa) v�rias vezes. Mas os talib�s impediam. Um deles me agrediu com seu (fuzil) Kalashnikov. Estava chorando na rua quando algu�m do lado franc�s me viu. Abriram a porta", conta Maryam, devastada por ter sido separada de um dos filhos durante a fuga.

Sob pseud�nimo, por medo de repres�lias contra parentes, os afeg�os relatam agress�es e insultos sofridos, a fuga desesperada da capital afeg� e o al�vio que sentiram ao chegar � Europa, al�m do sentimento de tristeza e culpa por abandonarem o pa�s natal e as fam�lias.

Jibran teve de deixar toda sua vida para tr�s. O simples fato de trabalhar como motorista para uma empresa estrangeira o torna suspeito aos olhos dos talib�s, explica.

"Sa� do Afeganist�o apenas com a roupa do corpo e com a minha fam�lia. Fui direto do trabalho para casa. Tranquei a porta e seguimos para a embaixada da Fran�a", conta este homem de mais de 40 anos.

Nos bolsos, ele carregava sete passaportes - o dele, o da esposa e os dos cinco filhos - e 2.000 afgani (a moeda afeg�), ou seja, menos de 20 euros.

"Estamos come�ando uma nova vida, mas do zero", admite, no hotel em que permanecem abrigados nas proximidades de Paris.

- "Talib�s por todos os lados" -

Mushtaq e a esposa, gr�vida de oito meses, nunca haviam pensado em abandonar o pa�s, mas com a chegada dos talib�s sentiram que estavam em perigo. Para fugir, eles precisaram primeiro chegar � embaixada da Fran�a, pa�s que concedeu vistos � fam�lia.

"Os talib�s estavam por todos os lados. Verificavam cada ve�culo, cada bolsa", conta Mushtaq. "Achei que fosse ser detido. Um comandante gritava: 'Por que voc� vai para a Fran�a?'". Mas permitiram sua passagem.

Masud conseguiu fugir com a esposa e quatro filhos. Rep�rter fotogr�fico em Jalalabad, cidade do leste do Afeganist�o que foi alvo de atentados dos talib�s e do Estado Isl�mico nos �ltimos anos, ele estava em Cabul quando os talib�s entraram na cidade.

A fam�lia entrou em um carro e conseguiu encontrar com ele na embaixada. O grupo escapou o mais r�pido poss�vel, sem mala e sem uma fralda para o beb� de dois meses e meio.

- 5 quil�metros em 3 horas -

Todos foram levados para o aeroporto durante a noite, sob escolta francesa. Um deslocamento marcado por sustos.

Os cinco quil�metros que separam os dois lugares pareceram "eternos" para o comandante da unidade de elite da pol�cia francesa que escoltava o comboio, apesar da "negocia��es" pr�vias entre as autoridades francesas e os talib�s.

A viagem durou quase tr�s horas, porque os insurgentes pararam o comboio. "Tinha medo de um ataque. Havia muita tens�o entre os passageiros", conta Masud.

Shahzaib Wahla, jornalista paquistan�s que foi retirado com eles, pensou que fosse morrer. Uma multid�o se aproximou de seu �nibus, e algumas pessoas tentaram entrar � for�a, "um talib� atirou para o alto" para dispersar o grupo e, "depois, apontou com sua arma para o motorista", antes de liberar a passagem.

As mesmas cenas foram observadas do lado de fora do aeroporto, onde milhares de afeg�os se aglomeram desesperados. Mas, desta vez, foram os militares americanos que atiraram para o alto, conta Mohamed, t�cnico de uma empresa internacional que conseguiu o visto franc�s para ele, a esposa e os seis filhos.

"Quando descemos do �nibus, algumas pessoas se misturaram ao grupo, com a esperan�a de entrar no local a salvo dos talib�s. Ent�o, os franceses come�aram a dizer aos americanos (que protegiam a entrada), apontando para n�s: 'ela est� conosco, ele, n�o; ele est� conosco, ela, n�o'", recorda.

"Quando entramos no aeroporto nos sentimos seguros", diz Mohamed. Mas o al�vio foi breve para alguns.

Maryam, com dois filhos, procurava o terceiro, que deveria ter entrado na embaixada com sua tia antes dela. Em v�o. Seu marido, um alto funcion�rio do governo afeg�o, negou-se a acompanhar a fam�lia por "medo de ser assassinado na rua" pelos talib�s, conta.

- "N�o tinha outra op��o" -

Apesar do al�vio de saber que est�o a salvo, tristeza e culpa dominaram muitos durante a viagem.

Omar teme por seus pais, que, segundo ele, correm grande perigo por sua culpa. "Os talib�s j� haviam aparecido na nossa casa. E falaram para eles: 'Se n�o nos entregarem seu filho, vamos matar voc�s'".

Mohamed chora, desesperado por ter "abandonado" o pai, o irm�o e a irm�. "Mas n�o tinha outra op��o", suspira. "Em 1996, quando os talib�s chegaram ao poder, me prenderam. N�o quero isso para os meus filhos".

Maryam respira. O marido conseguiu levar o filho para Mazar-i-Sharif, grande cidade do norte perto da fronteira com o Uzbequist�o, porque tinha um visto para este pa�s. "Est�o a caminho de Tashkent, capital uzbeque. Mas, quando voltarei a v�-los?", questiona.


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